Cidades

Turistas prometem briga na justiça contra agência

Brasilienses lesados pela Impacto Turismo chegam ao DF indignados e repletos de histórias de desrespeito. Muitos pensam em processos coletivos para reaver prejuízos

postado em 05/01/2009 08:37
Os cerca de 400 turistas brasilienses que chegaram de Arraial D'Ajuda (BA) na manhã de ontem (4/01) começam hoje uma guerra na Justiça para tentar reaver os prejuízos causados pela Impacto Turismo durante o réveillon. O calote, tido um dos maiores já registrados pela Delegacia do Turista da cidade baiana, está estimado em R$ 200 mil. A revolta das vítimas e dos familiares marcou o desembarque dos sete ônibus em Brasília, em um dos estacionamentos do Parque da Cidade. Na bagagem, histórias de desrespeito e frustração. ;Ficamos totalmente abandonados, sem nenhum tipo de assistência. Foi a viagem do pesadelo;, disse a psicóloga Paula Rezende, 26 anos (leia depoimento). Estudante Belisa Moura de Ávila, 20 anos, fala sobre a viagem fustrante A psicóloga Paula Rezende, 26, fala sobre o réveillon em Arraial D'Ajuda A aposentada Mirene Rezende, 52, conta a agonia que sentiu no tempo de espera pela filha Paula Alguns dormiram no chão pela falta de pagamento das pousadas, como a estudante Thayene Rezende, 22, moradora do Sudoeste. Outros, como o universitário Mayro Molina, 19, não conseguiram ver os shows pelos quais pagaram R$ 500. Teve ainda quem passasse por quatro hospedarias em três dias, como a estudante Ana Luiza Texeira, 20, e suas amigas. A indignação com a Impacto Turismo era geral. ;Eles (os donos da agência, que fica na AOS 8) são uns irresponsáveis. Pagamos para nos divertir e acabamos largados, dependendo da caridade alheia;, reclamou Belisa Moura, 20, moradora de Sobradinho. Entre os pais, a revolta se misturava ao alívio de ver os filhos. ;A gente estava de mãos atadas. As meninas ficaram no meio do mato, com o ônibus quebrado, sem nenhum responsável da empresa;, contou a aposentada Mirene de Rezende, 52, que vai procurar a Justiça para recuperar parte do dinheiro. ;Estamos nos movimentando para entrar com processos em massa contra a Impacto;, completou. A cabelereira Helena de Oliveira, 45, pagou R$ 1,6 mil para a filha Marcela, 19, aproveitar o fim do ano na praia. Quando soube do calote, sustou três dos quatro cheques que entregou a Marcos Tiago Pereira, 37, um dos sócios da Impacto. ;Vou esperar ele me ligar. Não posso sair no prejuízo;, justificou. Ninguém da empresa apareceu no desembarque. O investimento adicional de cada turista, além do valor pago nos pacotes ; que chegavam a R$ 2,2 mil ;, ficou na casa dos R$ 1 mil. Mesmo com o desembolso a mais, muitos tiveram que dividir quartos com até sete pessoas. Um grupo de meninas deixou uma pousada para não ficar no quarto com desconhecidos. Investigados pela polícia, Marcos e Rafael Carvalho, 23 anos (o outro sócio), permanecem incomunicáveis. O Correio tentou contato com a dupla, mas não obteve resposta. O chefe da 3ª DP (Cruzeiro), Aluizio de Carvalho, deve começar a ouvir as vítimas hoje. ;Se confirmado o estelionato, eles podem pegar até oito anos de prisão;, afirmou. Outro golpe A titular da Delegacia do Turista de Porto Seguro (BA), Teronite Bezerra, deve encaminhar um relatório com as investigações sobre a Impacto para a 3ª DP esta semana. Na especializada, foram registradas mais de 200 ocorrências. ;Foi o maior golpe dos últimos anos;, afirmou. Teronite também apura o envolvimento de outra agência de Brasília em calotes a turistas neste réveillon. ;Recebemos reclamações de 40 clientes. Como no caso da Impacto, os problemas dizem respeito à falta de pagamento de pousadas e de ingressos para shows;, observou. Depoimento - Paula Rezende Teixeira "Teve até um despejo" Os problemas começaram antes mesmo da viagem. Pagamos pelo pacote e não tivemos nenhum tipo de reunião ou orientação sobre o local de onde os ônibus sairiam, por exemplo. Tínhamos que ficar ligando para o Marcos para saber. Saímos de Brasília (em 26 de dezembro) com quatro horas de atraso. O ônibus em que eu estava quebrou em Montes Claros (MG) de madrugada e ficamos cinco horas parados em uma estrada escura, no meio do mato. Não tínhamos nenhum guia para dar satisfação. Tive medo, pois praticamente só tinha mulheres lá. Para piorar, ficamos sabendo que os ingressos dos shows, pelos quais pagamos R$ 500, não tinham sido comprados. Quando chegamos na pousada em Arraial (no sábado), loucas para descansar, soubemos que só tínhamos o quarto até segunda-feira, pois a Impacto Turismo não havia pago tudo. Teve gente que passou por quatro pousadas, pela falta de pagamento da agência. Para conseguir comprar os ingressos de novo (no valor de R$ 800) tínhamos que economizar na comida e em outras coisas. Na sexta-feira, como se não bastasse tudo o que passamos, a dona da pousada obrigou os hóspedes a pagar R$ 75 para cobrir o calote de R$ 5 mil que o Marcos havia aplicado. Como nos recusamos a pagar, ela tomou a chave e cortou a energia do nosso quarto. Fomos despejadas, eu e outras sete mulheres, e tivemos que passar a última noite no chão da copa de um chalé, onde demos um trocado para o segurança nos deixar entrar. Ficamos abandonados, sem qualquer assistência. Foi a viagem do pesadelo.

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