Cidades

Moradores rejeitam acordo para sair do Varjão

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postado em 06/01/2009 08:08
O impasse para a retirada de 26 famílias de áreas de risco do Varjão parece longe do fim, mesmo com a chuva que continua a colocar em perigo a vida de centenas de moradores. Reunião na noite de ontem, na tentativa de um acordo entre membros do governo e a comunidade, acabou em bate-boca. Devido à proximidade dos barracos ao centro de Brasília, as famílias resistem à proposta de se mudarem para Samambaia. Mesmo com o alerta de risco iminente da Defesa Civil, 130 pessoas continuam na beira de uma encosta onde uma árvore destruiu três barracos na semana passada. O governo espera começar as remoções amanhã, mas uma ação de emergência pode ocorrer no caso de chuvas fortes. A situação mais precária é a da Quadra 3/5, onde vivem as 26 famílias que precisam ser retiradas prioritariamente. Com a chuva de ontem, mesmo o trator que trabalhava para limpar os escombros dos barracos derrubados no dia 1º tinha dificuldade para trafegar. Para os moradores, era impossível sair de casa sem sujar sapatos e calças na lama. Ainda assim, a maioria deles prefere permanecer no local a aceitar um lote na Área de Desenvolvimento Econômico de Samambaia, nas quadras 829 e 833. ;Lá eles terão uma casinha com dois cômodos e banheiro, pronta para aumentar. Vão ganhar a concessão de uso e toda a assistência do governo;, garantiu o secretário-adjunto de Ação Social, João de Oliveira. ;O que a gente precisa, na verdade, é que o governo nos aloje no Varjão. Já saí de uma casa em área de risco há três anos e vim para cá porque não tive outra opção, preciso ficar perto do meu emprego;, explica Martin Ferreira, 26 anos, que trabalha como copeiro no Lago Norte. Ele vai de bicicleta ao trabalho. ;Se eu for para Samambaia, serão R$ 10 por dia em passagens. Ninguém vai querer ter este custo se pude contratar um trabalhador que mora no Varjão mesmo;, avalia. A posição de Costa é acompanhada por boa parte dos moradores. ;Eu não trabalho, mas dependo do emprego do meu marido, que limpa piscinas por aqui. Lá em Samambaia não tem piscina, a gente teria que começar do zero;, reclama a dona-de-casa Zulmira do Amaral, 46, que não acredita em novos acidentes. Em outubro do ano passado, ainda na época da seca, peritos da Defesa Civil já tinham condenado a região. ;O GDF retirou famílias e construiu uma cerca lá, mas novas famílias ocuparam a área;, relata o major Toni Monteiro, chefe do Núcleo de Vistoria do órgão. ;O perigo aqui é iminente, não há mais condições de monitoramento e o Estado quer apressar o processo;, completa. O major chama a atenção para o perigo nas moradias de 150 famílias, que vivem na Quadra 11 da cidade, uma favela formada apenas por barracos de madeirite. ;A madeira dos barracos pega fogo fácil e essas gambiarras de luz que há por aqui podem incendiar a comunidade toda em pouco tempo;, alerta. Opções Na reunião realizada na noite de ontem, na Escola Classe do Varjão, cerca de 200 pessoas debateram o futuro das famílias. O governo explicou o risco da permanência e apresentou outras opções, além dos lotes em Samambaia: abrigo em uma instituição de Taguatinga; o pagamento de três meses de aluguel; ou uma ajuda de custo em dinheiro. Mas as propostas não agradaram aos moradores, que rejeitaram a negociação. ;Nossa preocupação é com a vida deles. Apesar da resistência, precisamos retirá-los o mais rápido possível. Se ocorrer um temporal, podemos fazer uma ação de emergência;, alertou João. Hoje, equipes da secretaria devem visitar a área para avançar nas negociações. O Varjão não estava entre as regiões consideradas críticas pela Defesa Civil, segundo um levantamento publicado pelo Correio em 22 de dezembro. São 12 pontos, monitorados sistematicamente durante o período chuvoso, que incluem áreas em Ceilândia, Guará e Riacho Fundo. ;A situação crítica aqui se espalhou rápido, também pelo aumento da ocupação irregular. Estamos de olho em todo o DF;, garante o major Monteiro.

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