Cidades

Grupos de proteção se mobilizam para salvar a vida de animais

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postado em 30/01/2009 09:28
Eduardo, de 11 anos, chamou a mãe dia desses para contar que estava deprimido. Antes que ela dissesse qualquer coisa, apresentou a solução: ;Falta um animal para alegrar a casa;. O gato da família, que mora em Santa Maria, fugiu numa noite chuvosa do ano passado e, desde então, o garoto anda triste. Ontem, Eduardo arrastou a mãe e a irmã Gabriela, 17, até a Zoonoses, na Asa Norte. Depois de 30 minutos perambulando pelo canil público, onde até a tarde de ontem havia 20 cães à espera de adoção, os três saíram de lá com uma cadela vira-lata de três anos. ;Achei ela tão tristinha, fiquei com dó;, contou a técnica de enfermagem Socorro Aleixo, 46, ao se render ao pedido do filho. O movimento na Zoonoses de Brasília nunca foi tão intenso. Grupos de proteção a animais fazem vigília no local para evitar ao máximo o sacrifício de cães abandonados. Assim que algum cachorro chega por lá, a turma se apressa em encontrar um dono para ele. Os avisos são espalhados em comunidades virtuais, por e-mails ou telefonemas. O que move essa gente? ;Só amor. Amor para salvar a vida dos bichinhos;, explicou a estudante Ana Carolina Chaves, 17. Há duas semanas, ela soube das adoções no canil. Já levou dois cachorros para casa e, nesse tempo, conseguiu interessados para cuidar de outros 15. Daqui pra frente, Ana Carolina pretende ir à Zoonoses duas vezes por semana. ;Vou fotografar os cachorros que não têm dono e colocar as imagens na internet;, explicou. Com tamanha propaganda, cachorros entram e saem do canil público a todo instante. Mas essa movimentação é algo novo, do início do ano para cá. Não foi sempre que o incentivo à adoção teve tantos adeptos na cidade. E não há garantia alguma de que continuará assim. Por isso, o pessoal da Zoonoses faz questão de destacar que, quando os animais não encontram donos, acabam sacrificados. A estrutura atual do órgão ligado à Secretaria de Saúde não permite que os cães fiquem ali por muito tempo. Quando chegam ao canil, o sangue deles é coletado. Os diagnosticados com doenças, como leishmaniose e raiva, vão direto para a mesa de sacrifício. Os sadios esperam adoção por 10 dias. Se ninguém aparecer nesse período, também têm a eutanásia como destino certo. O sacrifício não costuma durar mais que cinco minutos. Depois de ser amordaçado e receber uma anestesia geral, o animal fica desacordado e leva uma segunda agulhada, essa com um medicamento que rapidamente provoca uma parada cardiorrespiratória. ;Não conseguimos ficar mais de 10 dias com os cães. Só quando o canil está vazio, o que é difícil;, reforçou o médico veterinário da Zoonoses Geovani San Miguel. Além dos 20 cachorros (15 filhotes), havia ontem 10 gatos (sete filhotes) à espera de um dono. Adotar os animais é simples. Basta chegar, apontar o cachorro ou gato que deseja levar, fornecer nome, endereço e telefone e pronto: ele é seu. Quem quiser pode ainda reservar algum animal cujo resultado de exames ainda não saiu. Sadios Os cachorros só deixam a Zoonoses se estiverem sadios e com a vacina antirrábica aplicada. Os filhotes ganham ainda uma dose de vermífugo. Isso não isenta o novo dono, no entanto, de levá-los a um veterinário. ;Não basta adotar só porque ficou com pena. Tem que estar disposto a cuidar e ter consciência de que um animal de estimação gera custos;, comentou o veterinário San Miguel, ao conceituar o que chama de ;adoção responsável;. ;Cachorro é como se fosse criança: precisa comer, ir ao médico, passear%u2026;, completou a zootecnista da Zoonoses Kátia Helena Azevedo. É ela quem checa o resultado dos exames e libera os animais para a adoção. ;Esse aí não pode;, ponderou ela, referindo-se a um pit bull de 7 anos. ;A raça é violenta. Ele pode não se adaptar a um novo lar;, justificou San Miguel. Os cães que chegam à Zoonoses vêm de toda parte do Distrito Federal. São despejados no canil público sob a alegação de que ficaram velhos, de que não terão lugar na casa nova ou de que estão doentes, mesmo que, na maioria das vezes, a suspeita não seja confirmada nos exames. ;Quando alguém chega aqui querendo deixar o animal, nós não podemos dizer não. É melhor ficarem aqui do que serem largados na rua;, afirmou o veterinário San Miguel. No tempo em que permanecem no canil, os cães têm água e ração disponíveis. Banho, não. Velhos, sujos, maltratados, com cara de abandono, não importa. Mesmo assim, há quem queira cuidar desses cachorros do jeito que estão. Três poodles brancos, mas encardidos de sujeira, ganharam ontem à tarde o colo da comerciante Daniela Loyola, 38. ;Ninguém iria querer eles assim. Mas eu tenho dó, compaixão. E lavou, tá novo!”, comentou ela, antes de explicar: ;Não vão ficar comigo. Já tenho dois adotados. Mas já consegui dono para eles;. A estudante Nathália Vilela, 21, recebeu a notícia da adoção de cães por e-mail e convenceu o namorado Luis Carlos Martins, 22, a visitar o canil ontem. Eles ficaram de voltar. Os animais estão lá, à espera deles ou de quem quer que seja. ONDE FICA O canil fica no Lote 4 do Setor de Áreas Isoladas Norte (SAIN). Fica aberto todos os dias, das 8h às 18h. Aos sábados, domingos e feriados não é possível retirar animais, apenas deixá-los. Informações: 3341-2084. Na fila da adoção Até a tarde de ontem, 20 cachorros estavam à espera de adoção na Zoonoses de Brasília ; 15 filhotes e estes cinco listados abaixo. Todos estão sadios. Pelo menos outros cinco aguardam resultado do exame de leishmaniose para terem a adoção liberada. Passados 10 dias da chegada deles ao canil, os animais são sacrificados se ninguém os levar. ; Sem raça definida, fêmea, 6 anos, preta. Chegou de Águas Claras na última segunda-feira. Desde então, passa boa parte do tempo deitada no canto do canil. ; Labrador, macho, 4 anos, preto. Vivia em São Sebastião até o último dia 23. O dono disse que ele estava com leishmaniose, mas o exame feito no canil deu negativo. ; Sem raça e idade definidas, macho, branco. O dono mora em uma chácara de Taguatinga e o deixou há uma semana. Contou que o cachorro estava comendo as galinhas do quintal. ; Sem raça definida, fêmea, 2 anos, marrom. Chegou do Recanto das Emas no dia 22 deste mês. Divide o mesmo canil com o labrador (ao lado) e um vira-lata doente. ; Sem raça definida, fêmea, 15 anos, preta com branco. O dono, morador de Vicente Pires, a abandonou na última segunda-feira. Alegou que a cadela estava velha demais.

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