postado em 31/12/2008 07:00
O Brasil acorda amanhã, 1; de janeiro de 2009, escrevendo de outra maneira. É o que manda o acordo ortográfico firmado em 1990 pelos integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) ; Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Timor Leste também assinou, depois, a unificação da grafia da língua, mas os prazos de implantação das novas regras não foram cumpridos e o governo brasileiro sempre adiou as mudanças por falta de adesão de Portugal. Essa situação perdurou até em março, quando Lisboa anunciou o desejo de fazer parte da reforma. Em setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou decreto com o cronograma de aplicação do acordo no país.As edições impressas do Correio Braziliense e do Estado de Minas circulam nesta quinta-feira já respeitando as novas regras. Voo virá sem acento, assim como enjoo. As consoantes siamesas de microondas sofrem uma cirurgia e passarão a andar separadas pelo hífen: micro-ondas O trema desaparece para descansar o u de lingüiça e de tranqüilo. Livres dos dois pontinhos, que há anos carregam nas costas, passarão a ser escritas assim: linguiça e tranquilo. Um boa idéia não terá mais acento grave, será simplesmente ideia. O corretor do computador vai estranhar, mas com o tempo se acostumará. Mas cuidado: a pronúncia é a mesma, com ou sem acento, com ou sem trema.
Se por caso o leitor esbarrar com essas palavras grafadas sem as modificações, não deve se assustar nem considerar um erro. Os brasileiros têm um período de adaptação. Até dezembro de 2012, as duas formas vão caminhar em harmonia e as mudanças não poderão eliminar candidatos em vestibulares, concursos e exames escolares. A reforma ortográfica vai modificar cerca de 3 mil verbetes, o equivalente a 5% das palavras reconhecidas oficialmente no idioma português. O alfabeto, hoje com 23 letras, vai engordar. Ficará com 26, com a incorporação definitiva do k, do w e do y, que sempre viveram à margem, mesmo compondo algumas palavras da língua.
Mas há um rebelde na reforma. É o hífen. Ele, que já castiga tanta gente na atual norma ortográfica brasileira, continuará incomodando. Sua aplicação em algumas palavras que hoje o ignoram ainda não está completamente definida. Seu futuro depende de um documento que a Academia Brasileira de Letras divulgará, provavelmente em fevereiro. Em caso de dúvida, o melhor esperar a publicação dos acadêmicos, que se chamará Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
UMA BATALHA PORTUGUESA,
COM CERTEZA
A luta pela uniformização da grafia da língua portuguesa dura quase um século e a maior resistência a essa proposta foi dos brasileiros. A primeira reforma oficial da língua portuguesa feita por Portugal, em 1911, com o objetivo de criar uma ortografia simplificada modificou profundamente a língua escrita. Entre as mudanças, foram suprimidas muitas consoantes dobradas, como ph, th, rh, entre outras. Os portugueses aceitaram bem as alterações, mas os brasileiros não. Houve muita polêmica no Brasil, mesmo havendo uma corrente favorável à simplificação ortográfica. E os dois países ficaram com escritas diferentes.
A primeira proposta para uniformizar a grafia começou a ser discutida em 1924, entre a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras. Em 1931 foi firmado um acordo preliminar, o qual estabelecia que o Brasil adotaria as mudanças oficializadas por Portugal em 1911. Mas publicações das duas academias no início da década de 1940 ainda continham algumas divergências com relação à linguagem. O desconforto gerado por tal desencontro levou os acadêmicos dos dois países a um novo debate. Mas o consenso estava longe de ser alcançado.
Em 1943, os portugueses promoveram uma convenção da qual resultou o acordo ortográfico
de 1945. Aprovado, o projeto tornouse lei em Portugal, mas não foi ratificado pelo Congresso brasileiro. A primeira aproximação ortográfica só foi ocorrer em 1971. As duas academias chegaram a uma proposta que suprimia os acentos responsáveis por 70% das divergências (nos homógrafos e nos vocábulos derivados com sufixo -mente ou iniciados por -z-).
As negociações avançaram e em 1975 os dois países chegaram a um acordo. Mas, devido a alguns problemas, entre os quais o fato de que Portugal passava por problemas políticos, o projeto não chegou a ser transformado em lei. Mas os acadêmicos não sossegaram e, em 1986, o então presidente do Brasil, José Sarney, intercedeu, promovendo, no Rio de Janeiro, um encontro dos sete países de língua portuguesa na época.
Chegou-se a novo acordo, que não avançou por resistência tanto de brasileiros como de portugueses. O principal motivo do bate-boca era a proposta de supressão de acentos em palavras proparoxítonas, como música/musica, fábrica/fabrica, análise/analise, cópia/copia etc. Mas os acadêmicos não desistiram de eliminar as diferenças da grafia da língua em Portugal e os países africanos daquela que vigorava no Brasil.
Consideravam isso um fator de enfraquecimento do idioma. De debate em debate, surgiu em Lisboa uma nova proposta, que resultou no Acordo Ortográfico de 1990, considerado mais moderado. Esse projeto, depois de muita discussão e adaptações, entra em vigor amanhã.
A primeira proposta para uniformizar a grafia começou a ser discutida em 1924, entre a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras. Em 1931 foi firmado um acordo preliminar, o qual estabelecia que o Brasil adotaria as mudanças oficializadas por Portugal em 1911. Mas publicações das duas academias no início da década de 1940 ainda continham algumas divergências com relação à linguagem. O desconforto gerado por tal desencontro levou os acadêmicos dos dois países a um novo debate. Mas o consenso estava longe de ser alcançado.
Em 1943, os portugueses promoveram uma convenção da qual resultou o acordo ortográfico
de 1945. Aprovado, o projeto tornouse lei em Portugal, mas não foi ratificado pelo Congresso brasileiro. A primeira aproximação ortográfica só foi ocorrer em 1971. As duas academias chegaram a uma proposta que suprimia os acentos responsáveis por 70% das divergências (nos homógrafos e nos vocábulos derivados com sufixo -mente ou iniciados por -z-).
As negociações avançaram e em 1975 os dois países chegaram a um acordo. Mas, devido a alguns problemas, entre os quais o fato de que Portugal passava por problemas políticos, o projeto não chegou a ser transformado em lei. Mas os acadêmicos não sossegaram e, em 1986, o então presidente do Brasil, José Sarney, intercedeu, promovendo, no Rio de Janeiro, um encontro dos sete países de língua portuguesa na época.
Chegou-se a novo acordo, que não avançou por resistência tanto de brasileiros como de portugueses. O principal motivo do bate-boca era a proposta de supressão de acentos em palavras proparoxítonas, como música/musica, fábrica/fabrica, análise/analise, cópia/copia etc. Mas os acadêmicos não desistiram de eliminar as diferenças da grafia da língua em Portugal e os países africanos daquela que vigorava no Brasil.
Consideravam isso um fator de enfraquecimento do idioma. De debate em debate, surgiu em Lisboa uma nova proposta, que resultou no Acordo Ortográfico de 1990, considerado mais moderado. Esse projeto, depois de muita discussão e adaptações, entra em vigor amanhã.
IDIOMA DE 220 MILHÕES
São 190,3 milhões no Brasil, 10,5 milhões em Portugal e 20 milhões em países africanos e comunidades da Ásia. É o quinto idioma mais falado, segundo o Ministério da Educação (MEC). Em outras palavras, quase 5% da população mundial está diante de uma encruzilhada: as mudanças na escrita, ainda uma grande interrogação na cabeça de estudantes, professores e até de especialistas no assunto. As mudanças vão exigir esforço e dedicação dos interessados em aprender 20 regras e mais de uma dezena de exceções. A ampliação do alfabeto e a extinção do trema dão para tirar de letra. O fim do acento circunflexo nos hiatos êem e ôo também não complica, basta se acostumar à nova grafia de veem, creem, releem e voo, abençoo, perdoo. Já o fim dos acentos diferenciais de pelo, para, polo e pera, por exemplo, gera confusão.
Essa reforma vai chegar com pelo menos um ano de atraso às salas de aula de todo o Brasil. Isso porque as novas regras ortográficas só aparecerão nos livros didáticos a partir de 2010. Segundo cronograma do Ministério da Educação (MEC), os alunos das séries iniciais (1; a 5;) do ensino fundamental vão receber o material escolar reformulado em janeiro de 2010. Os estudantes dos anos finais (6; ao 9;) serão contemplados com a mudança em 2011 e os de nível médio terão que aguardar até 2012.
De acordo com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão vinculado ao MEC, o prazo de entrega do material didático foi calculado com base na necessidade de adaptação das editoras. ;Os livros são comprados para durar três anos. Portanto, estamos seguindo o calendário normal de aquisição e distribuição para as instituições públicas de ensino. Apesar disso, acredito que a reforma deva chegar antes aos alunos, pois todos os meios de comunicação vão adotar as novas regras a partir de janeiro do ano que vem;, explica o diretor de Ações Educacionais do FNDE, Rafael Torino.
Já os novos dicionários, adaptados à reforma ortográfica, serão distribuídos ainda em 2009. Segundo Rafael, o MEC estima investir R$ 90 milhões na compra do material que vai ser entregue a 1 milhão de salas de aula em todo o país, contemplando um universo de 37 milhões de alunos da rede pública. Em Minas, a nova coleção deve chegar às mãos de 3,8 milhões de estudantes dos ensinos fundamental e médio. A compra depende do lançamento de um edital pelo FNDE e o processo licitatório deve ser aberto depois da publicação, pela Academia Brasileira de Letras (ABL), da versão final das mudanças ortográficas.
O governo federal planeja adquirir três kits de glossários. Um para crianças de 6 a 8 anos, em fase de alfabetização, com descrições simples dos significados e um número máximo de 3 mil verbetes. Outro para alunos de até 10 anos, com até 10 mil palavras. E um terceiro, para ser usado dessa idade em diante, contendo de 19 a 35 mil expressões.
Essa reforma vai chegar com pelo menos um ano de atraso às salas de aula de todo o Brasil. Isso porque as novas regras ortográficas só aparecerão nos livros didáticos a partir de 2010. Segundo cronograma do Ministério da Educação (MEC), os alunos das séries iniciais (1; a 5;) do ensino fundamental vão receber o material escolar reformulado em janeiro de 2010. Os estudantes dos anos finais (6; ao 9;) serão contemplados com a mudança em 2011 e os de nível médio terão que aguardar até 2012.
De acordo com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão vinculado ao MEC, o prazo de entrega do material didático foi calculado com base na necessidade de adaptação das editoras. ;Os livros são comprados para durar três anos. Portanto, estamos seguindo o calendário normal de aquisição e distribuição para as instituições públicas de ensino. Apesar disso, acredito que a reforma deva chegar antes aos alunos, pois todos os meios de comunicação vão adotar as novas regras a partir de janeiro do ano que vem;, explica o diretor de Ações Educacionais do FNDE, Rafael Torino.
Já os novos dicionários, adaptados à reforma ortográfica, serão distribuídos ainda em 2009. Segundo Rafael, o MEC estima investir R$ 90 milhões na compra do material que vai ser entregue a 1 milhão de salas de aula em todo o país, contemplando um universo de 37 milhões de alunos da rede pública. Em Minas, a nova coleção deve chegar às mãos de 3,8 milhões de estudantes dos ensinos fundamental e médio. A compra depende do lançamento de um edital pelo FNDE e o processo licitatório deve ser aberto depois da publicação, pela Academia Brasileira de Letras (ABL), da versão final das mudanças ortográficas.
O governo federal planeja adquirir três kits de glossários. Um para crianças de 6 a 8 anos, em fase de alfabetização, com descrições simples dos significados e um número máximo de 3 mil verbetes. Outro para alunos de até 10 anos, com até 10 mil palavras. E um terceiro, para ser usado dessa idade em diante, contendo de 19 a 35 mil expressões.
AINDA FALTA
A UNIFICAÇÃO
A jornalista Dad Squarisi, editora de Opinião do Correio Braziliense e autora do Manual de Redação e Estilo dos Diários Associados, diz, à guisa de curiosidade, que ;o português é a única língua que, nos encontros da Organização das Nações Unidas (ONU), produz duas versões: uma na grafia do idioma no Brasil, outra na de Portugal. Mas a reforma mantém critérios de flexibilidade, ou seja, os portugueses vão continuar escrevendo ;sector;, ;acto;, ;António;, enquanto nós usamos ;setor;, ;ato; e ;Antônio;. Não conseguimos padronizar, uniformizar a grafia;.
Segundo Dad, especialista em língua portuguesa, que também assina a coluna Dicas de Português, publicada em vários jornais dos Associados, os países lusófonos perderam uma boa oportunidade de realmente unificar a grafia. ;Seria preciso mais negociação,discussão e entendimento entre as nações. Eu soube que, antes de assinar qualquer documento, o presidente Lula perguntou em que isso beneficiaria os pobres. Eu digo que a reforma não beneficia a língua, por não ter atingido seu objetivo, e ainda prejudica o pobre. Pais de família que fizeram enorme sacrifício para comprar um dicionário ou uma gramática para os filhos vão agora ter que jogar tudo no lixo.;
Segundo Dad, especialista em língua portuguesa, que também assina a coluna Dicas de Português, publicada em vários jornais dos Associados, os países lusófonos perderam uma boa oportunidade de realmente unificar a grafia. ;Seria preciso mais negociação,discussão e entendimento entre as nações. Eu soube que, antes de assinar qualquer documento, o presidente Lula perguntou em que isso beneficiaria os pobres. Eu digo que a reforma não beneficia a língua, por não ter atingido seu objetivo, e ainda prejudica o pobre. Pais de família que fizeram enorme sacrifício para comprar um dicionário ou uma gramática para os filhos vão agora ter que jogar tudo no lixo.;
"O português é a
única língua que,
nos encontros da
Organização das
Nações Unidas
(ONU), produz
duas versões: uma
no idioma do
Brasil, outra
no de Portugal"
DAD SQUARISI, jornalista
CRONOLOGIA DAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS DA
LÍNGUA PORTUGUESA
.1911
Primeira reforma ortográfica em Portugal, publicada no Diário do Governo, n.; 213, 12 de setembro de 1911.
.1931
Primeiro Acordo Ortográfico por iniciativa da Academia Brasileira de Letras e aprovado pela Academia das Ciência de Lisboa, em Portugal publicado no Diário do Governo, n.; 120, I Série, 25 de maio de 1931.
.1945
Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945 ou Acordo Ortográfico de 1945, adoptado em Portugal, mas não no Brasil. Em Portugal publicado como Decreto 35.228 no Diário do Governo, 8 de dezembro de 1945.
Lei 5.765, de 18 de dezembro, no Brasil, suprimiu o acento circunflexo na distinção dos homógrafos, responsável por 70% das divergências ortográficas com Portugal, e os acentos que marcavam a sílaba subtônica nos vocábulos derivados com o sufixo -mente ou iniciados por -z-.
.1973
Com o Decreto-Lei 32/73, de 6 de fevereiro, em Portugal, suprimiram-se os acentos que marcavam a sílaba subtônica nos vocábulos derivados com o sufixo -mente ou iniciados por -z-, como já se havia feito no Brasil.
.1975
A Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras elaboraram um projeto de acordo que não foi aprovado oficialmente.
.1986
Da reunião de representantes dos, na época, sete países de língua portuguesa no Rio de Janeiro, resultaram as Bases Analiticas da Ortografia Simplificada da Lingua Portuguesa de 1945, renegociadas em 1975 e consolidadas em 1986, que nunca chegaram a ser implementadas.
.1990
De nova reunião, desta vez em Lisboa, resulta um novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, prevista para entrar em vigor em 1; de janeiro de 1994.
.1998
Na cidade da Praia, em Cabo Verde, foi assinado um Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa que retirou do texto original a data para a sua entrada em vigor.
.2004
Em São Tomé e Príncipe foi aprovado um Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico prevendo que, em lugar da ratificação por todos os países, fosse suficiente que três membros ratificassem o Acordo Ortográfico de 1990 para que este entrasse em vigor nesses países.
Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, assina em 29 de setembro as mudanças ortográficas da língua portuguesa no país, que passam a valer a partir de amanhã.
As principais diferenças entre a língua fala em Portugal e nos países africanos estão em algumas consoantes mudas (as que não são articuladas) eliminadas da escrita brasileira e que ainda resistem na dos portugueses. Do outro lados do Atlântico essas palavras ainda são grafadas assim: acção, contacto, direcção, eléctrico e óptimo. No Brasil: ação, contato, direção, elétrico e ótimo.
Confira, abaixo, a íntegra das novas normas da Língua Portuguesa
Confira, abaixo, a edição impressa (parte 1)
Confira, abaixo, a edição impressa (parte 2)