Cidades

Polícia não pretende pedir prisão de mulher que jogou recém-nascida fora

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postado em 27/01/2009 08:02
A mulher que abandonou a filha recém-nascida em uma parada de ônibus da Asa Sul, no sábado à tarde, vai responder ao processo em liberdade. Quando sair do hospital, o que deve ocorrer hoje, a recepcionista Raquel Lopes Cordeiro, 28 anos, será levada para fazer um exame psicológico no Instituto Médico Legal (IML) e terá que prestar novo depoimento para esclarecer os motivos que a levaram a jogar a criança fora, horas depois de dar à luz. Depois disso, porém, poderá ir para a casa porque a polícia não vê necessidade de pedir a prisão temporária ou preventiva dela para a Justiça. A bebê foi encontrada morta e o delegado responsável pelo caso diz não ter dúvidas de que ela agiu sozinha. No IML, Raquel será entrevistada por psicólogos e psiquiatras, que vão atestar se ela sofre ou não de depressão. A polícia espera ter o laudo definitivo em até 30 dias. ;Até agora, sabemos que ela cometeu um crime, mas não sabemos qual. Com o exame, saberei se ela responderá por infanticídio ou homicídio qualificado;, explica o delegado-adjunto da 5ª DP (Área Central), Marco Antônio de Almeida. A pena para infanticídio (quando a mãe mata o filho por causa de depressão pós-parto) é de dois a seis anos de prisão. Já o homicídio qualificado prevê uma punição de 12 a 30 anos de detenção. Almeida também pretende convocar, ainda nesta semana, o companheiro de Raquel, Aclésio Pereira de Souza, e o patrão dela, Antônio di Giovanni, 41 anos, para fazerem um teste de DNA que comprove quem é o pai da criança. Em depoimento à 5ª DP, ao qual o Correio teve acesso, Antônio confessou ter mantido uma relação sexual com a funcionária há cerca de um ano. Apesar disso, ele disse não saber que ela estava grávida, assim como as demais pessoas que trabalhavam com ela, na boate Bocanegra, na 403 Sul. Segundo vizinhos, Raquel é magra e a barriga de quase nove meses era aparente. Mas ela costumava usar roupas largas e, quando questionada sobre uma possível gravidez, negava e justificava que tinha um cisto no ovário. O resultado do exame de DNA também deve demorar 30 dias para ficar pronto. O delegado disse ter convicção de que Antônio não teve participação na morte do bebê, apesar de Raquel estar no flat dele quando começou a ter as contrações. ;Raquel mesmo isenta todos de culpa. Se ele soubesse que ela estava grávida e quisesse esconder isso, por que chamaria as outras funcionárias da boate para socorrê-la?;, questiona Almeida. Hotel Segundo a polícia, Raquel chegou ao Hotel Mercure, no Setor Hoteleiro Norte, às 6h de sábado, após sair da boate. Ela teria ido se despedir da mãe do patrão, que estava hospedada no hotel e voltaria para a Itália na manhã daquele dia. ;Ela ficou amiga da família, chegou a morar três meses na Itália cuidando da mãe do patrão;, conta o delegado. A senhora, porém, estava dormindo e Raquel pediu para esperá-la no quarto de Antônio. Ela acordou mais tarde, mas pediu para ficar pois estaria cansada. Antônio também adormeceu e, quando acordou, por volta de 15h, encontrou Raquel no banheiro, gritando de dor. Preocupado, ele ligou para outras duas funcionárias da boate, que foram socorrer a amiga. Raquel só saiu do banheiro após dar à luz, mas ninguém viu o bebê, nem ouviu choro de criança. Ela sangrava muito e carregava sacolas plásticas, que dizia ser roupa suja. As amigas levaram-na ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), mas ela jogou a sacola fora no caminho. O ginecologista que a atendeu desconfiou que ela tinha acabado de dar à luz, pois ainda expelia a placenta. As outras funcionárias da boate, então, chamaram a polícia, que encontrou o bebê morto. ;Foi uma emoção muito grande quando vi o bebê, mas minha esperança era de que ele ainda estivesse vivo;, conta o soldado Rubens Ferreira dos Santos, que encontrou a criança perto do Hospital de Base do DF (HBDF), na Asa Sul. Os médicos do HBDF tentaram reanimar a recém-nascida, de 3,2Kg, por 20 minutos, mas não conseguiram. A polícia não sabe se ela nasceu viva. Raquel disse em depoimento que jogou a filha fora porque pensou que ela estivesse morta. Segundo o delegado da 5ª DP, o crime não muda se a criança tiver nascido sem vida. ;A criança não morreu no útero e foi expelida. Raquel entrou em trabalho de parto. Ela estava cercada de pessoas que poderiam ter ajudado, mas não quis. Além disso, amarrou cada uma das cinco sacolas e não deixou nenhum espaço para a criança respirar. Isso mostra a intenção de matar a bebê;, ressalta Almeida. Segundo as enfermeiras que acompanharam o pré-natal de Raquel no Jardim ABC, na Cidade Ocidental (GO), o bebê era saudável e teria perfeitas condições de sobreviver em condições normais. Parto esperado para fevereiro Raquel Lopes Cordeiro deu à luz apenas seis dias antes de completar 38 semanas, tempo considerado ideal para um parto. A bebê era prematura, mas já pronta para nascer: todos os órgãos estavam formados e em funcionamento. O crescimento do feto foi normal durante toda a gravidez e o peso do bebê (3,2Kg) é considerado excelente para um recém-nascido. ;Ela era saudável, tinha perfeitas condições de vida;, diz a enfermeira que atendeu Raquel na Unidade Básica de Saúde da Família do Jardim ABC, Marcela Barbosa. A mulher fazia pré-natal em um hospital particular na Cidade Ocidental, mas se consultou duas vezes no posto de saúde. Ela foi ao local pela primeira vez aos seis meses de gestação porque o médico particular pediu exames que custariam mais de R$ 800. Assim, a rede pública fez uma série de testes na futura mãe, para garantir que ela não tivesse nenhuma doença que afetasse a formação do feto. ;Todos os exames deram negativo. Nas duas vezes em que ela esteve aqui, conferimos os batimentos cardíacos do bebê e estava tudo normal;, conta Marcela. O parto de Raquel estava previsto para ocorrer em 16 de fevereiro e era aguardado com ansiedade pela família. Ao contrário dos colegas de trabalho, que não sabiam da gravidez, todos os vizinhos dela no Jardim ABC tinham conhecimento de que a recepcionista seria mãe pela segunda vez em breve. Raquel tem um filho, de 11 anos. Após descobrir a gravidez, passou a morar junto com o namorado, Aclésio Pereira de Souza, com quem já tinha um relacionamento antigo ; a família não soube dizer exatamente de quanto tempo. Nos primeiros meses, Raquel negava que estava grávida, mas acabou confessando quando a barriga começou a crescer. À polícia, ela disse que não contou que esperava um bebê para os outros funcionários da boate porque temia perder o emprego. No posto de saúde, falava que não queria mais filhos e que a gravidez seria um acidente, mas sempre ia às consultas acompanhada do namorado. Enxoval O casal comprava, aos poucos, o enxoval da bebê. Há uma semana, Aclésio esteve no centro da Cidade Ocidental e comprou roupinhas e sapatinhos. Os vizinhos contam que ele estava feliz e fez questão de contar para todo mundo. ;Eles viviam superbem, nunca nem vi discussão entre eles;, conta o irmão de Raquel, Robson Lopes da Cruz, 26 anos. Aclésio não quis falar com a reportagem. Segundo Robson, ele está muito abalado. Raquel também não explica para eles o que aconteceu. ;Ela só chora.; O irmão de Raquel diz que a família duvida que ela não teve ajuda durante o parto. ;Como uma pessoa com nove meses de gravidez entra em um banheiro, tem um bebê, e não faz nenhum ruído, ninguém vê?;, questiona. O Correio tentou falar com Antônio di Giovanni, mas ele não atendeu o celular, nem os telefones fixo do flat e comerciais.(GR) O soldado Rubens Pereira conta como salvou a vida do bebê encontrado em um saco plástico neste sábado (26/01) próximo ao hospital Sarah Kubitschek. Repórter: Diego Amorim

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