Cidades

Mais de 200 pessoas registram ocorrência contra a Impacto Turismo

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postado em 30/12/2008 08:30
Passar o réveillon na praia, ao som de axé. Ou aproveitar o sol e o mar do badalado distrito de Arraial D;Ajuda, a 5km de Porto Seguro. Esses eram os planos de pelo menos 500 brasilenses que deixaram a capital de ônibus ou de avião rumo à cidade baiana. Mas, ao chegar, descobriram que não tinham onde dormir. A agência de turismo não havia feito a reserva nas pousadas nem comprado ingressos e abadás para os shows da virada de ano. A volta para casa de muitos também não estava garantida. Delegado-chefe da 3ª DP fala sobre calote As vítimas acusam a Impacto Turismo de estelionato. O Correio apurou que pelo menos 200 pessoas registraram ocorrência contra a empresa na Delegacia do Turista de Porto Seguro. ;Essas pessoas não ficaram na rua porque os donos das pousadas tiveram dó. Algumas pagaram pela hospedagem de novo;, informou a delegada-chefe da Delegacia do Turista, Tironite Bezerra. Em Brasília, o grande número de ocorrências também chamou a atenção. Foram 21 registros em 24 horas ; das 16h de domingo às 16h de ontem;, na 3ª DP (Cruzeiro). A maioria os reclamantes são parentes de jovens que tentavam aproveitar as férias na Bahia. Os assistentes sociais Jurema Peixoto, 58, e Roberto Freire, 63, pagaram R$ 1.662 para que a filha Sabrina, 25, viajasse de avião com o namorado para Arraial D;Ajuda. ;O pacote incluía passagens de ida e volta, traslado e hospedagem. Mas quando eles chegaram, tiveram que pagar um táxi e a balsa para chegar à cidade;, contou Jurema. A mãe da jovem contou ainda que ligou para a pousada contratada pela empresa para abrigar a filha, a fim de confirmar a reserva. ;A gerente disse que só receberam 40% do pagamento e que não iam segurar as vagas. Tivemos que nos responsabilizar pelo pagamento do restante. Pagamos em dobro;, reclamou. Reincidente A Impacto Turismo está registrada em nome de Rafael Oliveira de Carvalho, 23 anos, e de Marcos Thiago Pereira, 37. Segundo a delegada, Marcos Thiago é meio-irmão do dono da marca de uma grande rede hoteleira, com empreendimentos em Porto Seguro (BA) e Caldas Novas (GO). Durante toda a tarde o Correio tentou falar com Marcos em três números de celulares fornecidos por vítimas e pela polícia. Um deles caía numa gravação indicando que estava indisponível. No outro, a caixa de mensagens estava lotada. E no terceiro, o telefone não estava ativado. A reportagem também tentou localizá-lo em um dos hotéis da rede, em Porto Seguro. Davi Lustosa, gerente regional da marca, informou que o último contato que teve com Marcos ocorreu há um ano. O pai de Rafael Oliveira, o outro sócio, é o funcionário público Carlos Roberto Matos. Ele disse ter desembolsado R$ 30 mil no pagamento de três ônibus. Acreditava que era a única pendência. ;Eu não sei o que ocorreu. Consegui falar com o Marcos e ele garantiu que os pagamentos restantes seriam feitos. É só o que sei;, afirmou. Carlos Roberto espera a chegada do filho para entender a confusão. ;Ele está voltando de ônibus, só com a roupa do corpo. Revoltadas, as pessoas tomaram as coisas dele. Não acredito que ele sabia de todas essas pendências. Teria que ser um demente para ir junto com o grupo e correr o risco de ser linchado;, ressaltou. De acordo com a delegada Tironite Bezerra, não é primeira vez que Marcos tem o nome envolvido num golpe. Em 8 de janeiro deste ano, a dona de uma pousada em Arraial D;Ajuda denunciou um caso parecido. Naquela data, o grupo era de 52 pessoas. Segundo o boletim de ocorrência, Marcos, então dono da Athenas Turismo Ltda, localizada na Asa Norte, pagou 50% do valor da reserva à dona da pousada. A outra metade seria depositada quando o grupo chegasse à cidade, o que não ocorreu. Para não ficar no prejuízo, a dona reteve o ônibus até que o depósito fosse feito. Marcos teria enviado comprovante do depósito. ;Mas ele depositou os envelopes vazios. Não tinha dinheiro dentro. A polícia de Brasília tem que ir atrás desse cara;, afirmou Tironite. A princípio, o delegado-chefe da 3ª DP, Aluizio de Carvalho, trabalha com a hipótese de estelionato ; crime caracterizado pela obtenção de vantagem ilícita para si em prejuízo alheio. De acordo com ele, em janeiro deste ano, a dupla Marcos e Rafael foi alvo de uma série de denúncias pelo não cumprimento de contratos firmados no nome da Impacto Turismo. ;Nossas equipes estão em busca dos responsáveis. Eles terão que provar que não se trata de estelionato, como indicam provas e testemunhos;, afirmou. Caso condenados pelo crime, os dois podem pegar até oito anos de prisão. Carvalho orienta as vítimas a procurarem a Justiça ou o Procon para reaver os danos morais e financeiros causados pelos donos da agência, que fica AOS 8, próximo ao Terraço Shopping. Fique atento Para evitar problemas com agências de viagens são necessários alguns cuidados antes de escolher a empresa prestadora dos serviços # A relação entre o cliente e o agente de viagem se baseia na confiança. Por isso, procure referências de pessoas que já conheçam os serviços da empresa, como familiares e amigos que viajaram anteriormente # Consulte a Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav) ou o Sindicato das Empresas de Turismo do DF (Sindetur) para ter informações sobre o histórico da agência. Telefone: 3223-1247. # Verifique se os serviços oferecidos em fôlderes e no contrato condizem com a realidade da viagem. Caso sejam de qualidade inferior, fotografe ou recolha outras provas para reivindicar o prejuízo junto aos órgãos responsáveis, como o Procon (telefone: 151). # Em caso de suspeitas sobre o pacote, ligue para verificar se os serviços oferecidos estão assegurados. Telefone para averiguar se as reservas do hotel foram confirmadas e faça o check in no aeroporto o quanto antes, por exemplo. Fontes: Abav-DF e Polícia Civil. Dona da Mix depõe Acusada de uma ação semelhante à da Impacto Turismo, a empresária Laura Senatore, dona da Mix Turismo, atribuiu à alta do dólar a culpa pelo não cumprimento dos contratos com mais de 25 clientes. O grupo pagou por viagens nacionais ou internacionais e não pôde embarcar ou só descobriu no destino que não tinha reserva em hotel. Acompanhada do advogado Marcelo Ribas, ela prestou depoimento ontem, na 5ª DP (Setor Bancário Norte). De acordo com o delegado-chefe adjunto Marco Antônio de Almeida, a empresária garantiu que pretende ressarcir os clientes e por isso acionou um escritório de advocacia para auxiliá-la. ;Ela disse que precisaria de R$ 120 mil para quitar as dívidas e garantir as férias de quem fechou os pacotes, mas que não tem de onde tirar o dinheiro;, afirmou. Até as 16h de ontem, havia pelo menos seis boletins de ocorrência registrados contra a Mix Turismo, totalizando 15 vítimas. Apesar de aparecerem como estelionato, a empresária não está indiciada. ;Precisamos de provas. Todas as vítimas serão chamadas para depor. Queremos concluir o inquérito em 30 dias;, afirmou. Ao sair da delegacia, Laura foi surpreendida por uma oficial de Justiça que lhe entregou uma intimação a respeito de um processo aberto contra a Mix Turismo pelo advogado Fabiano Augusto. Fabiano iria viajar no início de janeiro para os Estados Unidos com um amigo. Cada um teve prejuízo de US$ 3.818. Laura e o advogado Marcelo Ribas deixaram a delegacia sem dar entrevistas. Uma relação de confiança Faltam critérios para a abertura de agências de viagem no Distrito Federal e fiscalização sobre as empresas de turismo existentes na região. A afirmação é do presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav-DF), João Zisman, que critica a escassez de ações do Estado para garantir a segurança dos usuários de serviços do ramo, que chega a aumentar 20% nesta época do ano. Hoje, o único registro obrigatório para abrir o negócio é o cadastro no Ministério do Turismo. ;A inclusão pode ser feita via internet e depois é só entregar a documentação. Qualquer um pode virar agente de viagem da noite para o dia, o que deixa os clientes vulneráveis à ação de pessoas de má-fé. Isso é uma irresponsabilidade;, opinou. O cadastro no governo federal deve ser renovado anualmente, mas, de acordo com o representante da Abav-DF, não existe qualquer tipo de controle sobre as empresas. ;Não há fiscalização, mas estamos tentando mudar esse quadro. Há um projeto de lei na Câmara Legislativa para mudar os critérios de abertura de agências. Se aprovado, vai trazer mais segurança aos clientes;, observou João. Atualmente há cerca de 550 agências de viagem no DF. Dessas, 127 estão ligadas a entidades representativas, como o Sindicato das Empresas de Turismo do DF (Sindetur). De acordo com Zisman, a falta de estrutura para a prestação do serviço ; que deveria ser proporcionada pela Secretaria de Turismo local ; faz com que clientes dependam da relação de confiança na negociação com os agentes. O Correio entrou em contato com a Brasíliatur para repercutir o assunto, mas não obteve resposta. Cuidados O delegado-chefe da 3ª DP, Aluizio de Carvalho, alerta para os cuidados necessários antes de escolher a agência de viagem. Responsável pelas investigações do não cumprimento de contrato entre a Impacto Turismo e cerca de 500 brasilienses que viajaram para a Bahia neste fim de ano, ele conta que é difícil evitar cair em golpes de supostos empresário do ramo. ;Uma dica é ligar para os hotéis e confirmar se as vagas estão reservadas e confirmar a programação oferecida antes de fazer o pagamento;, aconselhou. O presidente da Abav-DF afirma que buscar a opinião de pessoas que já tenham usufruído dos serviços da agência também pode evitar transtornos. ;É preciso conhecer a história e a credibilidade da empresa. Se o cliente se sentir lesado, deve procurar o Procon;, disse João Zisman.

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