postado em 15/02/2009 07:00
[VIDEO1]Em um dia torrencial de chuva, com ventos de 40km/h, três amigos, os atores Saulo Pinheiro, 22, Daniel Villas Bôas, 21, e Leônidas Fontes, 37, estavam tomando suco na comercial 202 Norte. A quadra ficou inundada e, ao salvar o carro que estava sendo arrastado pela correnteza, Leônidas Fontes virou o hit do YouTube. Os amigos narraram as aventuras dele pela enchente e fizeram todos rir com frases hilárias, como "o herói do Brasil", "a luta do homem contra a natureza" e a "borboleta urbana". Foi o suficiente para o trio conquistar Brasília. Eles são protagonistas do vídeo O Herói Leônidas Fontes (Josymar, o surfista de Brasília), o quarto vídeo de comédia mais visto no YouTube e o décimo mais comentado do país. O sucesso aconteceu em apenas três semanas e já tirou gargalhadas de todas as rodas de conversa. Os três são atores. Leônidas também é funcionário da administração do Sesc. A convite da Revista, eles visitaram os mesmos lugares onde rodaram o vídeo. O resultado? Cumprimento de quase todos por quem cruzaram e uma entrevista muito engraçada.O que vocês foram fazer em um dia de temporal na 202 Norte?
Leônidas: Fazemos parte de dois grupos de teatro Anônimos da Silva e Sete Belos). A gente estava com ensaio marcado na 202 Norte, na casa do Saulo. Eu cheguei, estacionei o carro no bloco e começou a cair um toró enorme. Choveu muito. Saulo e Daniel chegaram depois de mim. Em vez da gente começar o ensaio, eles resolveram tomar açaí na comercial. Eu ia ter que molhar o pé e tomar chuva para ir à lanchonete, e não queria. Fiquei emburrado, porque já estávamos atrasados para o ensaio. Eles me encheram tanto que eu resolvi ir. Só de sair do bloco e ir para a comercial, me molhei inteiro.
Por que você foi parar aquele carro?
Leônidas: Quando eu cheguei lá, a comercial já estava inundada. Parecia a correnteza de um rio. As motos estavam derrubadas, os carros estavam submersos até o pára-choque. De repente, chega uma mulher balançando a chave do carro pedindo socorro porque o dela estava sendo arrastado. Ninguém se manifestou. Eu tirei o tênis e resolvi salvar o carro, porque ele ia ser levado pela enxurrada. No vídeo dá para ver que ele andou muito. Se eu não tivesse feito nada, o carro seria carregado até a L2. Quando eu abri a porta, o carro começou a ser levado. Apesar de ele estar com o freio de mão puxado, eu puxei mais ainda, engatei a primeira e virei o volante. Caso o carro fosse arrastado, ele subiria no meio fio.
Mas por que vocês começaram a filmar?
Daniel: Eu estava de mochila e a câmara estava dentro. Era uma máquina fotográfica digital comum. Comecei a filmar e tirar fotos igual a todo mundo, porque a quantidade de água era absurda. Já estava com ela na mão. Quando o Leônidas foi salvar o carro da mulher, comecei a filmar, como quem não quer nada. Saulo não viu a cena por que estava dentro da lanchonete e, quando ele saiu, começou a gritar: "Ele está salvando o carro! O herói de Brasília". Depois disso, começamos a brincar e a gritar, o pessoal atrás ria. O Leônidas salvou o carro da mulher, escutou a gritaria e começou a se empolgar.
Se tudo começou tão sério, como virou uma brincadeira?
Leônidas: Eu escutei o pessoal gritando e comecei a andar em câmera lenta para entrar no espírito da brincadeira. Pensei comigo mesmo: ;A leptospirose, os bichos-de-pé, as micoses e os vermes que eu já tinha que pegar, eu já peguei. Já que eu estou lascado mesmo, vou é entrar nessa água e zoar.; Comecei no orelhão, depois fui para o meio da rua e comecei a fingir que ia me afogar. Tive a minha briga com a natureza. Eu gritava: ;É só isso que você pode?;. Mas não dá para entender no vídeo. Eu me diverti à beça. Sabe avós que dizem para os netos que já nadaram muito no rio Tietê? Eu vou poder passar na 202 e falar para os meus netos: já nadei muito nessa rua aí.
Todo mundo quer saber: você pegou leptospirose?
Leônidas: Eu me ralei todo, bebi muita água. Por isso, fiz um monte de exames para saber se eu peguei alguma coisa. Não existe uma doença que tenha dado reagente. Estou até impressionado, porque todo mundo tem uns vermezinhos. Eu não tenho nada! Acho que os meus vermes mataram os que eu peguei naquele dia. Fiquei sem nenhum.
E as famílias de vocês, como reagiram quando viram o vídeo?
Saulo: Depois de tudo, eu cheguei em casa com o Leônidas e o Daniel. Minha mãe gritou: ;Saulo, tem um doido no meio da rua andando de cueca. Um bêbado louco!’. Quando eu falei que era o Leônidas, ela não acreditou. As pessoas acham que ele é super sério. Depois, a minha mãe viu o vídeo, disse que foi engraçado, mas algumas atitudes foram reprováveis.
De onde vocês inventaram a história da borboleta urbana?
Saulo: O Leônidas estava lá no meio e eu comecei a pensar: ;Se ele nadasse, ia ser muito engraçado;. Borboleta foi a modalidade mais engraçada que eu consegui pensar. Ninguém sabia que ele ia fazer isso. Eu pensei na hora, gritei e ele improvisou ali no meio da rua.
Mas alguma coisa foi combinada?
Daniel: Em uma das nossas companhias, a Anônimos da Silva, fazemos todo o espetáculo com improviso. No dia do espetáculo, o público não sabe o que vai ver e nós não sabemos o que vamos apresentar. A gente trabalha com um cardápio e cada dia é uma coisa nova. Improviso é o que nós gostamos de fazer no teatro. Então, tudo que passou no vídeo foi improviso, porque é o que fazemos. Enquanto eu e Saulo narrávamos, a gente estava morrendo de rir do Leônidas. Nada foi combinado.
Como as pessoas reagiam no meio da rua?
Daniel: Tem muita coisa que não dá para ouvir no vídeo. O que é uma pena. As pessoas gargalhavam. Na hora que Leônidas fez o fio-dental, umas mulheres começaram a gritar. Tem sirene na hora que nós gritamos: ;Olha a polícia!’. Foi uma loucura, as pessoas tiravam foto, filmavam, se manifestavam. Rimos muito.
Por que vocês colocaram no YouTube?
Daniel: Como tinha um monte de gente filmando, algumas pessoas colocaram o vídeo antes da gente. No dia seguinte, um outro integrante da nossa companhia foi procurar no YouTube algum vídeo sobre a enchente. E achou um vídeo de uma pessoa desconhecida que filmou o Leônidas tomando um caldo. Ele tinha um minuto, era editado e com música, e o nome era: Josimar, o surfista de Brasília. Rimos muito, porque tinham dado um nome para o Leônidas. O vídeo tinha virado um sucesso, então resolvemos postar o nosso que estava muito mais engraçado. Só que tinha 20 minutos de duração, editamos e tiramos um monte de parte para não ficar muito longo. Tem um monte de imagens que a gente não usou.
Vocês divulgaram muito o link?
Daniel: O pessoal da quadra que viu a gente filmando pedia para colocar no YouTube. Nós falamos para procurarem o vídeo com o nome da nossa companhia: Sete Belos ou Anônimos da Silva. Nós só colocamos 18 dias depois da filmagem. Em uma semana, já era um dos vídeos mais comentados do YouTube. A princípio só postamos lá e encaminhamos para amigos. Por causa do sucesso, mandamos para blogs de comédia famosos, mas não conseguimos entrar em muitos.
As pessoas reconhecem vocês na rua?
Daniel: As pessoas vêm me perguntar se eu já tinha visto o vídeo, sem saber que eu tinha filmado. Virou assunto. Tenho amigos que receberam o vídeo dos pais.
Leônidas: Eu tenho cinco amigos novos por dia no Orkut. Fizeram comunidades para mim: Leônidas, o herói brasileiro.
Vocês tinham bebido no dia?
Leônidas: Ao contrário do que muitas pessoas possam pensar, nós não bebemos muito. Os meninos não colocam uma gota de álcool na boca, eu ainda curto uma cervejinha de vez em quando. Naquele dia, nós não tínhamos bebido nada. Muito menos usado drogas. Já vimos fóruns de pessoas discutindo o que teríamos usado antes de filmar.
Todo mundo curtiu o vídeo ou vocês receberam muitas críticas?
Leônidas: Teve gente que comentou coisas ofensivas, injustas e desagradáveis. Não é comum as pessoas fazerem besteira na enxurrada, porém eu não estava fazendo nada demais. Eu não estraguei o patrimônio de ninguém, não fiz vandalismo, não molhei ninguém. A única coisa que eu fiz foi me molhar. Se eu não sou um herói por que salvei um carro de uma desconhecida, eu também não sou nenhum vilão. Não fiz nada de errado. Então, me comparar com pessoas que queimaram índios ou outros vandalismos, não procede.