postado em 03/12/2008 07:50
Os moradores do Lago Norte e Varjão que tiveram seus cachorros testados para a detecção da leishmaniose poderão retirar os resultados, disponibilizados pela Secretaria de Saúde, a partir de hoje. A entrega terá início às 9h30 e seguirá até sexta-feira próxima nos centros de saúde das duas cidades. Caso seja comprovada a contaminação do animal, a determinação do Ministério da Saúde é que os cães sejam sacrificados. Em caso de recusa dos proprietário em entregar o cachorro, a secretaria entrará na Justiça com o pedido e busca e apreensão do animal.
Cada centro de saúde terá a presença de um técnico da Divisão de Vigilância Ambiental que dará orientações sobre os procedimentos no caso de o resultado ser positivo para o protozoário. Segundo a Secretaria de Saúde, 20% dos proprietários de animais testados já retiraram os resultados. Dos 5.474 cães examinados no Lago Norte, 1.017 deram positivo. Na Fercal, em Sobradinho, foram examinados 1.224 animais, com 176 positivos e no Varjão, 658 animais, com 76 confirmações até agora. No total de 7.356, 1.269, ou 17%, estão contaminados.
A princípio, o dono do animal terá 30 dias para entregar o cachorro para o sacrifício na Zoonoses ou contratar um médico veterinário para realizar o trabalho. Quem quiser fazer novos exames para confirmar a infecção terá a orientação de um profissional da secretaria, mas precisará arcar com as despesas dos novos testes. Aqueles que não retirarem os resultados até a sexta-feira serão informados pelo telefone dos resultados.
Para a divulgação dos laudos dos animais da Fercal, a tática usada pelos técnicos da vigilância ambiental será outra. Na próxima semana, eles farão visitas nas casas com cachorros examinados para fazer a entrega dos laudos em mãos. ;Lá é uma área pequena, mas as residências ficam muito espalhadas, então optamos pela realização das visitas;, afirma o técnico veterinário da Vigilância Ambiental Péricles Massunaga. Ele afirma que os animais não serão retirados sem a autorização dos proprietários. ;Não vamos tirar os cachorros dos braços de ninguém;, garante.
No entanto, aqueles que se recusarem a entregar o animal para o sacrifício poderão ser obrigados a fazer isso por meio de ordem judicial. Os advogados da Secretaria de Saúde entrarão com uma argumentação no Poder Judiciário pedindo autorização de busca e apreensão dos animais doentes. ;A gente não pode entrar na casa da pessoa para retirar o animal, mas entendemos que essa é uma questão de saúde pública e precisamos zelar pela segurança do cidadão;, avalia o advogado da secretaria Luis Guilherme Queiroz Vivacqua.
O Rifi, método utilizado pela secretaria para a detecção da doença, é alvo de críticas por parte de alguns veterinários. Eles alegam que a forma escolhida favorece o erro porque pode acusar a doença em razão de reações cruzadas com outros males e aconselham a realização de contraprova em caso de resultado positivo. ;Essa sorologia que o governo faz é falha e acusa positivo em cachorros com a doença de carrapato e outros problemas hormonais ou fúngicos. Não aconselho a fazer a eutanásia sem antes assegurar que o cão está realmente contaminado;, diz Denise Salgado, especialista em patologia clínica pela Universidade de São Paulo (USP).
A veterinária também defende que as pessoas que têm condições possam ter o direito de tratar seu animais. ;Apesar de não haver cura, existe tratamento e a pessoa deve ter o direito de tentar salvar seu animal;, defende. A Associação Protetora dos Animais do Distrito Federal (Pro-Anima) também recomenda que todos os diagnósticos positivos sejam submetidos a contraprova.
Apego
Os moradores do Lago Norte sabem do mal que a leishmaniose pode causar. Mas a maioria prefere nem pensar na hipótese de ter seu animal de estimação infectado. ;Ele é como se fosse um membro da família. Cuidamos dele com toda a atenção do mundo para que nada de mal lhe aconteça;, disse a empresária Leila Lane Lima, 53, enquanto passeava com Luca, seu poodle de um ano e meio de idade.
O cão é o primeiro de pequeno porte da empresária. ;Temos um rotwailler de seis anos;, acrescentou ela. Os dois cachorros tiveram o sangue coletado há dois meses por técnicos da Secretaria de Saúde. O resultado do exame apontará se há ou não reagentes à leishmaniose. ;Prefiro nem imaginar se der positivo, porque não consigo imaginar em ficar sem o Luca. Mas acredito que não dará porque nossos cães são muito saudáveis e higiênicos. Nós nos preocupamos em tratá-los assim;, disse Leila.
A servidora pública Maria Aparecida Melo Matias, 51, ainda não sabe como dizer ao filho que se os cães que possuem em casa estiverem infectados serão sacrificados. ;Eles são nossos amigos, nossos companheiros. Quando o Brother quer comida e não damos atenção, ele vem atrás, educadamente, como se estivesse pedindo;, disse ela, referindo-se ao seu boxer, de 8 anos.
ONDE PEGAR O LAUDO
# Centro de Saúde do Lago Norte ; QI 3, Área especial
# Centro de Saúde do Varjão ; Quadra 5, conjunto A
Dias: de hoje até sexta-feira próxima
Horários: das 9h30 às 12h e das 13h às 16h
Após esse prazo, os donos de animais serão avisados do resultado por meio de uma ligação da Secretaria de Saúde
Telefones para tirar dúvidas: 3343-1268 e 3344-0784
entenda o caso
Cachorro é hospedeiro
A leishmaniose é uma doença causada por um protozoário encontrado no sangue do animal contaminado. A transmissão ao homem ocorre pelo mosquito-palha, também conhecido como birigüi, que pica o animal doente e, em seguida, o ser humano. No homem, os sintomas incluem febre, mal-estar e inchaço do fígado e do baço. Sem tratamento, a doença pode evoluir para a morte. Segundo informações da Secretaria de Saúde, nos últimos quatro anos foram registrados 15 casos da doença em moradores da Fercal, sendo quatro em 2008.
A determinação do Ministério da Saúde de eliminar todos os cães com sorologia positiva tem provocado polêmica. Alguns veterinários criticam o exame utilizado pela Secretaria de Saúde para a detecção do protozoário e afirmam que mesmo com o resultado positivo para a leishmania, os cães podem não estar infectados.
Em Brasília, algumas clínicas veterinárias oferecem a vacina leishmune, fabricada pela empresa Fort Dodge. A recomendação é que os animais tomem três doses, cada uma a um custo de cerca de R$ 80. O produto, regulamentado pelo Ministério da Agricultura, não é reconhecido pelo Ministério da Saúde como forma efetiva de prevenir a doença.