Cidades

Cuidados que são necessários ao escolher as babás

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postado em 01/02/2009 08:40
Na cadência da vida moderna, uma babá em casa pode ser a solução para não deixar crianças e bebês sozinhos enquanto os pais trabalham. Mas o que deveria proporcionar tranquilidade aos pais pode se tornar uma experiência traumática. Durante a semana, o Correio conversou com mães e pais que recorreram a empregadas domésticas para deixar os filhos. Ouviu histórias de afinidade e confiança. Mas também relatos de violência e covardia. As crescentes agressões causadas por babás no lares de Brasília figuram entre os casos de maus-tratos registrados pela Secretaria Especial de Direitos Humanos. No DF, as ocorrências de violência doméstica aumentaram 55% na comparação entre 2007 e 2008. São pelo menos três casos por dia. É claro que não se trata apenas de episódios envolvendo pessoas contratadas para cuidar das crianças ; os dados não separam se o agressor é a babá ou algum familiar ou conhecido da vítima. Mas não custa nada as famílias tomarem mais cuidados. A auxiliar odontológica Márcia Martins, 35 anos, viveu a experiência de manter uma agressora em casa. Durante um ano, pagou para que Marilene Ferreira do Nascimento, 32, desse carinho e atenção aos filhos de 4 e 2 anos enquanto estava fora. Foram oito meses até a primeira queixa do filho mais velho. ;Numa conversa com ele, ao perguntar como havia sido o dia, meu filho disse que a babá tinha batido no braço dele;, lembrou. A mãe não deu credibilidade a esse relato da criança. Comentou a denúncia com Marilene, que a negou. Dias depois, em outra conversa, o garoto contou para a mãe que o dia tinha sido bom, pois ele não tinha apanhado. Pouco a pouco, a mãe percebeu que o menino alegre e carinhoso se transformava em uma criança retraída e agressiva. Surgiram arranhões na pele. Dois meses depois da primeira reclamação, ela cedeu à desconfiança e pegou uma microcâmera emprestada para filmar uma tarde na sala de casa, em Santa Maria. A mulher chorou ao ver as imagens. No vídeo, Marilene gritava, dava beliscões, murros e chutes no menino de 4 anos. As agressões, que ocorreram por pelo menos dois meses, chegaram ao ponto de a mulher apertar as partes íntimas da criança, que se encolhia indefesa no canto do sofá. ;Senti uma culpa terrível;, contou Márcia. As cenas foram entregues à polícia em outubro do ano passado. ;A raiva passou, mas não sei se vou superar o trauma;, disse Márcia, que jamais confiará a integridade dos filhos a uma babá novamente. A vítima e o irmão estão sob os cuidados da avó; Marilene, detida no presídio feminino do DF, deve ir à julgamento na próxima quarta e pode pegar até quatro anos de prisão. Casos como o de Márcia são cada vez mais comuns no DF, unidade da Federação com o maior número de denúncias de violência contra criança por grupo de 100 mil habitantes. Nos últimos cinco anos foram 85, seguido pelo Maranhão (76) e Mato Grosso do Sul (75), segundo dados da Secretaria Especial de Direitos Humanos. Ainda conforme o órgão do governo federal, o número de agressões físicas e psicológicas contra crianças em Brasília aumentou de 718, em 2007, para 1.119 no ano passado ; registros feitos pelo Disque-Denúncia. Sintonia e diálogo Para o professor de serviço social da Universidade de Brasília (UnB) Vicente Faleiros, a falta de diálogo entre pais e filhos e de critérios na escolha das babás figuram entre as principais causas do aumento dos casos de agressões. ;A criança precisa estar em primeiro lugar. Eles não têm noção da gravidade da violência que sofrem e precisam confiar nos pais;, explicou. O especialista também alerta para os cuidados na hora de escolher a babá. ;É preciso ter referências e conhecer ao máximo a pessoa antes de contratar. Prevenir a agressão é a melhor forma de preservar a integridade dos filhos;, observou. Lucas Nascimento é uma criança de sorte. Com um ano e três meses, tem uma supermãe e uma superbabá. Ao fim da licença maternidade, a servidora pública Mariana Alvarenga, 31, não hesitou em trazer de Uberlândia (MG) a doméstica Emília Gonçalves, 53. ;Ela trabalhou por 10 anos na casa dos meus pais quando eu ainda morava lá. Sei que é de confiança;, disse a mineira, que vive na Asa Norte com o marido, Rodrigo. Entre Lucas e Emília tudo acaba em festa. ;Ele é uma criança maravilhosa, nem dá trabalho;, declarou a babá. O garoto retribui com sorrisos. Creche especializada A mesma sorte não teve a supervisora de atendimento Viviane Guedes, 33. Dezessete dias foram suficientes para que ela demitisse a babá que contratou para cuidar da filhota de 2 anos. ;Ela era malencarada e minha filha não estava à vontade. Um dia, ela levantou a voz comigo. Não quis nem imaginar o que faria com a criança;, contou. A solução foi ir para uma creche especializada, que a menina adora. O Sindicato dos Empregados Domésticos do DF reconhece que a desqualificação dos profissionais colabora para os relacionamentos conturbados nos lares de Brasília. Segundo o presidente da categoria, Antônio Barros, faltam políticas públicas para a formação. ;É uma triste realidade, mas não estamos preparados para o mercado, principalmente com relação às babás;, reconheceu. Hoje, há cerca de 110 mil domésticas no DF. Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense

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