Cidades

Dono da Gol indiciado por mais um assassinato

;

postado em 30/12/2008 17:50
Conhecido como Nenê Constantino, o empresário Constantino de Oliveira, 78 anos, acaba de ser indiciado como mandante de mais um assassinato e de uma tentativa de homicídio. Ele é fundador da Gol Linhas Aéreas e dono do grupo Planeta de transportes urbanos, o maior do ramo na capital da República. Os crimes ocorreram no Distrito Federal, em 9 de fevereiro de 2001, e teriam sido motivados por disputa de terras. O anúncio foi feito na tarde dessa terça-feira (30/12) pelo delegado Luiz Julião Ribeiro, chefe da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), da Polícia Civil do DF. O caminhoneiro Tarcísio Gomes Ferreira morreu com quatro tiros. Ele havia trabalhado como motorista de ônibus da Planeta. José Amorim dos Reis, pintor autônomo, sobreviveu aos dois tiros. Ambos tinham 42 anos à época da emboscada, ocorrida por volta das 19h, em uma barraca de sanduíches e bebidas, no terreno onde funcionava a garagem da antiga Viação Pioneira, na QI 25 de Taguatinga. A empresa pertence ao grupo Planeta. Julião Ribeiro concluiu que Constantino mandou matar Tarcísio ; José Amorim acabou atingido por estar próximo do alvo, segundo a polícia ; com base nos exames de balística feitos pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil do DF. As balas que atingiram as duas vítimas são as mesmas que saíram o revólver calibre .38 usado na execução de Márcio Leonardo de Sousa Brito. O líder comunitário morreu aos 27 anos, em outubro de 2001. A Corvida indiciou Nenê Constantino, no último dia 10, pela morte de Márcio Leonardo. O motivo seria a disputa pelo terreno da Viação Pioneira. Constantino planejou a morte do líder comunitário por um ano, segundo a polícia. O homem liderava as mais de 100 pessoas que moravam no terreno onde funcionava a garagem da Pioneira. O grupo ocupava a área desde 1990. Nenê movia ação de despejo contra eles, mas só conseguiu a terra de volta após a morte de Márcio. Todos haviam comprado os lotes fracionados por outro ex-empregado do grupo Planeta, que Constantino autorizara morar de favor no prédio construído no terreno. Márcio morreu com três tiros de revólver calibre .38 ; dois no tórax e outro na perna direita ; a 0h15 de 12 de outubro de 2001, na porta de casa. Para executá-lo, segundo a investigação, o proprietário da segunda maior empresa de aviação do país e do maior número de ônibus urbanos da capital federal deu ordens para os motoristas aposentados João Alcides Miranda, 61 anos, e Vanderlei Batista Silva, 67. Ambos haviam trabalhado na Planeta e ainda prestavam serviços a Constantino. Miranda se passou por morador da invasão para levantar informações sobre os líderes e Silva contratou o pistoleiro, de acordo com a investigação. A delegada Mabel Corrêa, da Corvida, afirmou ontem não ter dúvida de que Constantino está por trás do crime. "Tenho uma série de provas para afirmar isso. A maioria, testemunhal", ressaltou. Além dos depoimentos, ela disse que uma série de eventos contribuíram para o indiciamento de Nenê e os dois ex-funcionários. Entre eles, ameaças de morte contra Márcio e dois incêndios criminosos em barracos da área ocupada. "O Vanderlei, inclusive, foi preso por porte de arma pela Polícia Militar quando acompanhava Constantino em uma visita à área ocupada. Nesse dia, o empresário chegou a trocar socos com os inimigos", contou a delegada. Indenização Na noite de 11 de outubro de 2001, Márcio e os demais moradores da garagem desativada receberam um comunicado que seriam visitados novamente pelo fundador da Gol. "Funcionários de Constantino avisaram que o empresário resolveria o problema naquela noite, pagando indenização a todos", contou a delegada. Márcio dizia que o dono de cada barraco queria R$ 2 mil para deixar o local. O dinheiro corresponderia ao valor pago 11 anos antes ao ex-empregado da Planeta que grilara a área. "Mas não houve reunião naquela noite. Um desconhecido bateu à porta de Márcio e, assim que ele deixou o barraco, recebeu os três tiros", relatou Mabel Corrêa. Pela manhã, um advogado da Planeta foi ao local, acompanhado de outro funcionário montado em um trator, e entregou R$ 500 a cada chefe de família, segundo a investigação. Em seguida, a máquina derrubou todas as moradias. "É mais uma evidência para apontarmos o empresário como mandante do homicídio. Ele fez ameaças diretas, à luz do dia, agrediu pessoas e era o maior beneficiário do crime", destacou a delegada responsável pela apuração na Corvida. A unidade especializada assumiu o caso há cinco anos, após a delegacia da área onde ocorreu o assassinato não ter avançado nas investigações. Mabel Corrêa afirmou ter três suspeitos de serem os executores do homicídio. Mas não revelou o nome. Espera o concluir o inquérito em mais cinco meses. A arma do crime ainda não foi encontrada. O funcionário que ocupou o lote com autorização de Constantino e depois vendeu os lotes morreu de cirrose ; provocada por excesso de consumo de álcool ; um ano após o assassinato de Márcio. João Miranda mora no prédio construído no local do crime. Vanderlei Silva é vereador em Amaralina (GO).

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação