postado em 19/02/2009 08:41
O desperdício de dinheiro é uma doença que maltrata a área de saúde pública no Distrito Federal. Ele está no excesso de gastos com medicamentos, produtos hospitalares, refeições, contas de água e luz. A diferença de preço de remédios comprados na capital federal, em alguns casos, chegou a ser 65% superior em relação ao praticado em outros contratos.
Um exemplo é a ampola de Interferona Beta (usada no tratamento da hepatite e da escle-rose múltipla). Comprada a R$ 1.013,52 na penúltima aquisição da Secretaria de Saúde, ela agora é adquirida por R$ 670,78 (leia arte). No caso dos comprimidos de Sevelamer (hidrocloreto), medicamento usado por doentes renais, o órgão pagava por 500 mil unidades cerca de R$ 1 milhão a mais do que outros clientes do mesmo fornecedor.
Enquanto pacientes reclamam que faltam remédios nas farmácias dos postos e hospitais, outros tantos são jogados fora. Estima-se que a perda de unidades de medicamento seja de 25% a 40%. Cartelas, em que apenas algumas unidades são utilizadas, acabam descartadas, sem o aproveitamento das que sobraram.
No consumo de água e luz não é muito diferente. Detectou-se que o Hospital Regional de Taguatinga (HRT) gastava mais água, por mês, que o Hospital de Base do DF, o maior da rede, que concentra o mais elevado número de atendimentos diários. ;Isso é inadmissível. Desproporcional esse gasto em Taguatinga;, critica o próprio secretário de Saúde, Augusto Carvalho. A Secretaria de Saúde também teve de pagar R$ 480 mil, no ano passado, somente de multa por atraso no pagamento das contas de água e luz de hospitais públicos.
Economia de R$ 11 mi
Um mal que atravessou diversas gestões. Mas os prejuízos vêm sendo contabilizados. O diagnóstico do desperdício está num levantamento do Instituto Nacional de Desenvolvimento Gerencial feito em parceria com a Secretaria de Saúde. Depois de identificar os ralos, o órgão do GDF colocou em prática um plano de ação para reverter o desperdício em economia. E já foi possível impedir que R$ 11 milhões fossem para o lixo nos últimos três meses de 2008.
Os gastos com farmácia, que chegam a R$ 130 milhões por ano, ainda podem ser diminuídos em 30%, com a introdução da dosagem individualizada dos medicamentos. As contas de água já foram reduzidas em alguns casos.
A do HRT caiu de R$ 50 mil para R$ 23 mil por mês.
;O nosso grande desafio é medir a eficiência, encontrar os problemas para poder gerir. Fomos pesquisar, renegociar e vimos como estávamos gastando além do necessário;, aponta Augusto Carvalho, que acaba de completar seis meses à frente da Secretaria de Saúde. Conhecido até então como parlamentar pela forte atuação fiscalizadora dos gastos públicos, Augusto está tendo de aplicar agora seu antídoto na própria veia. ;O sentido para eu estar aqui é esse;, diz.
Código de barras
O Hospital Regional de Samambaia era outra ponta de desperdício que se tornou exemplo de economia. Havia um certo descontrole no fornecimento de refeições da cantina que atende aos servidores. Uma simples mudança de procedimento na hora de identificar o beneficiado gerou uma redução de 900 refeições por mês, o representa hoje uma economia de R$ 108 mil por ano.
O servidor Severino Alves da Fonseca Filho percebeu que havia uma forma de racionalizar o fornecimento de comida. Introduziu um código de barras nos crachás que indica e controla os créditos que cada servidor dispõe. Antes, o controle era apenas por assinatura em ficha de papel. ;Foi uma solução até simples que trouxe um efeito imediato;, conta Fonseca Filho, atual diretor administrativo do hospital.
O modelo será adotado em toda a rede hospitalar. A previsão é gastar 30% a menos com refeições. Funcionários da Secretaria de Saúde passam por treinamento para identificar os ralos por onde escorre o dinheiro público e apresentar sugestões de solução.