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Mais álcool, menos controle - a droga mais consumida no país é lícita

Quando alguém bebe, seu estado emocional muda, os limites se afrouxam e aumentam as chances de um ato criminoso ocorrer. Especialistas defendem a prevenção

postado em 20/02/2009 08:01
A cada dose, o senso crítico diminui. Na medida em que as latas de cerveja se acumulam na mesa, o estado emocional vai se tornando mais exagerado. A euforia causada pela bebida ou por substâncias ilícitas não deixa o usuário perceber mas, nesse momento, está criado o risco de se precipitar uma situação violenta. Álcool e drogas potencializam o embate, a briga, a raiva, o desejo e outras tantas sensações e, por isso, estão presentes em uma vasta lista de ocorrências policiais. ;Existe uma relação evidente entre a violência e o consumo dessas substâncias, que é maior ainda com drogas psicoativas como meta-anfetaminas, cocaína e álcool;, explica o magistrado Walter Maierovitch, presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais e ex-secretário Nacional Antidrogas. As drogas psicoativas são as que alteram temporariamente o sistema nervoso central. ;Elas são geradoras de violência;, completa Maierovitch. A droga mais consumida no Brasil e no mundo é lícita. E quanto maior a concentração de álcool no sangue, menor o controle que o indivíduo tem sobre a situação. Em certos níveis de consumo, a pessoa pode ficar desorientada e com prejuízo na compreensão e no autocontrole (veja arte). ;Cada um reage de forma diferente com o uso de qualquer droga, mas existe mudança nas funções mentais. E é muito importante que as pessoas conheçam os efeitos do álcool, que é lícito, no organismo e no comportamento;, observa a psicóloga Angela Branco, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB). Ela explica que o fato de uma pessoa estar alterada pelo uso de drogas lícitas ou ilícitas aumenta em muito a possibilidade de cometer um ato violento. ;Há um relaxamento dos processos inibitórios em geral. E em jogo não estão apenas os danos ao próprio usuário, mas a terceiros. Não só o fígado fica doente. Pessoas estão ferindo e matando.; Dependência Último levantamento realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), em 2005, aponta que 12,3% da população brasileira entre 12 e 65 anos é dependente do álcool. No Distrito Federal, de acordo com o gerente de saúde mental da Secretaria de Saúde, Leonardo Moreira, essa média se confirma: existem hoje cerca de 270 mil pessoas escravas da bebida. Gente que precisa beber cada vez mais para alcançar o mesmo efeito, que sofre de abstinência quando não bebe e não tem mais controle sobre o próprio vício. O médico destacou que há pessoas doentes, que não podem beber. O álcool, explicou Moreira, tem o poder de modular o humor e estender prazeres, já que atinge todo o sistema nervoso central. É por isso que ele altera o comportamento do indivíduo. ;É muito comum alguém sem passagens pela polícia beber demais um dia, se alterar e cometer um crime;, concorda. Para Moreira, a prevenção e o tratamento ajudam, sim, a controlar o problema. No entanto, o médico psiquiatra acredita que mais eficaz do que qualquer medida de saúde pública é a restrição do acesso ao álcool. ;Trata-se da velha lição de cortar o mal pelo raiz;, justifica. ;Em alguns países, a bebida é vista com recriminação. Aqui é tudo muito engraçado, é na onda do ;beber, cair e levantar;;, comenta Moreira, ao destacar também a necessidade de uma mudança de cultura. Maierovitch segue o mesmo caminho. ;Existe uma tendência europeia de cada vez mais falar sobre drogas e álcool. Até mesmo preparando professores para criar um novo tipo de comportamento de respeito a terceiros em seus alunos;, cita. ;No Brasil, não há política pública nessa área. Existe um impacto inicial que logo é deixado de lado. Em alguns estados são poucos os bafômetros. Já outros não têm nenhum.; » Áudio: ouça entrevista com o gerente de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do DF, Leonardo Moreira

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