Cidades

Viciados em crack cometem crimes para comprar a droga

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postado em 07/12/2008 08:15
O crack leva à morte. Mas não apenas em conseqüência do uso descontrolado. O vício da droga derivada da cocaína também provoca assassinatos no Distrito Federal. Nos últimos cinco meses, dois jovens moradores de Brasília foram executados no Plano Piloto por dívidas com traficantes. Perderam as vidas cedo ao cometerem erros imperdoáveis no mundo do crime. Morreram a poucos quilômetros de distância do centro das principais decisões políticas e econômicas do Brasil. A primeira morte por acerto de contas com traficantes envolveu um morador da Asa Norte. O rapaz de 25 anos foi torturado antes de ser executado com cinco tiros, em 10 de julho. A polícia só encontrou o corpo dele 28 dias depois, em área de cerrado virgem do Setor Militar Urbano (SMU). Devido ao avançado estado de decomposição dos restos mortais, o reconhecimento formal da vítima se deu após exame de arcada dentária. O enredo completo dessa história acabou de ser escrito pelos agentes da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte). A investigação aponta que o jovem morreu por causa de um roubo para pagar dívida de R$ 1,1 mil com traficantes que mantinham uma boca-de-fumo de crack em meio à mata fechada do Parque Ecológico Burle Marx, na 912 Norte. O morador da Asa Norte era freqüentador assíduo do lugar. Como consumia mais droga do que podia comprar, acumulou o débito. Segundo a polícia, em uma das idas ao ponto, a vítima viu onde um deles guardava o dinheiro do tráfico. Voltou ao local sem ser visto e furtou o dinheiro. A dependência do crack era tão grande que decidiu usar a mesma quantia levada horas antes. Ele desconhecia, no entanto, que o bandido dobrava as notas entregues pelos clientes de uma forma peculiar. Assim, ao comprar mais algumas pedras, o traficante logo viu quem o havia surrupiado. Com a ajuda de quatro comparsas, o dono da boca amarrou o usuário a uma árvore próxima. O grupo o espancou com socos, pauladas e coronhadas. O rapaz ainda tentou fugir depois que os criminosos se afastaram para consumir droga. Soltou-se do tronco e correu pelo meio do mato, mas acabou perseguido e encurralado pelos bandidos. Valtemar Silvestre Ferreira de Almeida, 24, conhecido como Caçula, é acusado de tê-lo matado com cinco tiros. Por medo, os familiares da vítima não dão entrevista e pedem para manter o nome do jovem em sigilo. Na ativa Dos cinco suspeitos do assassinato, quatro estão presos. Entre eles, o próprio Caçula e Inácio Soares de Jesus, 30, o Lala, responsável por outra boca-de-fumo no Parque Burle Marx. A prisão da dupla e o cercamento de boa parte do parque, no entanto, não puseram fim ao tráfico e ao uso de crack na área verde ao longo da parte oeste da Asa Norte. Tanto que na noite do último dia 21 policiais da 2ªDP prenderam uma das irmãs de Caçula vendendo crack no mesmo local antes mantido pelo traficante. A mulher foi pega em flagrante com uma criança de colo, filha dela. Na semana passada, o Correio esteve no local durante o dia e encontrou vestígios de que o ponto de venda da 912 Norte voltou à ativa. Havia latas de refrigerante novas, mas amassadas e com pequenos furos por todos os cantos. As latas são usadas para o consumo da pedra. O usuário queima a droga dentro dela e puxa a fumaça pelos buraquinhos, feitos geralmente com um prego ou ponta de chave. Perto dali, na altura da 911 Norte, bem atrás da Vara da Infância e da Juventude (VIJ), há outra boca ativa. Também em meio à mata fechada, ela pertence a um traficante identificado como Domilson. A ação do bandido, que geralmente só trabalha ao anoitecer, é acompanhada por agentes da 2ªDP, que, recentemente, desmontaram outro ponto no mesmo lugar da Asa Norte. Porém, nessa ocasião, o traficante acabou preso por porte de arma, pois os policiais não conseguiram flagrá-lo com a droga. Semana passada, durante a madrugada, o Correio encontrou carros estacionados no lote vago que dá acesso ao parque e ao ponto de venda da 911 Norte. A equipe do jornal viu os motoristas descerem, deixarem os veículos sozinhos, se embrenharem na mata e após alguns minutos voltarem. Policiais militares que faziam ronda na região pararam para verificar a movimentação e constataram se tratar de usuário de crack. Ninguém foi preso. Pedradas O segundo caso de morte por dívida de crack na capital do país ocorreu na maior região de tráfico e uso da mais nova droga presente no DF. Uma jovem de 18 anos morreu assassinada a pedradas em um terreno baldio da área central de Brasília. O crime ocorreu no Setor Bancário Norte na madrugada de 4 de novembro. Um motorista encontrou o corpo por volta das 9h. A garota estava nua e coberta por um lençol. Ao lado dela, policiais encontraram algumas peças de roupas, como calça preta, camisa social azul, calcinha e um par de chinelos. A investigação, realizada pela 5ª Delegacia de Polícia (área central), confirmou o envolvimento da vítima com o consumo de crack. Segundo a polícia, a jovem freqüentemente se prostituía para manter o vício. Há informações de que cobrava apenas R$ 20 para manter relações sexuais na zona central da cidade. O preço do programa revela o desespero dela para comprar as pedras. ;Soubemos que alguns a chamavam de 24h. Eram 24 horas usando crack e 24 horas na pista (na prostituição);, afirmou um dos agentes responsáveis pelo caso. Os investigadores prenderam dois suspeitos de participação no homicídio. Eles não confessaram o assassinato, mas deram detalhes da rotina da vítima na região central do Plano Piloto. A garota, por exemplo, morava na rua. Também havia perdido o vínculo com a família. Desconfia-se até que ela tenha nascido em uma família de classe média de Taguatinga ou de Samambaia ; nenhum parente dela foi encontrado para confirmar a história. Os dois homens detidos ficarão presos pelo menos até sair o resultado de exames de DNA feitos a partir da coleta de materiais biológicos retirados do corpo da vítima. O resultado pode ser a prova que falta para ligar um dos dois suspeitos ; ou os dois ; ao crime. ;Temos certeza de que ela foi morta por uma dívida de droga. Comprou crack fiado e não pagou;, contou o delegado-adjunto da 5ª DP, Marco Antônio de Almeida. VÍDEO FLAGRA VENDA E USO Cenas de tráfico e consumo de crack na área central do Plano Piloto também foram filmadas pelo repórter-cinematográfico André Corrêa, do www.correiobraziliense.com.br. Ele acompanhou a equipe do jornal por uma noite, no Conic e no Setor Comercial Sul. Flagrou crianças, mulheres, adolescentes e adultos fumando a pedra. [VIDEO1]

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