Cidades

Moradores vizinhos à Igrejinha pedem a retirada da população de rua

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postado em 12/01/2009 08:25
O incêndio que destruiu parte da parede externa da Igreja Nossa Senhora de Fátima, a Igrejinha da 307/308 Sul, expôs bem mais que descaso pelo patrimônio artístico e histórico do Distrito Federal. Na opinião de moradores, é um reflexo da falta de segurança pública na região, um problema que, segundo afirmam, tem sido denunciado constantemente às autoridades. Alguns deles atribuem aos pedintes que vivem na área a responsabilidade pelo início do fogo e pedem a retirada dessas pessoas do local. Até o fim da tarde de ontem, a polícia não tinha nenhum suspeito de ter começado o incêndio, na noite de sexta-feira. Segundo o delegado de plantão da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), George Couto, é cedo para levantar qualquer suspeita sob o risco de cometer injustiças e estigmatizar ainda mais os moradores de rua. A polícia espera receber o laudo do Instituto de Criminalística sobre as causas do fogo para chegar ao responsável. ;Pode ter sido um paroquiano acendendo velas ao redor do prédio ou mesmo um morador de rua. Pode ter sido acidental ou intencional;, destacou. Ainda no sábado, os agentes da 1ª DP arrombaram a caixa de telefone em frente à igreja e encontram uma pequena porção de substância esbranquiçada ; ela será analisada para que se verifique se é cocaína. No local, também havia roupas, talheres e facões, que seriam utilizados pela população de rua. Mesmo com a cautela da polícia, o incêndio acabou reforçando entre os moradores o sentimento de intolerância aos mendigos. [VIDEO1] Segundo relatos da comunidade, eles são responsáveis por uma onda de insegurança na região. Aglomeram-se nas imediações da capela e usam o espaço para todo tipo de atividade. ;É uma algazarra. Eles bebem, gritam, fazem de tudo: defecam, fazem sexo e vendem crack;, acusa uma mulher que vive no Bloco C da 307 Sul, em frente à igreja, e preferiu não se identificar. Ela foi uma das que viram o incêndio e, juntamente com outros moradores e os próprios sem-teto, apagaram o fogo. Os moradores contaram que, na hora em que o incêndio começou, ligaram para a Polícia Militar. Logo depois, afirmam ter entrado em contato com o Corpo de Bombeiros. ;Nem polícia nem bombeiros apareceram. Se não fosse a gente, esse patrimônio teria virado cinzas;, concluiu, indignada, a moradora da Quadra 307. Abordagens Em entrevista ao Correio no sábado, o secretário-adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Social e Trabalho (Sedest), João Oliveira, disse que os próprios moradores das regiões vizinhas à igreja contribuem para a fixação dos pedintes ao lhes dar esmolas. Por conta da concentração de restaurantes e pelo fato de a área ser nobre, a população de rua consegue doações de alimento e dinheiro com mais facilidade. Oliveira lembrou também que a Sedest faz abordagens aos moradores de rua convidando-os a se alojar em albergues, por exemplo, mas que não tinha como obrigá-los a sair da região. Durante todo o dia de ontem, a reportagem tentou contato com a Sedest. Não obteve retorno. ;Antes do incêndio, cerca de 20 pessoas moravam na praça e atrás da igreja. Eles incomodam bastante, e os fiéis têm medo. Quando a polícia aparece, eles somem. Depois, retornam;, contou Gardênia Portela Lopes, 57 anos, coordenadora de eventos da Igrejinha há 12 anos. Frei Amadeu Antônio, um dos religiosos responsáveis pela igreja, comentou que, por conta das reclamações de insegurança, já foi sugerido cercar a capela. ;O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) não autorizou. Por ser tombado, tudo deve ser comunicado a eles e as soluções são lentas;, destacou. A reportagem voltou à Igrejinha ontem pela manhã e à noite e não encontrou moradores de rua nas cercanias do templo. Berenice Brandão, 52 anos, pede mais policiamento ostensivo na entrequadra. Na 307 Sul, há um posto da PM, mas nele ficam os militares do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTrans). ;Quando chamados, eles alegam que não têm competência para resolver o problema. Então, deveriam desativar o BPTrans e implantar no lugar um posto de segurança comunitária;, sugeriu a mulher. O comandante em exercício do BPTrans, major Alessandro Venturim, rebateu as críticas: ;É fato que a missão desta unidade é o monitoramento do trânsito. Isso não quer dizer que ignoramos o chamado da comunidade quando o assunto é outro.Eu mesmo já persegui até ladrão de banco;. Colaborou Adriana Bernardes

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