postado em 20/02/2009 07:50
Pode parecer brincadeira de criança, mas o modelismo ; a reprodução de objetos em miniaturas perfeitas ; é levado a sério por muita gente grande. Aviões, trens, casas e árvores são construídos em tamanhos menores, com total respeito à proporção dos originais. Dos soldadinhos de chumbo, usados há centenas de anos para o planejamento de batalhas, à reprodução fiel de máquinas de transporte modernas, o hobby, muito além de um simples passatempo, é considerado uma arte pelos adeptos.
;É um trabalho que nunca termina. Cada vez que olho para uma maquete, mudo ou acrescento algum detalhe;, conta o ferreomodelista Magno Vieira da Silva, 60 anos. Ferreomodelismo é uma modalidade na qual todos os aspectos de uma rede ferroviária são reproduzidos. Magno não só monta trens e trilhos peça por peça, como cria todo o ambiente por onde a locomotiva vai passar. Montanhas, vegetação, fábricas, estações, igrejas e pessoas são reproduzidas em escala 87 vezes menor que a real para conferir veracidade à maquete. Segundo o ferreomodelista, o hobby é tão sofisticado que são necessários conhecimentos em eletrônica, mecânica, engenharia e artes plásticas .
Além do perfeccionismo, a criatividade é um ingrediente imprescindível. ;Nós experimentamos vários materiais. O importante é que as réplicas pareçam reais nos mínimos detalhes;, explica Magno. Arame, isopor, serragem peneirada e plástico são matérias-primas utilizadas com frequência.
O ferreomodelista adotou o hobby há 15 anos. Escolheu as réplicas de locomotivas por representarem um retorno à infância, vivida em Campina Grande (PB). Quando ele tinha 12 anos, viu o Ferrorama que um amigo acabara de ganhar. O trem de brinquedo não chega a ser uma réplica perfeita, mas conquistou Magno. ;Fiquei fascinado. Décadas depois, resolvi embarcar nesse hobby, levando em conta a escala, a proporção e os mínimos aspectos das realidades que quero reproduzir. Modelismo é um passatempo, uma arte e uma ótima maneira de ter convívio social.;
Magno é um dos responsáveis pela manutenção de duas maquetes acomodadas em salas do piso superior da Rodoferroviária de Brasília. Na estação desde 1983, os modelos foram concebidos pela Sociedade de Modelismo Ferroviário de Brasília, atualmente com 40 associados. Apesar das marcas do tempo e de um teto que desabou sobre elas, as maquetes ainda conservam a aura de uma minirrealidade.
Pequeno, mas potente
A caminhonete Monster Truck que o construtor Marcelo Faria, 44, divide com o filho João Pedro, de 10 anos é motorizada como os trens de Magno. E exige os mesmos cuidados e revisões de um carro em tamanho real. Movida a nitrometano, a caminhonete não mede mais de 40cm, mas pode alcançar até 90km/h. Salta rampas e anda no barro com tração nas quatro rodas. É o terceiro automodelo que Faria adquire. ;O primeiro deles, comprei para o meu filho. Só que acabei tomando gosto pelo passatempo. Curto o hobby mais do ele;, brinca.
O construtor escolhe o modelo, a potência e a escala (que pode ser até 25 vezes menor que o automóvel original) no momento da compra. O motor deve ser amaciado, para o carro finalmente ser utilizado. ;O fato de você comandar um objeto em alta velocidade por ondas de rádio é uma emoção forte. A adrenalina sobe à cabeça.; Faria, há quatro anos ;pilotando;, não pretende largar a atividade.
Algumas réplicas são concebidas para saltar, alcançar altas velocidades ou reproduzir os movimentos dos objetos originais. Outras, apenas para apreciação. Esse é o caso do plastimodelismo. Os adeptos dessa modalidade criam cópias perfeitas de aviões, tanques de guerra e navios não motorizados. O foco é na riqueza de detalhes. Marcelo de Paiva, engenheiro mecânico de 29 anos, faz parte de uma turma de 30 amantes dessa arte ; o Grupo de Pesquisa de Plastimodelistas Ratos de Hangar. O hobby de Paiva é reproduzir aviões de guerra. ;Sempre gostei muito de aviação. Queria ser piloto;, conta. Para fazer uma réplica, o engenheiro faz uma pesquisa histórica, resgata fotos e estuda o modelo. ;Não é só o trabalho de montar um avião, mas saber quando foi produzido e para quê. É preciso conhecer o contexto histórico;, explica Paiva.
Nem toda miniatura é feita de motores, ferro ou plástico. Alguns dos 180 ônibus de Cleiton Braga, 23 anos, são feitos de papel. Ele os desenha no computador e imprime numa gráfica. Depois, faz dobraduras e colagens para reproduzir um veículo de transporte coletivo até 87 vezes menor. A fixação de Braga pelo veículo tem raízes na família dele ; o avô materno era motorista de ônibus. Quando tinha 6 anos, numa viagem a São Paulo, Cleiton comprou o primeiro item da coleção. Atualmente, o acervo contabiliza 180 veículos em miniatura. E ele não é o único. ;Eu e mais 18 amigos formamos o Cerrado Bus, um grupo de pessoas que amam, estudam e colecionam tudo relacionado a ônibus.;
Da Alemanha a Hollywood A origem histórica da reprodução de objetos em escala reduzida é controversa. Há registro de um duque da Bavária ; Alberto V ; que teria encomendado a réplica perfeita em miniatura da casa dele na metade do século 16. Séculos depois, na 2ª Guerra Mundial, os aviões do conflito começaram a ser reproduzidos em escalas menores pelas indústrias bélicas. A riqueza de detalhes e a preocupação com a escala foram motivos para que o modelismo fosse usado pelo cinema. Antes da computação gráfica, maquetes e modelos em miniatura eram filmados para cenas de ação com explosões e veículos em movimento. O hobby não é considerado caro pelos adeptos, mas alguns artigos ultrapassam a faixa dos R$ 1 mil. Esse é o caso das Monster Trucks, automodelos específicos para circuitos off road (em terrenos irregulares, lamacentos, com rampas e obstáculos), que podem custar entre R$ 1.250 e R$ 3.600. Uma locomotiva com quatro vagões e 1m de trilho em escala 87 vezes menor são vendidos em lojas especializadas por aproximadamente R$ 300. Os kits de montagem de um avião estático podem ser encontrados no mercado por uma média de R$ 46.