postado em 31/12/2008 07:54
Está cada vez mais próximo o momento de celebrar o início de um novo ano. Hora de abraçar parentes e amigos queridos, brindar com champanhe e fazer promessas para cumprir durante os 12 meses de 2009. Na hora da contagem regressiva, no entanto, muitos brasilienses terão outras preocupações na cabeça além de motivos para comemorar. São as pessoas que trabalham na noite de 31 de dezembro, na maioria das vezes para garantir que tudo corra bem no réveillon de quem está de folga.
São garçons, policiais, bombeiros, médicos, motoristas, seguranças, frentistas e diversos outros profissionais cujo serviço é indispensável, mesmo em datas comemorativas. Alguns já estão acostumados e trabalham satisfeitos, sabendo da importância do que estão fazendo. Outros pegam no batente por obrigação e passam aquelas horas pensando na família, que comemora longe dali. A maioria, no entanto, dá um jeito de parar o que está fazendo na hora da virada, nem que seja por poucos minutos, para dar as boas-vindas ao ano-novo. O Correio conversou com alguns profissionais que já trabalharam ou vão trabalhar nesta noite de 31 de dezembro e mostra suas histórias.
Corridas ;por esporte;
O taxista Geraldo Sebastião da Silva, 56 anos, trabalha na virada por vontade própria. Dono do próprio veículo e motorista há mais de 30 anos, ele procura passageiros na madrugada do último dia do ano para fugir da solidão. ;Minha mulher viaja para o Piauí com os filhos nesta época para visitar a família dela;, relata. ;Eu sempre fico para trabalhar e saio no dia do ano-novo para não ficar sozinho em casa. Seria mais triste;, conta o taxista, que garante não lucrar mais no feriado. ;É morto, pouquíssima gente anda de táxi. Eu saio mais por esporte mesmo;, diz, às gargalhadas. Para ele, Brasília tem ficado mais vazia nos feriados de uns cinco anos para cá. Nem mesmo a lei seca aumenta o número de clientes, de acordo com o motorista. ;O que faz o cidadão andar de taxi não é lei, é dinheiro;, avalia. ;Os bebuns dão outros jeitos, saem com a namorada, pegam carona, pedem para a mãe buscar, mas táxi é a última opção para eles;, conclui Geraldo, que torce por um bom 2009 para a cidade.
Cozinha fraterna
Nas cozinhas de locais que oferecem festas de réveillon o trabalho é intenso. O trio de chefs formado por Cláudio Dias, 35, Willnys Coelho, 32, e Maikel Veras, 28, que o diga. Os três trabalham em um restaurante do Brasília Alvorada Hotel e já viraram madrugadas de ano-novo trabalhando. ;Ralamos bem mais do que nos dias normais;, destaca Willnys. ;Hoje a festa está com a cozinha terceirizada. Mas na última que fizemos, há dois anos, foi uma loucura. Era muito trabalho e pratos novos, que a gente não estava acostumado a fazer;, complementa Cláudio. O trabalho só termina quando o restaurante oferece o café da manhã. Apesar do volume de trabalho, eles não reclamam. ;A gente se sente realizado quando vê tudo pronto, quando vê que ficou bom;, explica Willnys, especialista em sushi. ;O clima a noite inteira é bom, de confraternização;, relata Maikel. O trabalho só pára, por uns dois minutos, na hora da virada, quando todos se reúnem no centro da cozinha e brindam a chegada do ano-novo.
Vista privilegiada
O mensageiro Ricardo Souza Silva, 31, faz de tudo para escapar do plantão de fim de ano e passar a meia-noite com a família, mas nem sempre é possível. Quando precisa ficar no hotel, no entanto, tenta aproveitar o momento. ;É diferente porque você comemora com os colegas, não com os parentes. O clima é diferente, mas não é ruim;, constata. Como trabalha no Hotel Nacional, com vista privilegiada da Esplanada dos Ministérios, Ricardo aproveita para assistir ao ponto alto da festa. ;Subo ao terraço para ver os fogos de artifício. É lindo, um momento para não esquecer;, valoriza.
Celebração ambulante
A vendedora ambulante Marivanda Teixeira dos Santos, 40, também vai trabalhar no ano-novo, mas não pretende perder a festa. Ela vai vender milho na Esplanada no dia 31. Tem outro emprego, mas resolveu se juntar ao marido no fim do ano para melhorar as contas da casa. ;Desde que conheço ele, há mais de 20 anos, ele vende maçã do amor. Por isso, nunca está em casa nessas datas;, conta. ;Desta vez, resolvi me juntar a ele porque a gente ganha mais e comemora juntos;, completa. Até o filho do casal, de 19 anos, deve aparecer no centro da cidade com alguns amigos. ;Vamos passar em família, só que é a gente e outros milhares;, brinca ela, na barraquinha montada em frente à vila natalina.
Titular da enfermaria
O trabalho da técnica em enfermagem Iara Muniz Gomes, 36, é indispensável todos os dias do ano. Ela trabalha na obstetrícia do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e, este ano, vai estar de serviço durante o dia 31 de dezembro. ;Ano passado passei a noite inteirinha lá;, recorda. ;No fundo, no fundo, eu gostaria de estar com minha família nessa data. Chega a dar uma certa tristeza, mas sei que meu trabalho é necessário sempre, e às vezes não dá para escapar de atuar nessas datas;, resigna-se. Na virada de 2007 para 2008, ela viu uma criança nascer três minutos depois da meia-noite. ;O primeiro bebê sempre é muito comemorado por todos. É nosso réveillon;, brinca.