Cidades

Revenda de carros aplica golpes estimados em R$ 100 mil

Vítimas da empresa eram escolhidas nos classificados ou em feirões. Veículos foram vendidos, mas os clientes receberam cheques clonados

postado em 23/01/2009 08:45
A ligação telefônica trouxe esperança para o gráfico Jessé Ribeiro do Nascimento, 39 anos. Do outro lado da linha, uma pessoa interessada no anúncio de venda do Fiat Palio, que o gráfico colocou nos classificados, disse que conseguiria arranjar um comprador para o veículo por uma firma estabelecida na Cidade dos Automóveis. Jessé, que precisava do dinheiro para custear a obra da casa própria, aceitou a proposta. Ele assinou um contrato com a agência e aguardou a conclusão do negócio, que nunca ocorreu. O carro desapareceu, a empresa mudou de nome e o único cheque pré-datado que o gráfico recebeu da negociação era clonado. Após perceber que fora vítima de um golpe, ele decidiu registrar ocorrência na 8ª DP (Setor de Indústria e Abastecimento). E teve uma surpresa. Não era o único. Ao menos outras seis pessoas passaram pelo mesmo constrangimento que Jessé. Os primeiros casos foram registrados na delegacia em outubro do ano passado. Todos eles envolvem a mesma empresa, que se chamava Facilita e atualmente leva o nome de Everton Automóveis. As histórias das vítimas são quase sempre as mesmas. Todas receberam uma ligação ou foram abordadas por alguém que prometeu a venda rápida do veículo por intermédio da firma na Cidade dos Automóveis. Os carros desapareciam depois de serem entregues na agência, assim como as pessoas com quem as vítimas negociaram. Quando exigiam o dinheiro que lhes era devido, os donos dos veículos recebiam cheques pré-datados que nunca tinham fundos. Revolta A polícia estima que só as sete ocorrências em apuração renderam mais de R$ 100 mil aos estelionatários, que escolhiam as vítimas por meio de classificados ou em feirões de automóveis. ;Fico revoltado com a situação;, desabafou Jessé. ;Não acho que fui ingênuo. Afinal, eles tinham uma loja fixa e a fachada parecia séria. Até um contrato com eles eu assinei;, acrescentou. O carro do gráfico estava avaliado em R$ 25 mil. Como ele contava em conseguir esse dinheiro rapidamente, Jessé também se adiantou e comprou material de construção financiado para a casa dele. ;Agora não sei mais como vou pagar essas coisas. A obra está parada. Me sinto lesado e vou procurar todas as formas de resolver esse problema, embora saiba que, provavelmente, nunca mais verei meu dinheiro;, contou. O delegado José Roberto Soares Batista, chefe em exercício da 8ª DP, afirmou que pretende indiciar os golpistas por estelionato e formação de quadrilha. Mas tem tido dificuldades em conseguir informações para prender os responsáveis pelo golpe. ;Já intimamos oito vezes os donos da empresa para prestar esclarecimentos na delegacia. Ninguém apareceu até agora;, explicou. ;O problema é que eles colocam laranjas e testas-de-ferro para tocar a agência, enquanto os líderes da operação permanecem ocultos;, detalhou. Negócio até sem o DUT A maioria das vítimas do golpe manteve o Documento Único de Transferência (DUT) dos automóveis. Mas isso não impediu os estelionatários de passarem os veículos para frente. ;Eles costumam vender os carros a preços mais baixos e embolsam o dinheiro. Mesmo que o veículo seja localizado após a venda, só a Justiça poderá definir se ele será devolvido ao dono original;, explicou o delegado José Roberto Batista. Para ele, a melhor maneira de evitar o golpe é procurar informações sobre a empresa com a qual se está tratando. ;É preciso saber se ela é idônea e se não tem ocorrências em seu nome. Recomendamos que a negociação seja diretamente com o comprador, sem intermediário;, sugeriu. A Everton Automóveis fica no Shopping Flamingo da Cidade dos Automóveis. O Correio esteve no local na semana passada. Uma secretária contou que o dono estava em Padre Bernardo (GO) e que não havia nenhum responsável na agência. O Correio tentou entrar em contato, sem sucesso, com o dono da firma e a advogada do grupo por dois celulares fornecidos pela secretária, que disse apenas que o local não revende mais carros e se limita a financiá-los. A situação da firma na Administração do Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA) também é irregular. ;Eles não fizeram a consulta prévia para poderem operar e não têm alvará;, disse a administradora Elisabete Raimundo.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação