postado em 18/02/2009 08:58
De manhã, aula. À tarde, trabalho pesado entre sacos de lixo e tratores no aterro da Estrutural em busca de latinhas de alumínio. O uniforme cinza com a sigla da escola pública entrega Rafael*. Aos 14 anos, o menino estuda na 6ª série do ensino fundamental todas as manhãs. E passa o resto do dia no Lixão para aumentar a renda da família. ;Chego da aula, almoço e venho para cá desde os 12 anos;, conta o garoto. A labuta, ilegal segundo a Constituição, não deixa nem tempo nem disposição para fazer o dever de casa ou estudar. Rafael já reprovou três vezes.
Ontem, um mês depois de o Correio Braziliense denunciar a presença de crianças trabalhando no lugar, Rafael estava acompanhado do primo que também tem 14 anos. Os dois e outros meninos trabalhavam no Lixão, no mesmo momento em que representantes do Governo do Distrito Federal apresentavam as medidas de combate à mão-de-obra de crianças e adolescentes entre os catadores. As ações vieram como uma resposta ao Fórum de Erradicação do Trabalho Infantil após a matéria do Correio e foram discutidas no salão da Associação Viver, que funciona ao lado do aterro. ;O fórum vai acompanhar a execução de cada um desses compromissos que fazem parte do Plano Distrital de Erradicação do Trabalho Infantil;, observou a articuladora social Maria do Socorro Gomes Leitão que, junto com a promotora de Defesa da Infância e da Juventude Luisa de Marillac, presidiu a reunião. O fórum é formado por entidades civis e pelo Ministério Público.
Ao todo, quatro secretarias apresentaram programas para a Estrutural como parte de uma política de apoio financeiro às famílias e também como forma de preencher o tempo dos meninos e meninas. A Secretaria de Educação comprometeu-se a inaugurar até o meio do ano três escolas, uma das quais um jardim de infância. ;Temos uma demanda grande de crianças na educação infantil;, admitiu a psicóloga escolar Lucíola Marques, técnica da Assessoria Especial da secretaria. Já a Secretaria de Transferência de Renda e Assistência Social apresentou o plano de construir um Centro de Orientação Socioeducativa (Cose) para oferecer atividade às crianças e aos jovens no contraturno da escola.
Formação profissional
;Na primeira semana de março, vamos montar a Tenda do Trabalhador na Estrutural para oferecer formação à população. Na primeira fase, serão 300 vagas com encaminhamento para o emprego;, garantiu o secretário de Trabalho, Robson Rodovalho. Por fim, a Secretaria de Esporte reiterou o plano de construir a Vila Olímpica da Estrutural. O desafio, nesse caso, é encontrar o local para erguer o centro. O que havia sido escolhido não suporta a obra devido à quantidade de lixo no subsolo.
;Se tivesse outra coisa para fazer eu até faria;, disse Lucas*, de 12 anos, que catava entulho em meio aos restos da construção civil. Cada quilo coletado vale apenas R$ 0,10 para o menino. ;É o que menos vale aqui, mas é o mais fácil de achar;, disse. Com o dinheiro, ele conta que compra lanche na escola e pão para casa. O vizinho dele, apenas um ano mais velho, também passa as tardes no aterro. Robson* está na 5ª série e ganha bolsa de apoio financeiro do governo. ;O dinheiro não dá e, por isso, a gente sobe para o Lixão. Tenho que levar dinheiro para casa para ajudar meus irmãos;, explicou o garoto.