Cidades

Motorista coleciona pelo menos 75 pontos em infrações

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postado em 06/02/2009 09:11
Em um ano e meio, o motorista Gilson Mariano de Oliveira, 46 anos, cometeu 14 infrações de trânsito. Juntas, elas somam, no mínimo, 75 pontos. No mesmo período, ele teria se envolvido em sete acidentes sem vítimas, sendo considerado culpado em seis. Em função de prazos legais para a apresentação de recursos, Gilson não teve a carteira de habilitação suspensa. Na tarde de ontem, ele prestou depoimento no Hospital de Base do DF, onde permanece internado sem previsão de alta. Gilson negou a versão das testemunhas, de que estaria acima da velocidade permitida pela via, e afirmou que uma falha mecânica provocou o acidente na tarde da última quarta-feira, no viaduto do Balão do Aeroporto, em que uma pessoa morreu e 53 ficaram feridas. Apesar disso, a delegada Eneida Taquary, chefe da 11ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante), considera ter elementos suficientes para indiciar o motorista por homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco de morte) e lesão corporal. O inquérito deve ser concluído no fim da próxima semana. Os relatos de vítimas sobre suposta conduta arriscada de Gilson Mariano se somam à lista de infrações de trânsito que ele teria cometido. Documento a que o Correio teve acesso mostra que entre 31 de maio de 2007 e 20 de novembro do ano passado o homem teria sido flagrado sete vezes acima da velocidade permitida e pelo menos outras cinco por avançar o sinal vermelho. Juntas, as infrações somam, no mínimo, 75 pontos. Isso porque o excesso de velocidade pode ser punido com sete ou cinco pontos, dependendo da gravidade. Como ao completar um ano a multa caduca e os pontos são cancelados, Gilson Mariano estaria com 41 pontos em novembro de 2008, suficiente para que perdesse temporariamente o direito de dirigir (o limite é de 20). O Departamento de Trânsito (Detran), no entanto, reconhece apenas cinco infrações praticadas pelo condutor entre os meses de junho e outubro. São três por excesso de velocidade ; uma delas ainda é auto de infração e está no prazo de recurso ; e outras duas por avanço de sinal, totalizando 23 pontos em 26 de janeiro de 2009. A Viação Planeta informou ter encaminhado ofício ao órgão de trânsito em novembro com nomes de motoristas infratores, entre eles Gilson, para que a CNH fosse suspensa. Em nota, o Detran esclareceu que só pode suspender o direito de dirigir de um condutor ;com base no artigo 265 do Código de Trânsito Brasileiro, ou seja, obedecendo os prazos legais de recursos a que todos os infratores têm direito;. Além disso, informa que a decisão só pode ser tomada pela autoridade competente de trânsito, com fundamento legal e não por indicação de terceiros. A partir do momento em que é notificado, o condutor tem 30 dias para recorrer. ;Não houve negligência do Detran neste caso;, encerrou a nota. Inquérito Até ontem, 13 pessoas haviam sido ouvidas na 11ª DP. Todas afirmaram que Gilson dirigia em alta velocidade e que o veículo estava lotado. Uma testemunha que não estava no ônibus é considerada decisiva. Um homem que dirigia um Celta à frente do coletivo diz ter presenciado parte do percurso e o instante da capotagem. ;O senhor disse que viu o motorista correndo demais, pressionando-o. Ele chegou a ficar preocupado, achando que o ônibus poderia bater em sua traseira. Próximo ao viaduto, o motorista teria tentado reduzir, mas não conseguiu controlar o veículo;, relatou a delegada Eneida. Gilson sustentou no depoimento que o veículo estava em péssimas condições e que houve um estrondo. Ele acredita que a barra de direção quebrou. As 12 vitimas ouvidas negaram ter ouvido qualquer barulho. ;Elas confirmaram o jeito brusco e rude como ele dirigia, passando por buracos, buzinando e jogando o ônibus em cima dos carros;, disse Eneida. O motorista alegou ainda que nunca havia sido demitido. ;Ele contou que já trabalhou na Anapolina e na Moura Transportes, que sempre foi profissional e que, quando se envolveu em acidentes, a culpa não havia sido dele;, completou a delegada. O dono da Moura Transportes confirmou que Gilson foi funcionário da empresa por 30 dias em 2004. ;Mas não temos registros da conduta dele, já que faz muito tempo;, alegou. O único ponto em que o depoimento de Gilson foi coerente com o das vítimas foi quanto ao número de passageiros. Ele disse que haveria mais de 80 pessoas no ônibus. ;Quanto mais gente, mais fácil de o ônibus tombar em curva fechada;, avaliou Eneida. A delegada aguarda o laudo da perícia feita no veículo e as infrações de trânsito de Gilson. Também ouvirá representantes da empresa. ;Se houve alguma omissão da Viação Planeta, ela pode ser indiciada pelos mesmos crimes. Mas, por enquanto, é apenas responsabilizada civilmente e terá que indenizar as vítimas;, acrescentou. Hoje, mais vítimas serão ouvidas. Seis seguem internadas. O caso mais grave é de José Nilton Pedro, sedado e respirando com ajuda de aparelhos. De acordo com o boletim médico divulgado ontem, ele não corre risco de morte.

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