Cidades

Para urbanistas mistura de atividades nos setores torna a capital mais humana

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postado em 18/01/2009 08:28
As mudanças que ocorrem em Brasília são parte da dinâmica de toda cidade, seja ela planejada ou não. Na opinião de arquitetos e urbanistas consultados pelo Correio, a mistura de atividades nos setores idealizados por Lucio Costa é natural e saudável. Faz com que a capital fique mais humana e não agride o tombamento. Os especialistas alertam, no entanto, que é preciso ficar atento à forma com que as alterações são feitas. Segundo eles, os novos usos dos setores devem ser cuidadosamente estudados para não colocar em risco a capital considerada patrimônio cultural da humanidade. A filha do urbanista Lucio Costa, a também arquiteta e urbanista Maria Elisa Costa, explica que a setorização que o plano original de Brasília propõe é delimitada apenas pelas escalas residencial, monumental, gregária e bucólica. Ou seja, Lucio Costa previu que moradias ficassem separadas dos monumentos, das áreas de lazer e dos comércios dos quarteirões centrais. ;A setorização, em termos de batizar cada setor com um assunto, foi feita durante a implantação da capital para facilitar as coisas e apenas para indicar usos predominantes. A mistura é normal e saudável. Meu pai, inclusive, jamais pensaria em um setor hoteleiro sem comércio;, esclarece. O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no DF, Alfredo Gastal, lembra que a setorização era um ideal do urbanismo nas décadas de 1950 e 1960. Naquela época, segundo ele, os arquitetos acreditavam que era melhor organizar cidades que concentrassem atividades distintas em locais separados. ;Você mora de um lado, trabalha de outro, tem lazer num terceiro. Era mais ou menos assim que se imaginava a vida;, afirma. ;Hoje em dia, o urbanismo busca uma mistura de funções. Paris é gostosa de andar a pé porque tem tudo no centro, o que faz com que a cidade fique animada;, exemplifica o secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Cássio Taniguchi. Ao pé da letra Taniguchi acredita que a mistura faz bem para a cidade. ;É possível dinamizar sem perder a característica original;, defende. Gastal também diz que, se levada ao pé da letra, a divisão por setores é ruim. Primeiro porque faz com que algumas partes da cidade morram durante a noite. Segundo, por trazer complicações ao trânsito. Para o superintendente do Iphan, a mescla que está ocorrendo nos setores de Brasília é saudável e não fere o tombamento. ;Essa mescla que está acontecendo de forma espontânea humaniza mais a cidade;, diz, ressaltando que as novas construções precisam respeitar a altura, o tamanho e a volumetria dos demais prédios tombados. O arquiteto e urbanista Tony Malheiros, representante do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Distrito Federal (Crea-DF) no Conselho de Planejamento do DF (Conplan), tem opinião parecida. Segundo ele, a setorização organiza a cidade. ;Você não fica perdido procurando uma coisa. Sabe exatamente onde ir para encontrar algo;, afirma. O especialista lembra, no entanto, que toda cidade é dinâmica e tem que se adaptar às novas demandas da sociedade. ;Não precisamos engessar a cidade. É preciso dar a maior flexibilidade possível a esses setores. Mas não pode ser na marra. Tudo tem que ser estudado;, analisa. Reavaliação Todos os especialistas consultados pelo Correio, aliás, ressaltam que as mudanças podem ser feitas, mas devem ser planejadas com cautela. ;O governo deveria estar fazendo uma reavaliação após a ocupação desses locais. Tenho certeza absoluta que Lucio Costa não seria contrário à reavaliação dos setores;, afirma o professor Frederico Flósculo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB). De acordo com o promotor Paulo José Leite, da Promotoria de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb), o Ministério Público concorda com a flexibilização dos setores, desde que ela seja estudada. Ele admite que, às vezes, o zoneamento de Brasília é muito detalhado, mas ressalta que algumas atividades não devem se misturar. ;Sou contra, por exemplo, o uso residencial no Setor de Indústrias Gráficas (SIG) e no de Oficinas (SOF). Setores habitacionais exigem mais equipamentos públicos por perto, como iluminação, hospitais, escolas e segurança, do que comércios.; A administradora de Brasília, Ivelise Longhi, também reconhece que cabe ao governo impedir que atividades incompatíveis ocupem um mesmo espaço. ;A flexibilidade se mostra boa quando ela não fere o conceito. Mas temos de coibir atividades fora de zoneamento, como oficinas na W3 Norte e pousadas na W3 Sul;, exemplifica. É necessário ainda, completa a administradora, ficar atento ao desvirtuamento entre a aprovação e o uso de determinada área. ;Não pode, por exemplo, ter comércio em um local destinado à residência. Quanto a isso, a administração será rigorosa;, garante. O superintendente do Iphan, Alfredo Gastal, afirma que as alterações na setorização de Brasília não agridem o tombamento

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