postado em 20/01/2009 08:07
No Distrito Federal, 10 pardais, dos 199 existentes, foram responsáveis, no ano passado, por 18% dos 900.699 flagrantes de excesso de velocidade registrados pelos equipamentos eletrônicos. Eles estão concentrados no Plano Piloto, Lago Sul, nas proximidades do Cruzeiro, entre Taguatinga e Samambaia e no Guará II. Juntos, emitiram 161.813 autos de infração em 2008. Na tarde de ontem, a reportagem percorreu os 10 endereços onde o Departamento de Trânsito (Detran) detectou recorde de multas. E constatou que, ao contrário do que diz boa parte dos motoristas que trafega acima do limite da via, os equipamentos não estão escondidos. Há sinalização suficiente para alertar quem desrespeita a velocidade permitida e pisa no freio apenas onde tem ;o dedo-duro;.
Dos 10 equipamentos, o campeão de autuações é o pardal que fica perto do Batalhão de Incêndio do Corpo de Bombeiros, no Eixo Monumental (sentido Palácio da Alvorada;Congresso Nacional). Foram 39.745 infrações em 2008. A velocidade de 60km/h, frequentemente, é desrespeitada. A via de acesso é a L4 Norte, onde é permitido trafegar a 80km. Desatento, o condutor não percebe que, ao entrar na N1, o limite cai para 60km/h, apesar das placas e do aviso de que o local tem fiscalização eletrônica.
O mesmo ocorre com o primeiro pardal do Eixo Monumental, sentido Rodoferroviária-Plano Piloto. O equipamento fica na altura do Cruzeiro Velho. O acesso pode ser feito pela EPTG ou pelo Viaduto Ayrton Senna. Em ambos os casos, há placa com o limite da via e alertando sobre o pardal. Ainda assim, houve 18.381 flagrantes no local. Para o gerente de Fiscalização do Detran, Silvaim Fonseca, o levantamento revela que o condutor não respeita intencionalmente a sinalização ou não presta atenção às placas. ;Muitas pessoas cobram que a gente não coloca placa. Mas quando tem, elas ignoram da mesma forma. Você percebe que em todos esses locais as vias são largas. Quando estão livres, o condutor acelera;, afirmou.
O estudante Alex Chaves, 21 anos, que já foi multado duas vezes por excesso de velocidade, reconhece que faltou atenção. ;É aquele negócio de você entrar no carro, ligar o som, começar a cantar. Eu simplesmente desliguei. Foi vacilo mesmo;, disse o rapaz, reforçando que passou ;um pouco acima da velocidade;. E defendeu: ;Acho que precisa mesmo ter pardal. Com esse tanto que existe por aí, a gente ainda vê motorista correndo feito louco;.
Polêmica
Desde que a fiscalização eletrônica de velocidade foi adotada no DF, em novembro de 1996, os radares causam polêmica. Motoristas flagrados pelos equipamentos falam em indústria da multa. ;Acho um absurdo. Tem muito pardal que você mal consegue ver. Dias depois recebe a surpresa em casa;, criticou, indignado, o representante comercial Jacinto José Cardoso, 56.
O professor de psicologia do trânsito da Universidade de Brasília (UnB) Hartmut Günther disse que o levantamento do Detran sobre os pardais que mais multam no DF derruba o argumento do condutor de que os equipamentos estão escondidos ou mal sinalizados. ;Aliás, eu sou totalmente contra o aviso de que a via tem pardal. Do ponto de vista psicológico, não deve haver um aviso adicional para que o motorista respeite a sinalização. Apenas o da velocidade permitida deve ser suficiente;, defendeu.
Além disso, segundo Günther, ficou evidente a falta de atenção do condutor. ;O que ocorre muitas vezes é que ele sai de uma via com determinada velocidade e entra em outra com limite menor e não se dá conta;, disse. Segundo ele, nesse caso, o Detran não pode ser considerado vilão.
É promessa de campanha do governador José Roberto Arruda acabar com os radares, substituindo-os por barreiras eletrônicas. Ele argumenta que esse tipo de fiscalização é uma ;pegadinha; com o motorista e diz não ter interesse em punir o condutor, mas, sim, educá-lo.