Cidades

Polícia mapeia pontos onde adolescentes costumam se reunir para confrontos

;

postado em 10/02/2009 08:00
Um garoto de 15 anos, com o dedo quebrado e um hematoma em cada olho, admitiu ontem à polícia a participação na briga ocorrida sexta-feira no Parque da Cidade. Segundo a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), o local está entre os cinco principais pontos de lutas marcadas por jovens de classe média via internet. Acompanhado dos pais, o aluno de uma escola particular do Plano Piloto confirmou a rixa entre jovens moradores do Sudoeste e da 310 Sul. Revelou, ainda, que confrontos como o que terminou com dezenas de adolescentes encaminhados à delegacia são frequentes entre os dois grupos. A DCA conseguiu mapear cinco lugares onde costumam ser marcadas as lutas. No Parque da Cidade, as brigas ocorrem próximo às escolas das quadras 900. O estacionamento do Shopping Pier 21 é outro palco da pancadaria, geralmente nos fins de semana. As quadras residenciais da 310 Sul e 314 Norte também aparecem no levantamento por conta da proximidade com colégios particulares. Por fim, o gramado entre as quadras 106 e 107 Sul, atrás do Cine Brasília, é conhecido por virar ringue com frequencia. Um dos lugares mais visados pela garotada é a 310 Sul, onde mora um dos envolvidos na confusão no Parque da Cidade. A presença dos brigões foi inclusive flagrada pelo circuito interno de TV do Bloco J, que filmou a movimentação dos estudantes na quadra na última sexta-feira. Segundo porteiros de prédios ao redor da praça central, os meninos brigaram antes e depois de irem ao Parque. As câmeras não gravaram agressões, mas capturaram um grupo de pelo menos 30 jovens. Uns tiram a camisa e se alongam. Outros fingem brigar. A briga mais feia, de acordo com os porteiros, ocorreu por volta das 18h30, logo depois de a turma ser afugentada pela polícia no Parque da Cidade. Dois garotos trocaram pancadas na praça da 310 Sul, onde as câmeras não alcançam. Dessa vez, o desentendimento não ficou restrito a dois adolescentes. Mais gente aderiu. ;Quem escapou veio para cá. Fiquei preocupado de eles se matarem;, disse um funcionário. Segundo ele, moradores gritaram das janelas. Um homem desceu do apartamento com um cassetete na mão, para dispersar os arruaceiros. Os porteiros contam que todas as sextas-feiras, alunos uniformizados se reúnem na mesma praça da quadra para beber refrigerante com vodca. A reunião, muitas vezes, acaba em briga. Os empregados do bloco identificam dois moradores da residencial. O resto, segundo eles, chega do Cruzeiro, Guará, asas Sul e Norte. ;Mas a reunião é aqui. Eles ficam por aí, só falando de porrada;, completou um deles, que também viu a pancadaria de sexta. ;Pulavam em cima da cabeça do menino. É uma coisa que não dá para entender;, resumiu.
Passional O rapaz de 15 anos que admitiu ter brigado acrescentou na conversa com a polícia que o motivo do desentendimento com o rival, também de 15 anos, seria uma menina. A garota, moradora do Sudoeste, teria ficado com alguém da 310 Sul e desencadeado a briga. Mais de 100 estudantes se reuniram para assistir à disputa. ;São sempre motivos banais e fúteis que movem esses garotos que têm de tudo. Nada justifica essas agressões. Quem está na plateia hoje pode estar um dia entre os brigões;, afirmou a delegada-chefe da DCA, Eliana Clemente. Segundo ela, os pais do jovem se surpreenderam ao descobrir a participação dele no episódio. Descreveram-no como de temperamento tranquilo e afastado de confusões. Um contraste com as atitudes do estudante no Parque da Cidade. Segundo adolescentes presentes ao local, ele venceu a luta. E só parou de esmurrar o adversário ao quebrar um dos dedos. ;Cabe aos pais conhecerem melhor seus filhos. Cabe a eles descobrir quem é esse garoto que convive com eles diariamente;, avaliou a delegada. O jovem de 15 anos ouvido ontem pode ser acusado de lesão corporal. Se isso ocorrer, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê punições que variam de advertência até internação em centros especializados. As informações passadas por ele também servirão para a identificação do outro envolvido. A previsão é de que ele preste depoimento até o fim da semana. A DCA também identificou um dos responsáveis por gravar e divulgar as lutas. As imagens, feitas por celulares, acabaram na internet. Também revelam os apelidos de alguns deles, que adotam nomes de lutadores profissionais para dificultar o acesso ao conteúdo. A maioria das gravações foi retirada da rede depois que as imagens foram veiculadas na televisão. Mas podem ser vistas no site do Correio. Na cola dos briguentos O Correio ouviu dos próprios alunos de escolas particulares o que eles pensam sobre episódios como o da última sexta-feira. A maioria disse que os socos e pontapés viraram rotina. E que sempre surgem por motivos fúteis, muitas vezes por ciúmes. ;É gente marrenta. Um quer ser mais que o outro e aí parte pra briga;, comentou uma aluna de 16 anos, que aguardava o fim da aula, na 906 Sul, para encontrar os amigos. As rixas entre as escolas começam, segundo a garotada, a partir de um caso isolado. ;Neguinho marca de jogar bola e cai na porrada. Aí, no dia seguinte, têm 15, 20 na porta da escola para revidar;, disse um rapaz de 18 anos que concluiu o ensino médio no La Salle, no ano passado, e ontem estava na porta do colégio. A maioria dos alunos envolvidos na confusão do fim da semana passada vestia uniformes do La Salle e do Sigma. Nos dias de pancadaria, a notícia se espalha rápido entre as salas. Os curiosos se aglomeram e, na hora da saída, seguem os brigões como se saíssem em procissão. Muitas vezes, no entanto, a confusão ocorre sem hora marcada. ;Vem um grupo de outra escola e fica na porta. Aí, olhou feio, encarou sem motivo, tem briga;, explicou um rapaz de 17 anos, do Sigma. O advogado Ronaldo Cavalcanti, 47, tem dois filhos no La Salle, um de 17 e uma de 15, e faz questão de deixá-los e buscá-los na porta do colégio. ;Já tive a idade deles. Por isso, procuro conhecer a turma com quem eles andam e também saber o que eles fazem na internet;, comentou.
Veja vídeos das brigas no Parque da Cidade

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação