Cidades

Homem usa a internet para se aproximar de mulheres e viver às custas delas

;

postado em 02/12/2008 08:10
A Polícia Civil do Distrito Federal procura um homem acusado de seduzir mulheres pela internet para aplicar-lhes um golpe. Ele se apresenta como jornalista chileno e diz se chamar Rafael Alejandro Mella Latorre, com 59 anos. O contato com as vítimas é feito em salas de bate-papo até encontrá-las pessoalmente. Quando tem sucesso, vai morar na casa delas e passa meses sendo sustentado pelas mulheres, até fugir com dinheiro, aparelhos eletrônicos ou jóias. Alejandro teria aplicado o golpe em, pelo menos, duas brasilienses, entre maio e novembro deste ano. Além disso, teria feito vítimas em outros países da América Latina, como a Argentina. A professora aposentada Vera*, 60 anos, registrou queixa contra Latorre na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), no último dia 17. Divorciada, ela conta que os dois se corresponderam pela rede durante um ano, até que, em junho, marcaram um encontro no Setor Hospitalar Sul. Com um mês de namoro Latorre se mudou para a casa de Vera, em Sobradinho. ;Ele disse que morava de favor no apartamento de um amigo, mas teria que devolver o imóvel e não tinha onde ficar. Acabou indo lá para casa;, contou a professora. O casal viveu junto durante quatro meses. Latorre dizia ser professor universitário, mas não ajudava nas contas da casa. Contava ter sido torturado no Paraguai e ter uma indenização para receber. No começo de novembro, disse à namorada que o dinheiro tinha sido liberado e, no dia 7, viajou para receber o pagamento. Teria levado emprestados um notebook, máquina fotográfica, modem, malas de viagem, aparelho de MP4 e webcam, além das roupas que ganhara de Vera. Nunca mais voltou. A professora calcula que, juntos, os equipamentos valem R$ 10 mil. ;Ele era supereducado, uma pessoa fina e gentil. Mas, na verdade, tenho raiva de mim por ter entrado em uma dessas;, reconheceu. Agentes da Deam estão tentando localizar Latorre, mas, até agora, não há pistas. A delegada chefe-adjunta, Adriana de Oliveira Aguiar, é cautelosa para falar do golpe. Por enquanto, a ocorrência está registrada como ;em apuração; e não há crime caracterizado. ;Nosso objetivo é encontrá-lo para ouvir a versão dele dos fatos. Ela pode estar alegando que ele levou bens dela, mas que, na verdade, eram comuns do casal;, disse. A polícia também vai entrar em contato com outras vítimas de Latorre. No DF, pelo menos uma outra mulher foi enganada. A servidora pública Maria Amélia*, solteira, 55 anos, também conheceu o ;jornalista chileno; pela internet, em fevereiro deste ano. Ele dizia morar em Cutitiba (PR), mas veio a Brasília em maio para conhecê-la. Mais uma vez, depois de alguns encontros ele foi morar com Maria Amélia. ;Ele não tinha um centavo. Dizia que o dinheiro tinha sido roubado no caminho. Achei que com ele lá em casa o conheceria melhor;, afirmou. Para a servidora, Latorre contou que estava esperando receber o pagamento por um trabalho feito no Paraguai e fazia promessas para quando recebesse o dinheiro. ;Ele queria casar comigo de qualquer jeito. Era um gentleman;, lembrou. Quando começou a desconfiar das histórias, Maria Amélia passou a questioná-las. Latorre, então, deixou a casa dela em 3 de julho, na mesma época em que saía com Vera. Rafael Latorre é conhecido fora do Brasil. Na internet, há um blog criado em 2006, e atualizado até hoje, por outra mulher enganada. O site é chamado de ;El que las hace las paga; (o que se faz se paga) e é assinado por uma mulher de 50 anos, que se identifica como ;Dama de la luz;. O Correio localizou ainda uma quarta vítima, Marta Susana Pacho, 56 anos, que mora em Buenos Aires. Ela contou que conheceu Latorre em 2004, também pela internet. Quando se encontraram, ele contou que havia sido roubado e viveu na casa dela por dois meses. ;Ele me jurou amor eterno. Emprestei dinheiro e ele viveu de graça na minha casa durante todo esse tempo. Se foi com a desculpa de que ia fazer uma entrevista e jamais voltou. Levou algumas coisas que tinham mais valor afetivo que material;, contou a mulher. Colaborou Rodrigo Craveiro * Nomes fictícios a pedido das entrevistadas Memória Internet como arma A internet foi criada para diminuir as distâncias e facilitar a comunicação. Mas, por ser um território livre e sem censura, também virou ferramenta de crimes. No ano passado, um brasiliense foi o primeiro processado por injúria e racismo cometidos no site de relacionamentos Orkut. O acusado acabou absolvido Justiça. No mesmo site, uma gangue de meninas da Asa Sul ameaçou e coagiu uma garota de 13 anos, que beijara o ex-namorado de uma das acusadas. Elas criaram uma página só para fazer injúrias e ameaças contra a vítima. A Delegacia da Criança e do Adolescente conseguiu identificar e localizar todas as envolvidas. Em novembro de 2007, uma operação da Polícia Civil acabou com os ataques virtuais de dois hackers no DF. O brasiliense Rogério de Carvalho, 32 anos, e o paraense Acácio Costa Silva Filho, 21, foram presos em um quarto de hotel no momento em que fraudavam contas-correntes de clientes de três bancos. Segundo a polícia, a dupla fazia parte de uma quadrilha especializada em golpes pela internet suspeita de movimentar até R$ 64 mil todos os meses. Em março do ano passado, foi preso o golpista Kléber Ferreira Gusmão Ferraz, 37, que conhecia suas vítimas em salas de bate-papo na internet e no Orkut. Depois de conquistar a confiança das mulheres, ele as convenceu a vender apartamentos, comprar carros e até pagar a conta da escola dos filhos. Para impressionar as vítimas, Kléber se passava por agente do serviço secreto de Israel, o Mossad. A uma das vítimas ele propôs um pacto de morte. A técnica judiciária Maria Aparecida Lima da Silva, 38 anos, ingeriu veneno em uma suíte do Bay Park Hotel e acabou se matando. Segundo a polícia, induzida por Kléber.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação