Cidades

Animais do Le Cirque são transferidos mais uma vez

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postado em 21/11/2008 08:45
Os animais apreendidos no Le Cirque e abrigados no Zoológico de Brasília estão sendo agora redistribuídos para outros viveiros. E todos particulares. Os bichos do circo, entre eles elefantes e girafas, foram alvos da fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Distrito Federal há três meses. Depois de uma guerra judicial, o Ibama conseguiu recuperá-los quando já tinham ido para outras regiões. Na época, foi montada uma grande operação de resgate para trazê-los de Mato Grosso do Sul de volta à capital federal. A história parecia resolvida quando as espécies foram finalmente acomodadas no Zoológico de Brasília. Mas, agora, o caso volta a provocar polêmica com acusações de irregularidades na destinação dos bichos e novas denúncias contra o circo. Os animais estão sendo levados para locais privados que tiram proveito financeiro, como um hotel-fazenda em Santa Catarina. Por outro lado, os empresários do Le Cirque são investigados pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro e trabalho escravo. Os animais não poderiam ser transferidos do Zôo sem autorização da Justiça Federal. Segundo decisão do juiz federal de Mato Grosso do Sul Renato Toniasso, em 21 de agosto, ;os animais ficarão hospedados no Zoológico de Brasília, sob a responsabilidade do Ibama, e não poderão ser removidos sem autorização deste Juízo, uma vez que, conforme já dito, estão vinculados a este processo.; No entanto, a procuradoria do Ibama conseguiu decisão da Terceira Vara Criminal no Distrito Federal autorizando a remoção de quatro elefantes asiáticos. Três vão para o Cattoni Park Hotel Salete, em Santa Catarina, e um para o Zooparque Itatiba, no estado de São Paulo. Dois já foram transferidos há 10 dias, sem alarde, em carretas durante a madrugada, para não chamar a atenção dos advogados do Le Cirque. O Ibama confirmou ao Correio que os outros dois elefantes serão removidos nos próximos dias, mas não divulgou a data exata para evitar confronto com os representantes do circo. Depois dos elefantes, serão as girafas. Os animais apreendidos (veja arte) correspondem a um patrimônio de R$ 6 milhões, do qual o Le Cirque não pretende abrir mão. O circo contratou experientes escritórios de advocacia em Brasília e outros estados para recuperar os animais ou, pelo menos, receber indenização pelos danos. O circo, no entanto, é acusado pelo Ibama de crime ambiental por maus-tratos aos animais. Um dos sócios chegou a ter prisão preventiva decretada, que acabou revogada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Entre as espécies apreendidas, algumas correm risco de extinção, como o rinoceronte branco, que vale pelo menos US$ 350 mil (cerca de R$ 830 mil). Ele veio de um circo da Itália, há 15 anos. Como hoje está proibida a importação de animais exóticos, o rinoceronte vale ainda mais em exposições ao público. E será ele que ocupará agora o recinto quando os elefantes deixarem o Zôo brasiliense. ;Ele ficará bem melhor acomodado, precisa de mais espaço;, afirma o coordenador de Fiscalização de Fauna do Ibama nacional, Antônio Gamme. A justificativa para a transferência dos elefantes foi ;o comportamento agressivo; que passaram a apresentar no Zoológico de Brasília. Segundo consta em documentos do Ibama e do próprio Zôo, os animais começaram a se bater contra o muro e se agredir mutuamente. E que isso começou, ;coincidência ou não;, depois de uma visita de um do donos do Le Cirque ao local. Difícil adaptação Documento do Ibama de 7 de novembro, a que o Correio teve acesso, alerta que ;os recintos do Zôo de Brasília foram adaptados para receber provisoriamente os animais e que, apesar de serem mais adequados do que os do Le Cirque, não são ideais para garantir o bem-estar e a segurança dos animais. No texto, pede-se ;a transferência urgente; dos bichos. Funcionários do Zoológico, que pediram para não ser identificados, informaram ao Correio que os elefantes representavam perigo e dificuldade de adaptação desde o dia em que chegaram. O Ibama explica que há pouquíssimos locais com condições de abrigar animais do porte de elefantes. A fiscalização chegou a negar que os bichos estavam sendo transferidos para despistar os advogados do Le Cirque. ;Os advogados do circo tentam sabotar as nossas operações, coagiram testemunhas. Negamos que estávamos transferindo os animais, num primeiro momento, para garantir a segurança deles. Faremos escolta se preciso e não queremos abater ninguém a tiros no meio do caminho;, diz Antônio Gamme. ;Por que os animais não foram transferidos para outros zoológicos públicos? Que critério se baseou um servidor do Ibama para direcionar os elefantes para este determinado local e sem publicidade? É no mínimo suspeito. E só a Justiça Federal teria competência para autorizar a remoção;, observa o advogado do Le Cirque, Valter Xavier. Foi pedido exame de DNA para a devida identificação dos animais na hora da transferência, o que não foi realizado. ;E se aparecer apenas a carcaça e disserem depois que é de um dos elefantes? Como teremos certeza?;, questiona o advogado. O Ibama explicou que não há zoológicos públicos em condições para abrigar os elefantes. ;Ninguém está vendendo animal. Nosso critério não é se o lugar é público ou privado. É se tem condições técnicas de garantir o bem-estar aos bichos;, afirma Gamme. O diretor do Zoológico de Brasília, Raul Gonzalez, garante que está apenas cumprindo as decisões do Ibama e da Justiça. ;Concordo que os elefantes ficarão melhor alojados nesses outros locais. No caso do rinoceronte, estamos dispostos a realizar as adequações necessárias para que ele permaneça aqui conosco.;

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