Cidades

Fim de semana com seis mortos em quatro acidentes

Foi o final de semana mais violento no trânsito neste ano. Consumo de álcool e má conservação de carro de 1976 podem ter provocado três das tragédias

postado em 16/02/2009 08:37
Quatro acidentes, seis mortos pela violência das pistas do Distrito Federal no final de semana. Tragédias causadas pela perigosa mistura de álcool e direção, imprudência e má conservação de veículos. O Corpo de Bombeiros atendeu a 60 chamados de socorro entre sábado e domingo ; os dois dias mais violentos no trânsito em 2009. A batida mais grave aconteceu ontem à tarde. A colisão frontal entre uma Brasília e uma Silverado deixou três mortos na DF-450, que liga Ceilândia a Brazlândia. Na noite de sábado, um motorista que bebeu antes de dirigir atropelou uma família que andava de bicicleta no Park Way, matou um garoto de 14 anos e feriu o pai e a irmã. Ele fugiu, mas acabou preso. Eram 21h de sábado quando o zelador Arinovaldo Marques da Silva foi buscar os filhos na passarela que fica na altura da quadra 26 do Park Way. Chovia e eles ligaram pedindo carona ao pai para chegar em casa, a cerca de 1km, na quadra 27, onde moram há oito anos. Larissa Nogueira Marques, 13 anos, e Maxwell Marques da Silva, 14, tinham ido passear no Conjunto Nacional e voltaram de ônibus. ;Peguei o carro para buscá-los, mas (o carro) não ligou. Então peguei a bicicleta e fui levar dois guarda-chuvas para eles;, contou o pai. Eles voltavam para casa juntos, às margens da pista marginal do Park Way. O pai empurrava a bicicleta e os filhos caminhavam ao lado dele. A família não viu quando o Ford Escort (GWA-2109/DF) se aproximou deles por trás. O veículo, conduzido pelo funcionário público Kleiber Caetano de Moraes, 59 anos, atingiu os três. Maxwell morreu na hora. A irmã passou a noite no Hospital de Base, mas foi liberada e passa bem. Ao pai restou um corte na perna e o estado de choque diante da tragédia. ;Quando levantei não vi meus filhos, nem vi a bicicleta. Aí a Larissa se levantou e encontrei o Maxwell no chão. Peguei ele pelos ombros e gritei: ;Maxwell, meu filho, acorda!’ Mas ele bateu a cabeça e quebrou o pescoço;, lembrou Silva, com os olhos marejados. Kleiber não parou para prestar socorro. Seguiu com o carro, mas perdeu o parachoque e a placa. ;Ele parou uns 500 metros na frente. Parece que estava sozinho mesmo. Não dava para vê-lo de onde ficamos;, disse o zelador. O motorista foi detido pelo delegado de polícia Sérgio Bautzer, lotado no Gama, que passava pelo local e socorreu os feridos. O policial desconfiou que ele havia bebido e chamou uma viatura para fazer o teste bafômetro, que comprovou estado de embriaguez: apontou uma concentração de 0,8 miligramas de álcool por litro de ar expirado, mais que o dobro que o tolerado pela legislação. O motorista foi preso e autuado por homicídio doloso (quando há intenção de matar). Também vai responder por duas tentativas de homicídio, além da omissão de socorro. Kleiber está preso na 11ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante), onde a ocorrência foi registrada. O corpo do adolescente foi enterrado no cemitério Campo da Esperança às 17h de ontem. Batida na DF-450 A falta de manutenção em um carro fabricado há 33 anos pode ser a causa do acidente que matou três pessoas e feriu outras quatro. Todos os mortos estavam na Brasília (JDP-7397/DF), de 1976, que se chocou de frente com a Silverado (BUM-1910) na DF-450. Testemunhas contaram que o capô da Brasília se abriu, enquanto o carro descia de Ceilândia rumo a Brazlândia. O motorista Gilcimar Pinto de Araújo, 29 anos, perdeu o controle do veículo e invadiu a faixa contrária, onde a Silverado trafegava. Com o impacto da batida, os dois carros capotaram e ficaram destruídos. Gilcimar, Edilton Alves, 42, e José Marques de Lima, 58, morreram na hora. Eles ficaram presos nas ferragens e os militares do Corpo de Bombeiros tiveram que serrar a lataria da Brasília para retirar os corpos. Os três amigos estavam na casa da mãe de Gilcimar, comemorando o aniversário dela, e iam para a chácara do irmão de Edilton. ;É meu terceiro irmão que morre de forma trágica. Imagina como está minha mãe em casa;, comentou uma irmã do motorista da Brasília, que não quis se identificar. Os ocupantes da caminhonete, Joverci Martins Lucena, 72 anos, João da Cruz de Lucena, 50, Aline Araújo de Lucena, 15, e Júlia Lucena de Sá, 10, ficaram feridos, mas não correm risco de morrer. A família foi socorrida ao Hospital Regional de Ceilândia, onde permanecia em observação até o fechamento desta edição. A 24ª DP (Ceilândia) instaurou inquérito para apurar quem causou o acidente. Mas o delegado plantonista, Ailton Rodrigues, acredita que o mau estado de conservação da Brasília provocou a batida. O delegado também não descarta que os veículos estivessem em alta velocidade ;pelo estado que ficaram depois da batida;. Cochilada ao volante Outros dois jovens perderam a vida no trânsito durante o fim de semana. O estudante de engenharia civil Rafael Alves Soares, 21, morreu durante a capotagem de um Gol (JHV-0908/DF) na Estrada Parque Industria Abastecimento (Epia), ao lado da Água Mineral. Ele estava sem cinto de segurança e foi arremessado do veículo quando o motorista, seu amigo, cochilou no volante após uma noite de balada. Carlos Rodrigues, estudante de administração, fez o teste do bafômetro, que não acusou embriaguez. O acidente ocorreu às 8h de ontem. Os dois amigos ; e outros em mais dois carros ; saíram da região dos condomínios de Sobradinho para uma festa nos arredores do Gama por volta das 22h. No início da manhã, a turma se encontrou no posto Flamingo, já no caminho de Sobradinho, para lanchar. Antes de voltar para casa, Carlos foi a Taguatinga deixar duas meninas que tinha conhecido na festa. ;Ele me disse que estava cansado e cochilou na volta, ali perto do Parque da Água Mineral, perdendo o controle;, contou o delegado plantonista da 2ª DP (Asa Norte), Laércio de Carvalho Alves. Carlos usava cinto de segurança e sofreu apenas escoriações. Já Rafael foi arremessado para fora do carro quando a porta abriu. Ele morreu na hora. Carlos pode responder por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). Rafael morava em Brasília havia menos de dois anos. Veio continuar o curso superior que começou em Belo Horizonte e não demorou a fazer bons amigos. No perfil dele no site de relacionamentos Orkut, dezenas de pessoas deixaram recados de pesar durante todo o dia de ontem. Ultrapassagem Em Planaltina, o motociclista Hildark Andrade Lima, 25, morreu ao bater de frente com o Fiat Uno (JGL-4482/DF) conduzido por André Quintino Bocayúva, 41. Segundo informações preliminares da Polícia Civil, os veículos trafegavam em sentido contrário na via que liga Planaltina ao Arapoanga, quando o carro tentou fazer uma ultrapassagem e atingiu a moto Honda NXR 150 (JJF-0725/DF), pilotada por Hildark. Chovia forte no momento do acidente, por volta das 20h de sábado. André apresentava sinais de embriaguez, mas se negou a fazer o teste do bafômetro. Ele sofreu escoriações e foi internado no Hospital Regional de Planaltina. A polícia vai pedir ao hospital exames que possam comprovar que ele tinha bebido antes de assumir o volante. A ocorrência foi registrada como homicídio culposo (sem intenção de matar). A família de Hildark não foi localizada. Não havia ninguém em casa ontem e nenhum familiar esteve no Instituto Médico Legal (IML) até o fechamento desta edição para retirar o corpo.

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