Cidades

Calote de empresa de turismo vira caso de polícia

;

postado em 27/12/2008 08:14
A dona da agência Mix Turismo, Laura Senatore, é investigada pela polícia pelo crime de estelionato. A 5ª DP, responsável pela área central de Brasília, instaurou inquérito para apurar as denúncias de que a mulher teria dado calote em cerca de 50 clientes que fecharam pacotes turísticos na agência, mas não receberam os serviços pelos quais pagaram. A delegacia quer intimar a empresária para depor, mas, até agora, ela não foi encontrada. A Mix, que fica no Hotel Kubitschek Plaza, no Setor Hoteleiro Norte, passou o dia fechada ontem. E o telefone celular de Laura estava desligado. Além de enfrentar um processo criminal, a empresária terá que se explicar perante o Procon, que multará a agência de viagens. Desde que o Correio publicou matéria denunciando o caso, na última quarta-feira, as vítimas da Mix Turismo foram à 5ª DP para registrar ocorrência. Cerca de 10 pessoas já compareceram à delegacia e as denúncias estão sendo anexadas a um mesmo processo. No início da tarde de ontem, agentes da polícia tentaram fazer um flagrante, mas não conseguiram. Uma das clientes lesadas conseguiu falar com Laura e marcou um encontro com ela às 14h, na agência. A consumidora avisou à polícia, que a acompanhou até o Setor Hoteleiro Norte. O objetivo era levar a mulher para prestar esclarecimentos na delegacia, mas Laura não apareceu. A sede da Mix passou todo o dia de ontem fechada. Um homem que se identificou como advogado de Laura esteve na delegacia na manhã de quarta-feira e ficou de apresentar a acusada no dia seguinte. ;Mas ele não voltou mais e o telefone que temos dela só cai na caixa de mensagens;, contou o delegado cartorário da 5ª DP, Leandro de Castro Folly. Segundo o delegado, o caso está sendo investigado, mas ainda é cedo para falar em quanto a empresária lucrou ao lesar os clientes. ;A gente pede para que possíveis vítimas venham à delegacia e registrem ocorrência. Assim, poderemos saber como ela agia e quanto ela movimentava;, disse. Briga judicial Ao ler a edição de terça-feira do Correio, o casal Alessandra*, 28 anos, e Rogério*, 30, decidiu se certificar de que a viagem para Buenos Aires, durante o carnaval de 2009, estava confirmada. Eles procuraram a companhia aérea e descobriram que a passagem, que havia sido comprada em agosto por intermédio da Mix Turismo, não havia sido paga. ;Só a reserva estava feita;, conta Alessandra. Eles nem quiseram saber se o hotel estava de fato reservado e foram à delegacia para registrar ocorrência. O pacote de Alessandra e Rogério saiu por R$ 2.670 e eles dividiram o pagamento em cinco vezes. Quatro parcelas já foram compensadas e o casal sustou o último cheque. ;Nosso prejuízo financeiro foi pequeno se comparado ao de outros, mas ela acabou com nossas férias. Desistimos de ir para Buenos Aires e vamos entrar na Justiça para reaver todo o nosso dinheiro;, afirmou Rogério. Eles procuraram a Mix por indicação de um casal de amigos, que havia fechado a viagem de lua-de-mel deles com a agência, mas acabou levando um prejuízo de R$ 11 mil. Os dois embarcariam quinta-feira para a Europa, mas não viajaram porque as passagens não haviam sido compradas. Na tarde da última quinta-feira, a reportagem conseguiu falar com Laura pelo celular. Ela disse que gostaria de conversar com o advogado dela e pediu para a ligação ser retornada por volta de 11h30 de ontem. A empresária salientou que gostaria de dar entrevista para esclarecer o problema. ;Agora não posso dizer nada;, disse, ainda na quinta-feira. No horário combinado, o Correio ligou, mas o celular estava desligado. A reportagem também tentou encontrá-la na Mix Turismo, mas a empresa estava trancada com cadeados. Até o fechamento desta edição, inúmeras ligações foram feitas, mas caíam direto na caixa postal do celular da empresária. Laura sumiu até no mundo virtual. Desde ontem, seu perfil foi deletado do Orkut, a página de relacionamentos na internet. Desde maio de 2008, clientes enganados registram reclamações contra a empresa no Procon. Em todo o ano, são cinco queixas, feitas em maio, agosto, novembro e duas no último dia 24. A Mix já foi notificada pelos dois casos mais antigos, teve um prazo para se defender, mas não convenceu o Procon. ;A agência será multada, o setor jurídico está calculando o valor, que pode ser de R$ 212 a R$ 3 milhões. O preço aumenta na medida em que a empresa é reincidente. Se acontecem casos iguais em tão pouco tempo, não tem jeito, temos que multá-la;, disse o diretor do Procon, Ricardo Pires. Durante anos, a família do advogado Félix Palazo, 51 anos, sonhou em passar o Natal reunida. No começo do ano, eles viram a possibilidade de o plano ser concretizado: se encontrariam em Salt Lake City, nos Estados Unidos, onde mora uma cunhada do advogado. Os preparativos para a viagem começaram em janeiro e, em fevereiro, eles compraram as primeiras passagens, do trecho Brasília-Nova York. Pagaram os bilhetes com intermédio da Mix Turismo. Agora que já estão nos Estados Unidos, descobriram que não têm como voltar para casa. O grupo é composto por 27 pessoas, todas da mesma família. São irmãos, sobrinhos, filhos e os pais de Félix. Todo mundo comprou as passagens pela Mix. O plano da família era visitar ainda Orlando durante o passeio. Eles embarcaram no último dia 18, rumo a Nova York. Em Brasília, já passaram por transtornos. ;Chegamos no guichê de atendimento e não havia passagens compradas em nosso nome. Ligamos para a Laura (Senatore, dona da agência) e ela resolveu o problema. Falou com um superintende da companhia aérea e ele autorizou a emissão dos bilhetes. Achei estranho, mas pensei que era apenas um erro;, contou Félix Palazo ao Correio, por telefone. A dor de cabeça continuou quando tentaram embarcar de Nova York para Salt Lake, no último dia 22. Mais uma vez, as passagens não haviam sido pagas. Foi assim que eles descobriram o calote. ;Tivemos que pagar mil dólares, cada um, para passar Natal com minha cunhada. Os vôos estavam todos lotados, tivemos que viajar de primeira classe;, disse o advogado, que precisou pagar os bilhetes em dinheiro porque o limite do cartão de crédito dele estava estourado. Apesar de não ter comprado as passagens da família, a agência de viagens debitou R$ 17 mil no cartão dele. ;Nem sei do que são esses gastos.; A família pretendia sair de Salt Lake City em 5 de janeiro para conhecer Orlando. A volta para o Brasil ocorreria em 14 de janeiro. Eles já verificaram na companhia aérea e as reservas para Orlando também não estão pagas. ;Estou revendo se vou para Orlando, tudo isso me desorganizou. Perdi minhas férias tentando resolver o problema. Nem sei como vai ser a viagem de volta, ainda não consegui ver se as passagens foram compradas;, afirmou o advogado. O prejuízo da família, assim como o dinheiro embolsado por Laura, ainda é incalculável. Só Félix pagou R$ 15 mil a ela pelas passagens dele, da esposa, dos quatro filhos e do genro. A isso, soma-se o débito de R$ 17 mil no cartão de crédito e o dinheiro gasto com as passagens de Nova York para Salt Lake City e de Salt Lake City para Brasília, que ainda serão compradas. ;Essa mulher é uma bandida. Ela fez mal para todo mundo, não só pelo dinheiro. Estamos emocionalmente abalados, já houve muito choro nessa família. Ela acabou com nosso sonho.; (GR)

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação