Cidades

Parceria com comunidade faz do Parque Olhos D'Água um modelo

Diversas melhorias foram feitas graças ao apoio de vizinhos, empresas e da sociedade civil organizada

postado em 14/01/2009 08:09
Em fins de semana com tempo bom, um grupo de cerca de 30 mulheres sai de casa e aproveita para se bronzear no Parque Olhos D;Água, no fim da Asa Norte (na 413/414). Passam protetor solar, se estiram na grama e ficam a manhã toda deitadas sob o sol. Na hora de tomar banho e ir para casa, porém, elas tinham vergonha de caminhar até a ducha ao lado da administração, porque obrigatoriamente passariam, de maiô e biquíni, por vários outros frequentadores do parque. Por isso, reivindicavam um chuveiro novo, mais perto do local onde costumam aproveitar o calor. Mas o pedido esbarrava na falta de recursos do parque. Decidiram, então, juntar o próprio dinheiro. Arrecadaram R$ 200 e pagaram pela ducha. Histórias como essa fazem do Parque Olhos D;Água um modelo para o Distrito Federal. Sem orçamento próprio e dependendo da pouca verba do GDF, o parque sobrevive graças à ajuda da comunidade. Vizinhos do local ;que aproveitam a área de lazer quase diariamente ;, empresas e a sociedade civil organizada auxiliam nas pequenas melhorias que fazem o parque atrair cerca de 2 mil pessoas nos fins de semana e feriados. ;Isso aqui é um local privilegiado, nem parece que estamos dentro do Plano Piloto. Tenho que correr atrás da conservação, não posso ficar de braços cruzados;, diz o administrador do Olhos D;Água, Ezequias Vasconcelos. Ração de peixes e tartarugas é doada por lojaEzequias recebe ajuda de todos os lados. Diariamente, às 16h, funcionários do parque alimentam os peixes e as tartarugas que vivem na Lagoa do Sapo. A ração dos animais é fornecida gratuitamente por uma loja agropecuária. Um artista plástico pintou, sem cobrar nada, a sede da administração. Na entrada do prédio, há uma estante recheada de livros, que podem ser emprestados aos frequentadores. Tanto a estante quanto os 250 títulos do acervo da biblioteca foram doações da comunidade. ;Eu acho que todo mundo deveria deixar 10 centavos na porta para contribuir com o parque, já que o governo tem outras prioridades;, diz a comerciante Landinha Lino, 44 anos, que vai ao parque sempre que pode e costuma aproveitar para tomar sol. ;Não fiquei sabendo da vaquinha do chuveiro, mas ficou excelente!”, elogia. Iniciativas A contribuição não é obrigatória, mas os próprios usuários tomam iniciativas. O dentista Marcelo José da Costa, 50 anos, mora na 415 Norte, ao lado do parque onde corre quase diariamente na pista de 2km. Após as corridas, ele procurava se refrescar, mas achava que a água do bebedouro da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) era quente. ;Todo mundo reclamava. Mas o Ezequias dizia que não tinha condições de comprar um novo. Aí sugeri fazer uma parceria;, conta o dentista. Marcelo comprou um bebedouro elétrico e doou para o parque, no dia seguinte. Em troca, o administrador deixou que ele colocasse a logomarca de seu consultório. Pedro teve a ideia de construir um parque Eco PedagógicoNos próximos meses, os usuários do parque contarão com uma nova atração, mais um fruto do voluntariado: o Parque Infantil Eco Pedagógico, que surgiu a partir de uma ideia aparentemente simples. São brinquedos para crianças praticarem exercícios feitos com materiais como barro, madeira, garrafas pet e pratos de vidro. O projeto é do professor de educação física Pedro Henrique Vinhal, 23 anos. Ele adaptou o trabalho apresentado no fim do curso para o Olhos D;Água e, desde agosto do ano passado, coloca a mão na massa para construir os brinquedos. Morador da 216 Norte, ele mesmo já investiu R$ 5 mil na construção do parque infantil, que ainda não tem previsão para ser concluído. ;Contei com a parceria de algumas empresas, mas boa parte eu investi do próprio bolso. Se ficar do jeito que planejei, vai valer a pena o investimento. É por uma boa causa;, diz. Ainda serão feitos um muro de escalada, uma ponte suspensa, escorregadores, um túnel de arco e outros brinquedos de bambu, mas Pedro precisa de patrocínio para o restante dos materiais. Felizmente, o professor nunca esteve sozinho na realização do sonho. Alunos da Escola Classe 415 Norte, das 3ª e 4ª séries, se sujaram de barro para construir o labirinto em forma de túnel. Ludmila Tomaz Alves, de 9 anos, tem ainda frescos na memória o cheiro do barro e a sujeira impregnada em sua roupa. ;Nossa, naquele dia eu fiquei toda suja. Mas foi muito legal. Quando o parque ficar pronto teremos mais um lugar para brincar;, anima-se. As colaborações não se resumem aos vizinhos do parque. O servidor público Paulo Roberto Hargreaves, 41 anos, mora no Lago Sul, mas é um assíduo frequentador de parques. Quando está pela Asa Norte, vai ao Olhos D;Água e já perdeu as contas de quantas vezes contribuiu para a manutenção do local. ;Já ajudei com placa de sinalização, recuperação do parquinho, solda da ponte;, enumera. ;Ao usar um parque, a gente não precisa só destruir o meio ambiente. Também podemos ajudar;, ressalta. Muitos ainda só no papel O Olhos D;Água é um dos 70 parques e unidades de conservação criados por lei no DF. Eles são administrados pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) ; exceto o Parque da Cidade ; e nenhum deles tem orçamento próprio. Para sobreviver, precisam dividir uma verba de aproximadamente R$ 5,4 milhões, o que resulta num rateio de R$ 77 mil para cada um, por ano. O dinheiro não é suficiente para a manutenção de todos. Por isso, a participação da comunidade é essencial para garantir o funcionamento dos parques. ;Se depender apenas dos recursos orçamentários do governo, não tem como botar para funcionar;, reconhece o presidente do Ibram, Gustavo Souto Maior. De acordo com ele, a grande quantidade de unidades de conservação dificulta ainda mais a gestão dos parques do DF. Das 70 áreas previstas, apenas 10 têm administradores nomeados, ou seja, estão em pleno funcionamento. Os demais são parques criados apenas no papel, que nunca foram urbanizados. Em junho do ano passado, o instituto lançou o programa Abrace um Parque, que tem o objetivo de envolver a comunidade e a iniciativa privada na implantação, gestão e manutenção das unidades de conservação. Empresas, ONGs e pessoas físicas podem apresentar projetos para determinado parque e, se aprovados pela equipe do Ibram, recebem autorização para tocá-los ; e pagar por eles. Até agora, seis projetos já foram aceitos e preveem investimentos superiores a R$ 3,5 milhões em 10 parques. No Olhos D'Água, todos acreditam que a união e o comprometimento da comunidade fazem a diferença. Além de ajudar na manutenção do local, os usuários participam da tomada de decisões. Desde o fim do ano passado, por exemplo, o administrador Ezequias Vasconcelos faz campanha para os frequentadores não fumarem nas dependências do parque. Segundo ele, não há resistência da comunidade porque a maioria concordou com a iniciativa. SERVIÇO Quem quiser contribuir com o parque infantil Eco Pedagógico é só entrar em contato com Pedro Vinhal pelo telefone (61) 8124-0853.

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