Jornal Correio Braziliense

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Niemeyer apresenta a Arruda projetos de novas praças na Esplanada

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Rio de Janeiro ; Tombada, mas não engessada. O arquiteto símbolo da capital, o próprio Sr. Brasília, Oscar Niemeyer, deu ontem mais um passo monumental, ao lado do governador José Roberto Arruda, para ampliar, sem deformar, o arco de obras grandiosas que faz da capital federal uma cidade preservada, mas viva. Niemeyer, que está à frente de um cardápio de novidades que tem transformado a cara da cidade ; o Museu da República e a Biblioteca Nacional de Brasília, a nova Torre TV Digital, entre outros ; acertou ontem com Arruda detalhes para a mais ousada intervenção no Eixo Monumental desde a criação de Brasília, mudando a cara de seu maior cartão-postal. ;Pousando; sobre a Esplanada, nas palavras do próprio Niemeyer, entre o Teatro Nacional e a Praça de Eventos, de um lado, e o Complexo Cultural da República e a Catedral, de outro, cortando o gramado e abrindo um flanco novo no local, será erguida a Praça da Soberania. Ela deve ser inaugurada, segundo os planos do governador, em 21 de abril de 2010, quando Brasília fará 50 anos. ;Isso muda Brasília;, resumiu Niemeyer. ;Toda capital tem que ter uma praça aonde o povo chega e se espanta;, justificou. ;É algo único no mundo que, meio século depois, o arquiteto que concebeu os monumentos da cidade possa revisitá-la e bolar algo novo, sem mexer com o antigo;, explicou Arruda, depois de uma reunião de trabalho e um almoço no escritório onde até hoje Oscar Niemeyer trabalha diariamente, uma pequena sala de fundos na cobertura que dá para a Avenida Atlântica e o mar de Copacabana. A nova Praça da Soberania abrigará dois prédios: o Memorial dos Ex-Presidentes, ou Memorial da República, e um museu para ;exposição permanente do progresso do nosso país;, sob um anguloso triângulo de 100m de altura, parte mais visível do novo espaço. Três metros abaixo do terreno, haverá um estacionamento para 3 mil carros. O GDF ainda vai decidir como será a cobrança por vaga. A pedido de Arruda, será construída, no nível da garagem, uma passagem subterrânea pela Esplanada, com espaço para lojas e banheiro público. ;E não alteramos nada no Plano;, insistiu Niemeyer, que destacou a ;simplicidade da obra;. Estacionamento ;Maravilhoso! Genial! Vamos fazer!”, decretou Arruda ao ver o projeto pela primeira vez, sobre a prancheta do mestre. ;Monumental;, fez coro o secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho. A capacidade de surpreender do homem de 101 anos fez com que essa praça, a pré-batizada Praça da Soberania, surgisse a partir de uma demanda urbana pueril, a necessidade de mais lugares para estacionar no centro da cidade que não para de multiplicar sua frota de carros, e de um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que se construísse na capital um local para abrigar a memória da República brasileira. ;Há muito tempo, vem se impondo a necessidade de criar em Brasília um grande estacionamento, e essa ideia irrecusável nos levou a projetar uma nova praça nesta metrópole. Uma praça como as que existem nas grandes capitais, surpreendendo a todos que a visitam por sua beleza arquitetural;, escreveu Niemeyer em sua carta intitulada Explicação necessária. Com a laje de cobertura do estacionamento, o novo monumento surgiu espontaneamente. ;Nessa praça, ligada diretamente com a Rodoviária, apenas dois edifícios estão previstos, ambos já solicitados pelo governo do Distrito Federal. Um deles, um prédio baixo em curvas e pilotis, dedicado à memória dos presidentes da República que, ao correr dos anos, dirigiram a vida brasileira; o outro, um grande triângulo diante deste levantado, a exibir uma exposição permanente do progresso do nosso país. E o triângulo a crescer com mais de 100 metros de altura como um dos marcos principais da cidade;, detalhou o maior ícone da arquitetura moderna no Brasil. Convivência ;O Eixo Monumental estava muito seccionado, dividido, e era preciso criar uma escala de convivência humana entre a Rodoviária, a Praça dos Três Poderes, os ministérios, o Teatro Nacional, a Biblioteca, o Museu e a futura Praça do Povo;, explicou Arruda. Niemeyer, que teve a ideia da nova praça depois de visitar Brasília no fim do ano passado, acha que, com a nova área, o ;centro de gravidade; de Brasília, pensado na origem para ser na Rodoviária ; onde passam hoje 650 mil pessoas diariamente ;, desloca-se 400m para a Praça da Soberania. ;Fiquei impressionado com a quantidade de carros em volta da Praça dos Três Poderes;, contou ele. ;Era muito feio.; ;As pessoas, Oscar, especialmente as mais simples, descem na Rodoviária e vêm trabalhar a pé nos ministérios;, explicou Arruda, que vê outra vantagem no caso dos grandes shows feitos na Esplanada, onde ninguém tem onde parar. A Praça dos Três Poderes, acredita o arquiteto, é uma praça cívica, que não cumpria a função ;socializante; da nova praça. O Memorial dos Presidentes resgatará a história de cada um dos chefes de Estado do país. ;O Lula vai achar ótimo porque vive me cobrando isso;, comentou Arruda. A previsão é que o projeto final esteja pronto em três meses, o que deixaria cerca de um ano para a obra, ainda sem orçamento. Ao lado do Teatro Nacional, a Praça de Eventos, chamada por Niemeyer de Praça do Povo, é outro projeto que integrará o complexo da Esplanada. Segundo Arruda, ela já está em processo de licitação, mas a prioridade é concluir a Praça da Soberania até 21 de abril de 2010. No centro de eventos, está prevista uma arena multiuso com espaço para espetáculos de circo, um grande auditório e um terraço com vista privilegiada da Esplanada. A ideia é que no local sejam realizadas muitas das atividades que hoje ocorrem no gramado. A proposta de Niemeyer prevê ainda a construção do maior vão aberto do mundo, com 30m de altura, o equivalente a 10 andares. O governador do DF, José Roberto Arruda, afirma que a futura Praça da Soberania, projetada por Oscar Niemeyer, foi um presente do arquiteto aos 50 anos da capital. Veja mais na edição impressa do Correio neste sábado