Cidades

Empresa afasta três por desrespeito a cego

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postado em 16/01/2009 08:05
Um retrato do descaso com o usuário do transporte público. Assim pode ser descrito o episódio que ocorreu com o bancário cego Daniel Marques, 26 anos, na noite de quarta-feira. Segundo testemunhas, o motorista da Viva Brasília, João Batista de Almeida, 42, se recusou a cumprir o itinerário, debochou do rapaz e abandonou ele, a namorada e o cão-guia na porta da garagem do Grupo Amaral, em um local ermo do Setor de Oficinas Sul (SOF). Ontem, a viação afastou três funcionários supostamente envolvidos no caso. A Secretaria de Transportes do DF não descarta multar a Viva Brasília em até R$ 5,4 mil. Todos os dias, Daniel pega a linha 92 para voltar do trabalho, no Núcleo Bandeirante, para a casa onde vive, no Guará. O ônibus deveria fazer a última parada no terminal rodoviário do Setor Lucio Costa, a poucos metros da casa do rapaz. Não foi o que ocorreu. Por volta das 20h15, ao subir no ônibus acompanhado pela namorada, Maria Cavalcante, 25, e pelo cão-guia Yami (escuridão, na língua tupi-guarani), o bancário ouviu do motorista: ;Não vou até o terminal;. O rapaz argumentou: ;Mas a linha acaba lá. Não posso ficar antes;. Em seguida, teriam começado as ironias. ;O ceguinho quer ir até o Lucio Costa;, teria dito Batista, segundo o relato de Maria. Quando só restava o trio no coletivo, o motorista parou em uma passarela na Estrada Parque Taguatinga (EPTG) e ordenou que eles saíssem. ;Eu recusei, pois o terminal ficava a mais de um quilômetro dali e estava muito tarde;, lembrou Daniel. Indiferente, o condutor teria seguido para a garagem da viação, no SOF Sul, onde chamou seguranças para expulsar os usuários. Diante da ameaça, os três desceram sem resistência, por volta das 21h30. ;Se quiser voltar para casa, pega um táxi;, teria debochado João Batista, antes de abandoná-los na rua. Daniel ligou para o pai. ;Meu filho estava em um lugar escuro. Isso é absurdo;, protestou o servidor público Sérgio Marques, 55. Indignado, o homem exigiu explicações, mas, segundo ele, acabou destratado pelo despachante Tiago Vinícius, que teria mandado ele ;calar a boca;. A família foi para casa. Daniel não quis comer nem tomar banho. Passou a noite insone. ;Nunca tinha sofrido um desrespeito desse;, lamentou o rapaz, que perdeu a visão aos 15 anos por conta de um glaucoma congênito. Ontem, o bancário resolveu falar. ;Uma situação dessas não pode ficar impune. Se eu baixar a cabeça, eles passam por cima. Se todos reivindicassem, as coisas seriam diferentes;, afirmou Daniel. O gerente de operações da Viva Brasília, Sebastião Rodrigues, afastou o motorista, o despachante e a cobradora Maria Aparecida. ;Foi uma falta gravíssima. Vamos apurar se é caso de demiti-los;, disse ele, que aproveitou para pedir desculpas pessoalmente a Daniel. Segundo o secretário de Transportes, Alberto Fraga, a Viva Brasília pode ser multada pelo não-cumprimento do itinerário e por desrespeitar o usuário. ;Podemos intervir para afastar os envolvidos;, alertou. A reportagem do Correio tentou ouvir os três funcionários envolvidos no episódio, mas não conseguiu localizá-los. (Colaborou Cecília Castro do correiobraziliense.com.br )

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