postado em 09/12/2008 08:45
Quais são as chances de uma carteira perdida parar nas mãos de alguém honesto o suficiente para devolvê-la? O motorista Sebastião Alves Ferreira, 48 anos, morador de Águas Lindas (GO), deu sorte: um ano, um mês e um dia depois de perder R$ 330 e todos os documentos pessoais, recebeu os bens de volta, intactos. A carteira sumida estava guardada na gaveta de Edson Rodrigues da Costa, 43 anos, que passou 398 dias em busca do dono. No último sábado, os dois se encontraram e Sebastião recuperou o dinheiro.
O motorista não esperava reaver a carteira tanto tempo após tê-la perdido no estacionamento do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), na 516 Norte. Suspeita-se que o objeto tenha caído enquanto ele caminhava até um supermercado no final da Asa Norte. Os R$ 330 que ele carregava serviriam para quitar uma conta de R$ 328 na loja. Na hora de pagar, ele se deu conta de que não estava com o dinheiro. A quantia já havia sido encontrada por um vigia do TRT, que a entregou a Edson da Costa, chefe do apoio administrativo do tribunal. O dinheiro equivale a 22% do salário de Sebastião, de R$ 1,5 mil.
Os esforços para localizar o proprietário da carteira começaram no mesmo dia. Com o nome completo, identidade e CPF de Sebastião em mãos, Edson tentou descobrir algum número de telefone. Recorreu aos registros de pessoas envolvidas em processos no tribunal, mas não conseguiu pistas. ;Aí, começou meu drama. A carteira tinha alguns endereços e telefones, mas ninguém quis passar os dados dele. Deixei recados e nunca retornavam. O tempo foi passando e a minha preocupação era porque tinha dinheiro também;, lembrou Edson. Ele preferiu não entregar a carteira à polícia para garantir que o montante fosse entregue intacto.
A carteira passou um ano lacrada em um envelope, escondida em uma gaveta. Edson pediu a ajuda de conhecidos para buscar informação sobre Sebastião por meio do CPF, mas nada deu certo. Enquanto isso, o motorista teve que pegar dinheiro emprestado com um amigo para pagar a conta do supermercado. Ele pediu a segunda via de todos os documentos ; inclusive da velha carteira de identidade, emitida em 1979 ;, e deu o dinheiro por perdido para sempre.
Na última sexta-feira, a boa notícia. Edson pediu ajuda a um professor e policial civil, que encontrou Sebastião e marcou o encontro entre os dois. Seria no sábado, durante o encerramento do curso que Edson fazia. Sebastião chegou a se emocionar quando recebeu a carteira intacta: uma nota de R$ 100, quatro de R$ 50, uma de R$ 20 e cinco de R$ 2. O montante está guardado e ainda não tem destino certo. ;No mundo de hoje, as pessoas só querem levar vantagem sobre os outros, mas ele apareceu com esse ato de heroísmo. Precisamos pegar esse exemplo;, elogiou Sebastião. O determinado Edson garante que nunca pensou em gastar a quantia nem parar de procurar pelo dono. ;Não conseguia me ver usando aquele dinheiro. E a carteira tem uma história, eu pensava em quanto o dono devia ganhar por mês;, disse Edson.
Achados e perdidos
Documentos perdidos podem ser entregues à polícia ou em agências dos Correios. O serviço de achados e perdidos dos Correios recebe carteiras de identidade, cartões de banco, certidões, passaportes, títulos de eleitor, entre outros. Os documentos são guardados por 60 dias ; depois disso, são encaminhados ao órgão emissor. Só nas agências do Distrito Federal existem 62.694 itens aguardando retirada. De janeiro até agora, mais de 391 mil documentos deram entrada nas agências e cerca de 343 mil voltaram aos donos. Pouco mais de 17 mil estão lá há mais tempo que os dois meses permitidos e serão enviados aos órgãos responsáveis.
Para localizar algum item perdido, basta fazer uma busca com o nome do proprietário no site www.correios.com.br, no tópico ;Achados e Perdidos;. Para a retirada, é preciso comprovar ser titular e pagar taxa de R$ 3,30.
Memória
Um advogado de 66 anos perdeu uma maleta com R$ 2,5 mil em uma agência do Banco do Brasil do Núcleo Bandeirante na tarde da última sexta-feira. O dinheiro foi encontrado por um homem de 30 anos, que entregou toda a quantia no Posto Comunitário de Segurança 38, no Guará 1. Na maleta, havia uma conta de telefone, que ajudou a localizar o dono. O valor seria usado para despesas com um imóvel.
Em janeiro deste ano, a faxineira Damiana Dourado, 41 anos, encontrou um embrulho com US$ 1.694 e 24 jóias de ouro na QE 32 do Guará 2. A faxineira entregou na delegacia o tesouro, que pertencia a uma funcionária pública.
Um dos exemplos de civilidade mais conhecidos de Brasília é o do auxiliar de serviços gerais Francisco Basílio Cavalcante. Em março de 2004, ele achou uma bolsa de couro no banheiro do aeroporto com documentos e US$ 10 mil. Os pertences eram de um turista suíço que fazia conexão na capital. Com o gesto, o morador de Céu Azul (GO) ganhou uma promoção no trabalho e se encontrou com o presidente Lula.