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Dos 2,4 mil ônibus do DF, 58 apresentaram defeitos em 2008

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postado em 06/02/2009 08:29
A precariedade da frota de ônibus do transporte coletivo do Distrito Federal fica evidente no relatório anual de vistoria. Na média, cada um dos 2,4 mil veículos apresentou 58 defeitos ao longo do ano passado. É como se todos eles apresentassem uma avaria a cada seis dias. Os fiscais constataram 140.490 defeitos. E são problemas graves, que podem comprometer a segurança dos passageiros e aumentar o risco de acidentes como o registrado na quarta-feira, perto do Balão do Aeroporto, que resultou em uma morte e em 53 feridos. Entre os mais recorrentes tipos de avaria estão as falhas elétricas (28,7% dos casos), estruturais (14,4%), de suspensão (8,11%) e nos freios (6,8%). A idade média da frota de cinco das 13 empresas cadastradas pelo governo para prestar o serviço varia entre sete anos e meio e 15 anos. São 816 carros nesta situação, ou 34% do total. Levantamento do DFTrans revela que as empresas de Wagner Canhedo, que também é o presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus do DF, são as que têm os veículos mais antigos. São elas a Viplan (cuja idade média da frota é de 8,6 anos), a Condor (13,6 anos) e a Lotaxi (15 anos). Juntas, colocam nas ruas 753 coletivos dos 2,4 mil existentes. O Correio tentou contato com o empresário, mas ele não retornou as ligações. A consequência dos números é a insatisfação do usuário. Na tarde de ontem, a reportagem percorreu pontos-chave da cidade e esteve na Rodoviária do Plano Piloto. Não foi difícil encontrar sinais de desleixo. No terminal da Asa Norte, ônibus com mais de 10 anos esperavam para rodar no horário de pico. A prova é o ano de fabricação ;1994;gravado no interior. Pneus carecas são uma constante. A parte elétrica também não escapa do descaso. Em um dos veículos, as lanternas traseiras estavam penduradas e a fiação, exposta. Em outro, o parachoque estava a ponto de despencar. Os motoristas têm medo de se expor, mas os entrevistados foram unânimes: há problemas corriqueiros com motor, freios e pneus. Pisca-alerta No caminho para a Rodoviária do Plano Piloto, pela Avenida W3 Norte, um ônibus parado exibia o sinal de pisca-alerta. Em frente ao ponto da 714 Norte, o carro da Viplan estava quebrado. O motorista contou que o câmbio havia falhado. Em três meses, é a quinta vez que o veículo enguiça. Além disso, havia apenas um adesivo que orientasse os passageiros a operar a saída de emergência. O aviso deveria estar em várias partes. Quando parou, o ônibus transportava 50 passageiros, que tiveram de aguardar outro veículo da mesma linha para seguir viagem. A estudante Lorena Morais Ribeiro, 25 anos, esperou pelo menos 40 minutos a próxima condução. ;A pirataria saiu, mas o descaso com o passageiro continua. Os ônibus estão sucateados, caindo aos pedaços, oferecendo riscos aos usuários e ainda poluem o meio ambiente. E na quarta-feira aconteceu o que aconteceu e uma pessoa morreu;, disse, revoltada. Seguindo caminho para a rodoviária, um dos veículos em movimento não disfarçava o problema na tampa do compartimento da bateria, que balançava. No terminal localizado no estacionamento do estádio Mané Garrincha, situação semelhante. Pneus carecas, latarias amassadas, fios das lanternas soltos. A aparência externa dos veículos denunciava o tempo avançado de uso. Ao comentar o acidente da última quarta, o governador José Roberto Arruda destacou que o programa de renovação da frota é uma meta a ser perseguida. ;Determinei à Secretaria de Transportes que prepare o instrumento legal de punição para as empresas que não cumprem o regulamento. Um deles é a lei que prevê a idade máxima de sete anos para os ônibus;, informou. Arruda lembrou, ainda, que dos 2,4 mil ônibus que rodam em Brasília, 1,1 mil são novos. ;Nós temos uns 900 e poucos ônibus antigos que precisam ser renovados. A minha determinação é que a Secretaria de Transporte haja com rigor, exatamente para evitar esse tipo de ocorrência;, finalizou. (Colaborou Pablo Rebello). Limitador aprovado Dentro de um ano, as empresas que fazem o transporte coletivo de passageiros no Distrito Federal terão de instalar nos ônibus um equipamento limitador de velocidade. A exigência está na Lei Distrital nº 4.308/09, publicada ontem no Diário Oficial do DF. O aparelho deverá ser regulado de forma a impedir que o condutor ultrapasse a velocidade máxima permitida no percurso da linha. Os custos relativos a compra, instalação e manutenção são das empresas e não podem ser repassados às passagens. A lei é de autoria do deputado Antônio Reguffe (PDT). Segundo ele, um levantamento feito pela sua assessoria revela que o aparelho custa entre R$ 800 e R$ 1 mil. ;A vida humana não tem preço. Uma apenas que seja salva por causa desse projeto já vale a pena;, avaliou o parlamentar. Reguffe destacou que muitas empresas têm em seus quadros pessoas dirigindo de forma irresponsável e colocando em risco a vida de várias pessoas. A regulagem do limitador de velocidade é constante. Se entre o ponto de partida e chegada o ônibus percorrer vias com velocidades diferentes ; algumas de 60km/h e outras de 80km/h, por exemplo ; o equipamento deve ser ajustado para não permitir que o velocímetro ultrapasse a velocidade máxima daquele trajeto, de 80km/h. ;É verdade que o motorista pode ultrapassar o limite em algum momento, quando estiver na via de 60km/h, mas não vai conseguir acelerar mais do que a velocidade máxima permitida no trajeto, como ocorre hoje;, destacou Reguffe. No Distrito Federal, 584 ônibus das empresas Planeta, Riacho Grande e São José já circulam com o equipamento. De acordo com Cristiano Dalton Mendes Tavares, diretor técnico do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), a diferença é que agora instalar o equipamento virou obrigação e quem não o fizer será punido com multa de R$ 5 mil por veículo que trafegue sem o limitador. ;A lei é boa. Traz benefícios para o transporte coletivo. E quando implantarmos o rastreamento via GPS, o limitador poderá ser programado para impedir excessos de velocidade de acordo com a regulamentação de cada uma das vias;, explicou. O Correio tentou ouvir Wagner Canhedo, presidente do sindicado das empresas de transporte coletivo, mas ele não retornou as ligações. O presidente do sindicato dos rodoviários, Saul Araújo da Silva, aprovou a medida. ;Isso é maravilhoso, uma medida inteligente e eficaz. Vai ajudar a rever a tabela de horários e fará com que as empresas parem de pressionar os motoristas para cumprir trajetos longos em curto período de tempo;, avaliou. (AB)

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