postado em 03/02/2009 08:19
Três empresários acusados de lesar pelo menos 254 turistas do Distrito Federal vão responder criminalmente pelos prejuízos causados aos clientes. Donos da Impacto Turismo, Marcos Tiago Pereira, 37 anos, e Rafael Oliveira de Carvalho, 23, estão indiciados por estelionato e falsidade ideológica. A pena prevista para cada um dos crimes pode chegar a cinco anos de prisão. Laura Senatore, responsável pela Mix Turismo, também será indiciada nos próximos dias por estelionato. A Polícia Civil estimou em R$ 368 mil o prejuízo provocado pela empresária. No caso da Impacto, o montante não foi totalizado porque boa parte das vítimas ainda não foi ouvida.
As denúncias contra as empresas surgiram no fim do ano passado, pouco antes do réveillon. O inquérito que apura o caso da Mix Turismo está praticamente fechado. ;Falta só concluir o indiciamento de Laura Senatore. O que apuramos foi suficiente para nos convencer de que existiu a prática de estelionato;, explicou o delegado-chefe adjunto da 5ª Delegacia de Polícia, Marco Antônio de Almeida.
Procurada pela reportagem, Laura não retornou as ligações. Em depoimento, ela argumentou ter sido vítima da crise financeira. Alegou ter demorado a usar o dinheiro que recebeu dos clientes para pagar hospedagens e passagens aéreas. Com a alta repentina do dólar, teria ficado sem condições de honrar os compromissos. Oficialmente, a empresária lesou 55 pessoas. De acordo com o delegado Marco Antônio, contudo, ela usava milhagens de um cliente para pagar a passagem aérea de outro. E fazia o mesmo procedimento com os dados do cartão de crédito para reservar hotéis.
Registro inexistente
No caso da Impacto Turismo, 199 pessoas registraram queixa contra a empresa. Oficialmente, o inquérito foi instaurado na última sexta-feira (30) e, mesmo antes de ser concluído, a delegada Danielle Kahl indiciou Marcos Tiago e Rafael Oliveira por estelionato e falsidade ideológica. ;Nos contratos assinados com os clientes eles usavam um número de registro na Embratur que é de outra empresa e não tem validade alguma desde 2003. Por isso o indiciamento por falsidade ideológica;, justificou a titular da 3ª DP (Cruzeiro).
Uma equipe de investigadores vai a Arraial D;Ajuda, distrito de Porto Seguro (BA), para ouvir donos de pousadas e profissionais que intermediaram a negociação da Impacto. Eles também teriam ficado no prejuízo. ;Pelo menos 15 pessoas serão ouvidas. Donos de pousadas ainda não receberam o combinado, assim como pessoas que prestaram serviço para a Impacto lá;, antecipou Danielle.
Quando o escândalo veio à tona, na semana que antecedeu o réveillon, Marcos Tiago alegou ter sido vítima de clientes que emitiram cheques sem fundos. Por isso teria ficado sem dinheiro para comprar os abadás que vendera. Desde o princípio, garantiu que não era caloteiro e que devolveria o referente aos serviços não prestados. ;Não sei dizer se ele devolveu o dinheiro ou não. Se o fez e for condenado, poderá ter a pena reduzida;, disse a delegada.
A reportagem tentou falar com Marcos Tiago em três números de celulares. Ele não retornou os recados deixados na caixa-postal e o telefone fixo da agência não foi atendido. Turistas que viajavam em lua-de-mel, Francisco José Galeno Júnior, 27 anos, e Marilize Espíndola dos Santos, 32, entraram com processo contra a firma para receber o dinheiro de volta. ;O Marcos nos devolveu R$ 628 relativos a um dos trechos da passagem aérea que tivemos de pagar em dobro. Mas os R$ 1,6 mil referentes aos abadás que não foram comprados não recebemos;, afirmou Francisco.
De acordo com a delegada que apura o caso, a participação de Rafael Oliveira nos crimes é menor. ;Os depoimentos deixam claro que o dono do negócio era Marcos Tiago. Oficialmente, porém, a empresa está no nome do Rafael. É impossível deixá-lo fora;, detalhou Danielle. O advogado Terson Carvalho, responsável pela defesa de Rafael, disse que é cedo para falar sobre o caso. ;Vamos aguardar as investigações. Por enquanto, posso dizer que o desejo do Rafael é ressarcir todas as pessoas lesadas;, disse.
FIQUE ATENTO
# A relação entre o cliente e o agente de viagem se baseia na confiança. Por isso, procure referências de pessoas que já conheçam os serviços da empresa, como familiares e amigos que viajaram anteriormente.
# Consulte o Ministério do Turismo (www.cadastur.turismo.gov.br) e a Associação Brasileira de Agências de Viagem (www.abav.com.br) para ter informações sobre o histórico da agência.
# Verifique se os serviços oferecidos em materiais de divulgação e no contrato condizem com a realidade da viagem. Caso sejam de qualidade inferior, fotografe ou recolha outras provas para reivindicar o prejuízo nos órgãos responsáveis, como o Procon (telefone: 151).
# Em caso de suspeitas sobre o pacote, ligue para verificar se os serviços oferecidos estão assegurados. Telefone para averiguar se as reservas do hotel foram confirmadas e faça o check-in no aeroporto o quanto antes, por exemplo.
# No caso dos abadás, opte por comprá-los pelos sites oficiais ou nas lojas credenciadas, em Salvador. Agências parceiras oferecem as camisetas da folia em sites próprios, mas as empresas não se responsabilizam pela venda.
Fontes: Abav-DF, Polícia Civil e centrais de venda de abadás do carnaval de Salvador
entenda o caso
Viagens frustradas
Duas agências de turismo brasilienses frustraram o passeio de fim de ano de centenas de clientes ao deixar de pagar por pacotes já contratados. O primeiro caso foi o da Mix Turismo, sediada no Setor Hoteleiro Norte. A história foi noticiada pelo Correio em 24 de dezembro, quando muita gente já havia descoberto ter em mãos passagens falsas e reservas inexistentes em hotéis no Brasil e ; principalmente ; em outros países. Mais de 20 vítimas se viram nessa situação quando já estavam no exterior, a maioria nos EUA. Famílias inteiras viram o sonho ruir e tiveram que arcar com prejuízos para voltar. O inquérito policial localizou 55 pessoas lesadas, algumas em até R$ 50 mil.
O caso da Impacto Turismo, que funciona na Octogonal, veio à tona em 29 de dezembro, quando turistas brasilienses que embarcaram de ônibus e avião para passar o ano-novo em Arraial D;Ajuda, no litoral baiano, descobriram que não havia reservas nas pousadas nem abadás para os shows de axé programados para o réveillon. As investigações policiais identificaram 199 vítimas. A maioria dos clientes voltou frustrada para a capital.
Os donos da empresa foram acusados pelos turistas de não prestarem esclarecimentos quando surgiu o problema. Depois, Marcos Antonio, um dos sócios, culpou pagamentos feitos com cheques sem fundos pelo transtorno.