Cidades

Empréstimo de livros entre vizinhos incentiva a leitura na Asa Sul

Para incentivar a leitura e o convívio, moradores da 211 Sul instituem um sistema de empréstimo de livros entre os vizinhos do mesmo prédio

postado em 27/01/2009 08:16
Defensores da leitura querem a liberdade para milhares de livros presos em estantes, acumulando poeira. Um grupo de mulheres começou a tirar as algemas de alguns exemplares na Asa Sul, incentivando o empréstimo dos títulos parados na prateleira para a vizinhança. O projeto Amigo do Livro está sendo implantado na 211 Sul com a ajuda de moradores. A proposta é simples: basta fazer uma lista com os livros dos moradores do prédio e organizar as trocas. ;É um empréstimo sem burocracia, uma liberdade condicional ao livro. Ele sai, mas tem que voltar. O livro é feito para navegar, abrir novos horizontes. Se ele fica preso, perde o principal propósito;, explicou a idealizadora do projeto, a professora Aldemita Portela Vaz de Oliveira, 77 anos. Ela reparou que, em Brasília, muita gente mora em prédio ou condomínio de casas, mas mal conversa com o vizinho. A troca de livros ajudaria a integrar os moradores e estimularia a leitura entre eles. Primeiro, Aldemita pensou em montar uma pequena biblioteca no térreo, mas viu que seria difícil manter os volumes em ordem. Com o Amigos do Livro, cada pessoa controla o acesso ao próprio acervo. ;Se alguém passa muito tempo sem devolver o livro, não tem problema. Você sabe com quem ele está, é só interfonar para o apartamento;, disse. A iniciativa pode ser copiada em qualquer prédio ou condomínio de casas, respeitando-se algumas regras simples. Basta que os moradores interessados façam uma lista dos livros que estão dispostos a emprestar e a deixem na portaria. Outra sugestão é enviar a relação por e-mail para todos. Quem se interessar pelo livro do vizinho, avisa o porteiro, que entra em contato com o dono. O porteiro faz a mediação entre as partes ; deixa o exemplar na caixa do correio ou entrega em mãos. A subsíndica do bloco F da 211 Sul, Neise Borba de Azevedo, 76 anos, colocou nas caixas de correio um panfleto explicando a proposta. A próxima etapa é reunir as listas dos moradores e dar início aos empréstimos. ;Achei a ideia muito boa porque gera convivência e entrosamento entre vizinhos. Muita gente tem preguiça ou vergonha de pedir emprestado. E livro parado não faz sentido, ele é feito para circular;, afirmou Neise. A artista plástica Nirvana Célia Rios da Silva, 57 anos, gostou da ideia da vizinhança e já sabe quais livros poderá emprestar. Ela tem cerca de 20 títulos sobre arte e folclore que estão sempre circulando entre as crianças do prédio. Meninos e meninas procuram Nirvana quando precisam fazer uma pesquisa escolar ou querem ajuda com os deveres. Sem saber, ela é uma das precursoras do projeto de libertação dos exemplares. ;Aqui as pessoas sabem que eu tenho alguns livros e me pedem. Eu tiro cópias de algumas páginas e deixo prontas para as crianças. A ideia delas é uma maravilha porque, às vezes, não é tão fácil achar um livro;, comentou. Em todos os lugares O movimento de libertação dos livros que agora chega aos prédios do Plano Piloto tem precursores conhecidos. Prateleiras cheias de exemplares transformaram as paradas de ônibus da W3 Norte em pontos culturais. Ali não há burocracia. Parou, folheou o livro, levou para casa. Lojas da cidade também têm se empenhado em levar cultura aos clientes. A padaria Pão Dourado, na 302 do Sudoeste, colocou uma estante próxima ao local onde as pessoas costumam sentar para lanchar. É um convite à leitura entre um café e outro, e de graça. O engenheiro agrônomo Jorge Souto Moreno, 60 anos, costuma tomar café na padaria acompanhado do material de leitura: livros ou jornais. Ele acredita que a oferta de títulos pode estimular o interesse de mais pessoas. ;Essa ideia me parece interessante porque as pessoas leem pouco. Isso permite que todos tenham acesso aos livros. Reparo que muita gente passa aqui e começa a folhear;, afirmou. Jorge já levou as netas de 7 e 10 anos para conhecer os livros e elas se encantaram com os infantis, cheios de figuras. ;Isso leva cultura, saberes e experiência para as pessoas;, comentou. Liberdade aos livros A proposta de espalhar livros e trocá-los sem burocracia nasceu em 2001, nos Estados Unidos. Um grupo de leitores criou o movimento Bookcrossing, que hoje conta com 741 mil membros em diversos países. Eles deixam os títulos em qualquer lugar da cidade ; agência de banco, supermercado, praça, parada de ônibus, etc ; para que eles caiam nas mãos de outros interessados. A ação exige desapego, já que nem sempre o volume volta ao primeiro dono. Os livros passam de mão em mão e viajam quilômetros. A trajetória pode ser acompanhada pelo site do movimento (www.bookcrossing.com, em inglês). O exemplar mais viajado já foi lido por 381 pessoas na Alemanha, Áustria, França, Estados Unidos, Coreia do Sul , Canadá e outros. É uma edição alemã do livro Hoffnung;s Constant Reader. Além dele, há outros 5 milhões de livros registrados no site circulando pelo planeta.

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