Cidades

Após assassinato de menina, Recanto das Emas teme pela segurança

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postado em 19/01/2009 08:13
O corpo encontrado em uma vala no Recanto das Emas, na tarde de sábado, é mesmo da menina Caroline Marcolina Silva, de 6 anos. O Instituto Médico Legal (IML) confirmou a identidade da criança até então desaparecida. Ele foi liberado na tarde desse domingo e o enterro será nesta segunda. A certidão de óbito elaborada pelo IML não tem a causa da morte de Caroline. O laudo dos peritos ficará pronto até o fim desta semana. A polícia investiga o crime, mas continua sem pistas do autor. Há suspeita de que a menina tenha sofrido violência sexual antes de ser morta e atirada em uma vala aberta pela chuva em um matagal da Quadra 804 do Recanto das Emas. Ontem à tarde, o clima era de consternação na casa da família Marcolina, na Quadra 803 do Recanto. Os parentes de Caroline moram a poucos metros do local onde o corpo foi encontrado. Amigos e vizinhos davam apoio aos familiares, que estavam chocados com a brutalidade do assassinato da garota. No Recanto das Emas, onde a comunidade protesta contra a falta de segurança, pais estão com medo de deixarem as crianças brincarem nas ruas. A mãe de Caroline, Andréia Cristina Marcolina, 27 anos, foi ao IML durante a manhã. Ela estava desolada. ;Eu ainda tinha esperança de que o corpo não fosse da minha filha. Acreditei até o final que iria encontrar a Caroline com vida;, contou, entre lágrimas. A família recebeu a doação de um caixão mas, até o fechamento desta edição, ainda não havia definido o horário e o local do enterro do corpo. Caroline vivia com a mãe, a avó, Edina Marcolina da Silva, 54 anos, e mais sete irmãos em uma casa simples e sem reboco, com dois cômodos. No quarto onde a garota dormia, há pôsteres de cantores, atores e bandas colados sobre as paredes de tijolos. Apesar do grande número de crianças na residência, com idades entre um e 13 anos, são poucos os brinquedos pela casa. ;A Caroline gostava mesmo era de brincar de casinha com as minhas panelas. Pegava tudo, levava para a rua e passava a tarde com as outras meninas fingindo que estava cozinhando;, conta Edina Marcolina. Inconformada com o crime, a avó de Caroline relembra o dia em que a garota desapareceu. ;Ela estava brincando na rua, em frente de casa, com os irmãos e alguns vizinhos. A gente entrou para olhar o bebê e, quando voltamos, a Caroline tinha desaparecido;, explica Edina. ;Foi uma questão de minutos, ela ficou pouco tempo sozinha;, disse a avó. A menina sumiu em 10 de janeiro, um sábado. Um irmão mais velho de Caroline contou que viu um carro preto parar no final da rua. Segundo o relato da criança, um homem com o rosto coberto teria oferecido moedas para a menina entrar no veículo. A polícia não tem certeza se isso realmente aconteceu. Após o desaparecimento, Andréia Marcolina fez cartazes com uma foto da menina e telefones de contato. Apesar do esforço, não houve pistas do paradeiro da garota, apenas alguns trotes indicando que a vítima teria sido vista em Taguatinga, na companhia de mendigos. Caroline desapareceu em 10 de janeiro, sábado, por volta das 16h30. A polícia acredita que a menina tenha sido morta neste mesmo dia. ;O corpo estava em estado bem avançado de decomposição, com manchas pretas e roxas, bastante inchado e com insetos em volta. Isso dificultou a identificação por parentes no momento em que o cadáver foi encontrado. Também por conta do estado do corpo, não pudemos verificar se havia marcas de violência ou perfurações;, disse ontem o delegado de plantão da 27ª DP, Éder Charneski. Somente o laudo oficial dos peritos do IML vai definir o que tirou a vida de Caroline. Na certidão de óbito da menina, consta a informação ;causa da morte a esclarecer;. A Polícia Civil chegou até o local, onde estava escondido o corpo, depois de receber uma denúncia anônima por telefone. Caroline foi encontrada completamente nua e as suas roupas da menina estavam ao lado do corpo. Desse fato vem a suspeita de que a vítima teria sofrido violência sexual. A polícia não encontrou nenhum outro objeto ou pista que pudesse levar à identificação do assassino. Choro e abraços Na quadra 803 do Recanto das Emas, o domingo foi dia de prestar solidariedade à família de Caroline. Vizinhos, amigos e até mesmo desconhecidos foram até o conjunto 13 para ter notícias sobre o reconhecimento do corpo. De manhã, o pequeno espaço da casa da família Marcolina ficou disputado. Tia de Caroline, Maria Marcolina Sousa, 39 anos, chorava muito e recebia abraços das sobrinhas. ;Não entendo por que uma pessoa faria a maldade de sequestrar e matar uma criança tão carinhosa;, disse. Moradora da Quadra 803, a dona-de-casa Marinalva Moreira, 29 anos, está em pânico desde o assassinato da menina Caroline. Ela tem dois filhos, Tiago, de 4 anos, e Taís, de 6 anos. Sua filha começa a estudar no mês que vem no Centro de Ensino Fundamental 803, justamente onde Caroline iria cursar a 2ª série este ano. ;Desde que tudo isso aconteceu, não deixo meus meninos colocarem os pés fora de casa. A gente já tinha medo de violência, de assalto. Mas depois que mataram a Caroline, a gente fica com medo até de deixar as crianças brincarem;, comenta Marinalva. O pedreiro e pintor Manoel de Oliveira, 40 anos, conhece bem a dor da família Marcolina. Morador da Quadra 803 do Recanto das Emas, ele perdeu um filho de 11 anos em 2000. ;A gente morava em Samambaia e ele foi atingido durante um tiroteio;, explicou Manoel, que é pai de três meninas e um garoto de 5 anos. ;Não sei se o homem que levou a Caroline vai voltar para pegar outras crianças. Todo mundo está com medo;, garante o vizinho dos Marcolina. Memória Vítimas da brutalidade Ana Lídia, setembro de 1973 A menina de 7 anos foi vítima de um crime até hoje sem solução. Eram 13h30 de 11 de setembro, quando Ana Lídia Braga desceu do carro do pai na porta do Colégio Madre Carmem Salles, na 604 Norte. O corpo foi encontrado 22 horas depois. Ela teve os cabelos cortados e havia escoriações e manchas roxas pelo corpo. O corpo estava nu com sinais de violência sexual, de bruços e com a face contra o chão, a menos de 1km da escola. O material escolar e as roupas desapareceram. Álvaro Henrique, irmão de Ana Lídia, e Raimundo Duque, foram apontados como suspeitos, mas absolvidos por falta de provas. Maria Cláudia, dezembro de 2004 A jovem de 19 anos sumiu na manhã do dia 9. Os pais comunicaram o fato à polícia e, no domingo, um investigador sentiu um cheiro forte na casa e encontrou o corpo de Maria Cláudia Del'Isola enterrado debaixo da escada. Os criminosos eram funcionários da família: o caseiro Bernardino do Espírito Santo, 30, e a doméstica Adriana de Jesus dos Santos, 20. Os dois a violentaram e mataram com golpes de pá antes de enterrar o corpo. Os dois foram condenados e estão presos. Thaís, dezembro de 2005 Thaís da Silva Martins Duarte, 12, morava com o pai em Samambaia. No fim da tarde de 14 de dezembro, ela foi buscar a mãe, com quem passava os fins de semana em Planaltina de Goiás, no ponto de ônibus. Gessy Lima disse que decidiu descer na parada seguinte (mais perto de casa), e não conseguiu avisar a menina. Ela foi vista entrando em um carro. Na manhã do dia 16, o corpo foi encontrado com dois tiros. O inquérito, concluído em 2006, aponta a mãe da garota, Weleson Santarem e Marcos Luiz da Silva como autores. Eles ainda não foram julgados. Vânia, maio de 2005 A estudante Vânia Alcântara Diniz, 14, fugiu de casa na noite de sexta-feira, 12 de maio, para ir a uma festa. Familiares procuraram pela adolescente por dois dias, até que o corpo foi localizado às margens de uma lagoa na Cidade Ocidental (GO), onde a vítima morava. Havia cortes no rosto, busto e braço direito de Vânia, hematomas pelo corpo e um corte na garganta. Ela foi estuprada. Até hoje ninguém foi preso pelo crime. Isabela Tainara, maio de 2007 Isabela Tainara Faria, 14, desapareceu ao sair de um curso de inglês na quadra 504 do Sudoeste, bem perto de sua casa, no dia 14 de maio. Ela falou com a mãe no celular às 19h43, dizendo que estava pegando uma carona, mas só foi encontrada em 28 de junho, em um matagal em Samambaia. Uma semana antes de o crime completar um ano, a polícia apresentou o ex-gari Michael Davi Ezequiel dos Santos, 21, como único responsável. Ele foi condenado a 25 anos de prisão, mas nunca admitiu o crime.

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