Cidades

Professor da UnB é acusado de racismo

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postado em 23/11/2008 11:52
Um jogo de truco regado a cerveja, na noite de quinta-feira, no Centro Acadêmico de Geologia da Universidade de Brasília (UnB), acabou em briga entre alunos e professor. O caso foi parar na 2ª Delegacia de Polícia da Asa Norte. Segundo os universitários que estavam no local , o docente não gostou de perder a partida e entrou em bate-boca com o aluno vencedor, que revidou uma tentativa de agressão física. No meio da confusão, o professor teria ofendido um outro estudante que é negro. A discussão resultou numa queixa crime por racismo contra o acadêmico na polícia. Segundo o estudante Jesus Vieira, 25 anos, o professor José Eloi Guimarães Campos chamou um de seus amigos de ;crioulo; e ;cotista oportunista;. Ele contou que o professor tem um histórico de brigas e que é conhecido por reprovar muitos alunos. José Eloi fez questão de reforçar, na briga, que era um professor rigoroso na disciplina de Hidrologia e teria afirmado: ;reprovo mesmo;. Na discussão, acusou um outro aluno Daniel Lopes Pêgo, de 24 anos, de ter se beneficiado irregularmente no curso. Daniel é amigo de José e não estava presente na hora. Jesus conta que o professor teria feito xingamentos racistas contra seu amigo. Quando soube que tinha sido citado e ofendido, Daniel decidiu dar queixa à polícia e procurou José Elói para tomar satisfações. A notícia chegou a Daniel por telefone. ;Fui atrás de José Eloi e ele negou. Disse que não é racista e que sua ex-mulher é negra. Além disso, alegou que sabe que eu entrei na UnB em 2003, antes do sistema de cotas, portanto;, relatou o estudante que não se satisfez. Daniel passou a sexta-feira atrás de testemunhas. Jesus e outro colega Allan Brito aceitaram ir até a 2ª DP e denunciar o professor. O estudante também vai entregar uma denúncia ao Núcleo de Promoção da Igualdade Racial, da UnB. ;Vou colocar tudo no papel. O Jesus e o Allan vão assinar também. Já me disseram que o documento será enviado para a direção do Instituto de Geologia e para a reitoria;, afirmou. Procurador pelo Correio, o professor de geologia José Eloi confirmou que houve uma discussão, mas negou de forma veemente que tenha usado as palavras ;crioulo; ou ;cotista oportunista;. Na versão do professor, a divergência era sobre as novas regras que a faculdade tinha criado, neste semestre, para o curso de hidrologia, e que Daniel tinha se beneficiado de forma irregular. Ele acusou Daniel de freqüentar o curso com carga horária reduzida, especialmente para alunos reprovados no semestre anterior. E Daniel estava indo às aulas pela primeira vez. Não atenderia o pré-requisito. ;Se ele levar cinco testemunhas contra mim, eu levo 10 para negar a versão;, afirmou. José Eloi desconversou sobre o jogo de truco. Segundo ele, estava num ;ambiente festivo, um happy hour; no Centro Acadêmico de Geologia. Admitiu que todos beberam cerveja e que era um evento de arrecadação de fundos para a formatura dos alunos. ;Estou surpreso com essa acusação. Ocorreu algum ruído de informação. Contaram uma história para Daniel que não é verdadeira. E ele nunca foi meu aluno;, reforçou. ;Sou próximo aos alunos e não discrimino ninguém, seja negro ou japonês.; Reprovação Segundo os estudantes, a matéria de hidrologia é oferecida todos os anos, mas apenas no primeiro semestre. ;Este ano, como muita gente acabou reprovada, a coordenação do curso resolveu oferecer a disciplina no segundo semestre, para não atrasar a formatura;, contou Allan Brito Nunes, 22, que testemunhou a confusão no centro acadêmico. Segundo os alunos, o professor ficou enciumado por não ter sido escolhido para ministrar a cadeira a partir de julho. Os melindres do professor teriam sido motivados no fato de Daniel ter solicitado à coordenação para cursar hidrologia agora, mesmo sem ter se matriculado no semestre passado. Incomodado, José Eloi teria dito no meio do bate-boca para os amigos de Daniel ouvir: ;Ele é um cotista oportunista, aquele crioulo;. Ontem à tarde, a reitoria da UnB ainda não tinha sido comunicada oficialmente da denúncia. O secretário de Comunicação da instituição, professor Luiz Gonzaga Motta, disse que ;tudo já começou errado porque o consumo de bebidas alcoólicas no câmpus é proibido;. O reitor José Geraldo de Sousa Júnior disse que os fatos serão apurados e, se confirmados, será instaurado um procedimento ético disciplinar. Sousa disse que acredita que o estudante deve estar convicto do que denunciou. ;Ele não faria uma falsa comunicação à polícia em sã consciência;, analisou. O reitor acrescentou que tudo tem que ser apurado com muito cuidado. ;O melhor é que isso nunca aconteça, mas se acontece, o processo tem que estar muito bem assentado;, disse José Geraldo que é doutor e professor da Faculdade de Direito da UnB. ;Esse tema hoje é um pressuposto de políticas públicas de direitos humanos no país e a universidade adotou uma ação afirmativa de inclusão racial com o sistema de cota;, disse.

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