postado em 09/12/2008 08:20
Princípios de desmaios, náuseas e uma vontade insaciável de beber água. O vendedor desempregado Pedro Henrique dos Santos, 19 anos, sentiu tudo isso após deixar o Hospital Regional de Samambaia (HRS) na manhã de sábado. Ele sentia que algo não estava certo. De madrugada, havia recebido quatro facadas no caminho de volta para casa. E, apesar de ter suturado todos os ferimentos no centro hospitalar, não conseguia se livrar do mal-estar. O pai do jovem, o autônomo Pedro de Jesus Reis Dias, 40 anos, decidiu levar o filho ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC) para ver o que estava errado. Uma passagem pela máquina de raios X revelou o problema: um pedaço da faca que feriu Pedro Henrique havia ficado esquecido, alojado dentro da cintura do paciente.
O rapaz precisou passar por uma cirurgia para retirar o objeto cortante do corpo. E ficou indignado com a falta de cuidado da equipe médica do HRS. ;Isso me deixa horrorizado. Imagina se ocorre algo mais grave comigo, como uma hemorragia interna;, reclamou Pedro Henrique. Até ontem, ele estava internado no hospital de Ceilândia. A previsão é que receba alta médica hoje pela manhã. A família do jovem, igualmente abalada, pretende mover uma ação contra o hospital de Samambaia por erro médico. ;Acho absurdo o que fizeram. Não podiam costurar meu filho sem analisar o ferimento;, defendeu Pedro de Jesus.
O diretor do Hospital Regional de Samambaia, Cláudio Bernardo Pedrosa de Freitas, teve conhecimento da situação pela reportagem do Correio. ;Ainda não fomos formalmente acionados pela família do paciente. Também não tive a oportunidade de conversar com o médico que tratou o rapaz para esclarecer o caso;, afirmou Freitas. Ele adiantou que uma sindicância pode ser aberta para analisar o caso pelo conselho de ética ou pelo Conselho Regional de Medicina. O Correio não conseguiu entrar em contato com o médico responsável pela sutura.
O pedaço de faca retirado do corpo de Pedro tinha de 6cm a 8cm de comprimento, de acordo com familiares da vítima. O fragmento, que ficou preso ao osso da bacia do jovem, foi embalado e enviado para o Instituto de Medicina Legal (IML) para análise.
Para o promotor de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde do DF, Diaulas Ribeiro, o caso não é tão grave do ponto de vista dos procedimentos. ;Não se costuma fazer raios X em vítimas de esfaqueamento. A menos, é claro, que o paciente ou alguém que presenciou o fato relate que a faca quebrou durante o ataque. Sem esse relato, fica difícil para o médico perceber a existência de um fragmento no ferimento. Dependendo da área prejudicada, a lâmina pode sumir de vista em meio aos tecidos;, argumentou.
Discussão
Pedro Henrique levou quatro facadas após se desentender com outro jovem em uma confraternização na madrugada de sábado. ;Chegou um camarada, de má reputação, que me pediu dinheiro para comprar drogas. Como não sou usuário nem apoio o uso de entorpecentes, avisei que não ia ajudá-lo. Ele não gostou;, lembrou o rapaz. Pedro Henrique contou que discutiu com o rapaz três vezes depois disso e que ficou um clima ruim na festa. ;Mas uma amiga minha disse que estava tudo bem, que não ia dar problema;, detalhou. O jovem decidiu voltar a pé para casa por volta das 4h, mas não foi longe. Na altura da QR 633, um carro tentou atropelá-lo. O homem com quem tinha discutido saiu do veículo. ;Ele me atacou e revidei. Não vi que ele tinha uma faca. Só senti os golpes depois.; Pedro seguiu para a casa de uma vizinha, que o levou para o HRS. O jovem contou que foi rapidamente atendido, mas que o médico não analisou devidamente os ferimentos.
;Ele só me deu uma anestesia e costurou as feridas;, afirmou. Segundo o rapaz, o ferimento voltou a sangrar quando chegou à parada de ônibus. Por isso retornou ao hospital para ver se não havia nada errado. ;Mas me mandaram de volta para casa de novo porque eu já tinha sido atendido;, concluiu. Ele disse ter preferido não prestar queixa contra o homem que o esfaqueou por medo de represálias.