Cidades

Levantamento do Correio indica que o chileno seduziu 18 mulheres

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postado em 03/12/2008 08:00
O amante latino suspeito de seduzir brasilienses pela internet tem vasto currículo amoroso e criminoso. O Correio identificou 18 mulheres que se corresponderam pela rede com o jornalista chileno Rafael Alejandro Mella Latorre, 59 anos, e acabaram lesadas por ele. O homem pratica o golpe há pelo menos quatro anos em toda a América Latina. Fez vítimas na Argentina, no México, no Peru, na Colômbia e na Venezuela, além do Brasil. Até o mês passado, porém, ele nunca havia sido denunciado à polícia e, por isso, age impunimente até hoje. Com as investigações abertas pela Polícia Civil do Distrito Federal, onde ele enganou pelo menos duas mulheres entre maio e novembro de 2008, será a primeira vez que Latorre poderá ser processado criminalmente. Latorre conhece suas vítimas por um site que promove namoros virtuais, o Clube da Amizade. Ele troca mensagens com elas e as conquista por ser extremamente educado. Depois de algum tempo de conversas pela internet, o homem marca um encontro pessoal e, na maioria das vezes, inicia um namoro real com as mulheres. Aos poucos, envolve as vítimas e acaba indo morar com elas. Passa meses sendo sustentado pelas mulheres até fugir com dinheiro, equipamentos eletrônicos, jóias e até objetos pessoais delas. Normalmente sai da casa de uma mulher diretamente para a de outra. A Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), que recebeu a denúncia da professora aposentada Vera*, 61 anos, vai intimá-la para prestar mais esclarecimentos sobre o caso. Vera teria vivido quatro meses com Latorre, entre julho e novembro deste ano. No último dia 7, ele teria saído de casa com a desculpa de que viajaria ao Paraguai e nunca mais voltou. Teria levado emprestados equipamentos como notebook, máquina fotográfica e aparelho de MP4, que a professora avalia em R$ 10 mil. ;Ele não me roubou porque, de fato, eu emprestei tudo. Mas também não dei nada para ele. Tudo é meu, tenho nota fiscal de todos os equipamentos;, diz Vera. Segundo a delegada chefe-assistente da Deam, Adriana de Oliveira Aguiar, Vera não deu detalhes sobre Latorre na primeira vez que foi à delegacia, no último dia 17. Ela não contou, por exemplo, em que site conheceu o homem e nem deu pistas de como encontrar as outras vítimas dele. Por enquanto, a apuração é conduzida pela Deam, mas a Divisão de Repressão aos Crimes Tecnológicos (Dicate) pode entrar na investigação para dar apoio aos agentes. A divisão tem pessoal preparado para vasculhar computadores do suspeito e sites da internet usados por ele e, assim, pode ajudar a localizá-lo. Segundo o chileno Marcelo Alejandro Araya Palacios, irmão de uma das vítimas, Latorre também teria uma vasta ficha criminal: teria ficado preso no Paraguai pelo envolvimento com o assassinato do general Anastazio Somoza, um ditador da Nicarágua assassinado em Assunção, capital paraguaia, em 1980. Além disso, estaria envolvido na Operação Condor, que tinha o objetivo de de eliminar as pessoas de esquerda da América Latina. As outras vítimas localizadas pela reportagem argumentam que nunca denunciaram Latorre à polícia porque, de uma forma ou de outra, emprestaram os pertences a ele ou presentearam-no com roupas e dinheiro. ;No meu país, às vezes as pessoas não fazem denúncias nem em casos mais graves porque é muito enrolado. Não sei dizer exatamente em quanto ele me prejudicou, mas ele levou vários livros da minha casa que tinham mais valor para mim do que monetário. Mas eu também emprestei dinheiro e comprei roupas para ele. Ele prometeu devolver tudo, mas não havia nenhum documento firmado e não se pode fazer uma denúncia aqui assim;, conta a argentina Marta Susana Pacheco, 56 anos, moradora de Buenos Aires que se relacionou com Latorre em 2004. Atenção Usuários da rede mundial de computadores devem estar atentos. Crimes cometidos pela internet estão cada vez mais comuns desde o início dos anos 2000. Dados do Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (Cert.br) mostram que, até setembro deste ano, cerca de 400 brasileiros caíram em golpes e fraudes virtuais todos os dias. Em nove meses, foram 108.283 denúncias, apenas 51 mil a menos que o total de registros de todo o ano passado (160.080). Metade dos ataques reportados são fraudes, como roubos de senhas bancárias e clonagem de cartões de crédito e documentos. O diretor-adjunto da Dicate, José Luiz Gonzalez, lembra que, na internet, todo cuidado é pouco. Gonzalez recomenda que as pessoas evitem dar, para desconhecidos, muitas informações pessoais por e-mail, salas de bate-papo ou pelo site de relacionamento Orkut. ;Na internet, você nunca sabe quem está do outro lado. A gente vê muito as pessoas colocarem toda a vida privada online e isso se torna informação preciosa para quem está mal intencionado. As informações da rede estão disponíveis para o mundo todo.; *Nome fictício a pedido da entrevistada

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