Cidades

Polícia do DF avalia pistola que dispara dardo paralisante

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postado em 20/11/2008 08:20
Ao prender o suspeito de um furto, o policial tenta contê-lo à força e acaba agredido. Em seguida, saca o revólver e dispara contra o homem desarmado. O tiro atinge o abdômen do rapaz, que cai no chão. O policial o algema, coloca no camburão e o leva para a delegacia mais próxima. Segundo especialistas em segurança, uma vida foi preservada e, com o suspeito detido, o crime poderá ser apurado com mais precisão e ele terá garantido o amplo direito de defesa na Justiça. [VIDEO1] A cena descrita parece improvável com as atuais opções de armas disponíveis para a maioria dos policiais do país. Por isso, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) estuda uma nova opção. Trata-se de uma pistola que dispara um dardo paralisante, que mantém o suspeito contido até ser algemado. Segundo especialistas, armas não letais como essa devem ser oferecidas aos policiais cotidianamente. Mas há controvérsia em relação à segurança do armamento. A pistola em questão é batizada de taser (pronuncia-se têiser), fabricada nos Estados Unidos e presente em 48 municípios brasileiros. Nos EUA, 600 departamentos de polícia a incluíram no cinto dos policiais. ;Lá, no dia da formatura, o agente de segurança recebe o distintivo, um notebook, algemas, lanterna, uma pistola .40 e uma taser;, conta Paulo Luz, representante do fabricante. Vendida com exclusividade para o poder público, a arma é adotada por guardas municipais, pela Justiça Federal, por alguns tribunais regionais do trabalho e pelas polícias da Câmara e do Senado. A PMDF criou uma comissão para emitir um parecer sobre o utensílio. O grupo ainda não concluiu as análises. ;Já usamos outras armas não letais, como bombas de gás lacrimogênio e bala de borracha. Nos preocupam os efeitos colaterais da taser em pessoas com distúrbios cardíacos;, afirmou o coronel Civaldo Florêncio da Silva, chefe do centro de comunicação social da PM. A polícia da capital federal teme que o disparo da arma cause danos a pessoas que utilizam marcapasso. O fornecedor contesta o temor da PMDF. Para isso, apresenta um estudo do Instituto do Coração de São Paulo (Incor-SP), apresentado no Congresso Brasileiro de Cardiologia do ano passado. Os médicos autores da pesquisa estudaram os efeitos da pistola em 579 voluntários saudáveis que aceitaram ser alvo dos disparos. As reações relatadas foram ;incoordenação neuromuscular (efeito desejável) completa; em 99,6% dos casos e parcial em 0,4%. Ou seja, todos os voluntários sofreram algum efeito paralisante da musculatura. O efeito indesejável mais freqüente foram abrasões (arranhões, ferimentos leves) em decorrência dos efeitos elétricos, verificado em 61% dos voluntários. Outros tiveram alterações visuais parciais (0,04%), acidentes por queda (0,17%), tonturas e perda de consciência (0,7%). Os autores escreveram que a aplicação do taser ;não causou danos detectáveis;, mas explicam que ainda falta analisar os eletrocardiogramas e marcadores bioquímicos dos voluntários. Onda T A munição do taser é acionada por nitrogênio, em vez da pólvora presente nas armas de fogo. Um fio mantém o projétil ligado à arma, permitindo que o policial controle os disparos que paralisam a pessoa atingida. Mesmo depois do disparo, o policial pode acionar a arma toda vez que o preso tentar reagir. Sempre que apertar o gatilho, a pessoa contida recebe uma onda T, similar aos impulsos elétricos que fazem com que uma ordem saia do cérebro e se converta no movimento de algum membro. A onda interfere no impulso do organismo e paralisa os músculos da vítima. O custo de um conjunto completo, com pistola, coldre, munições e o data kit (dispositivo que armazena informações de cada disparo) custa, em média, R$ 3,5 mil reais. Segundo Paulo Luz, mais caro do que uma pistola Glock .40. No entanto, explica o representante da taser no Brasil, a indenização a alguém ferido pela arma de fogo de um policial em ação pode custar muito mais. Senado usou três vezes Desde 2006, todos os agentes da polícia legislativa do Senado Federal têm uma taser na cintura. O policiamento ostensivo é feito com o modelo M26, que leva oito bateria recarregáveis e tem mira a laser. Já a escolta de autoridades, como o presidente da casa, conta com o modelo X26, mais discreto. Tem cerca de metade do tamanho da M26. A munição é a mesma para as duas versões e é apresentada conforme a distância que pode alcançar: 4,5m, 6,4m, 7,6m ou 10,6m. ;O uso de armas de fogo é proibido na casa;, explica o diretor da polícia do Senado, Pedro Ricardo Carvalho. Segundo ele, o equipamento já foi disparado em três ocasiões. Numa delas, um homem discutiu e quis agredir um policial na biblioteca. Foi contido com a taser. A segunda envolveu um vândalo que tentava destruir placas de sinalização. A terceira teve como alvo uma pessoa que tentou invadir a gráfica do Senado. ;Em todas, a situação foi resolvida com preservação da integridade física dos delinqüentes e dos policiais;, afirmou Carvalho. Segundo Pedro Ricardo, mais significativo foi o episódio da invasão da Câmara por integrantes do Movimento de Libertação dos Trabalhadores Sem Terra, em 2006. Quinze policiais evitaram que 500 pessoas passassem de uma casa para outra. ;Posicionei meus policiais na divisa do Senado e da Câmara, no Salão Azul, e ordenei que abrissem os paletós para que as pistolas ficassem à vista. Os manifestantes não passaram para o lado de cá;, completou. Quando guardada no coldre, a taser fica parecida com uma arma de fogo. Visualmente, o que a diferencia é o cano quadrado e mais grosso que o de uma pistola. Há elogios e ressalvas O Correio ouviu dois especialistas em segurança pública sobre o uso da taser. Ambos concordaram com os benefícios do equipamento, como a preservação de vidas e a redução do risco de lesões em policiais. O coronel José Vicente da Silva Filho, ex-comandante da PM de São Paulo e ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, disse que muitas vezes o policial acaba lutando com o suspeito e pode acabar lesionado. ;Como se enfrenta um sujeito com um sarrafo na mão? Já vi uma situação na TV de policiais japoneses fugindo de uma situação dessas;, disse. O coronel Vicente elogia a possibilidade de se auditarem todos os disparos realizados pela pistola. Um dos modelos permite que se instale uma câmera de vídeo no cano da arma e tem um chip que registra até mil disparos. O professor Ignácio Cano, especialista do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) concorda com os benefícios do equipamento não letal. Ele defende que os policiais carreguem vários equipamentos que lhe permitam o emprego crescente de força dependendo da situação. No entanto, ressalva que, para se adotar a taser, são necessárias mudanças na cultura policial do país. ;Com equipamentos como esse, é preciso uma cultura de solução do conflito.; Outra questão levantada por Cano é a legitimidade da instituição que avalia o uso de armas. ;Essa tarefa não pode ser feita pela própria polícia ou pelo fornecedor. Tem que ser de responsabilidade de instituições independentes, como organismos internacionais e universidades;, afirma.

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