postado em 21/02/2009 08:30
A cada hora, dois motoristas de ônibus são flagrados dirigindo acima da velocidade permitida nas vias do Distrito Federal. A média é de 51 casos por dia, 18.570 ao longo do ano passado. O desrespeito ao limite de velocidade é a infração mais praticada pelos condutores do transporte coletivo de passageiros. Logo em seguida vem o avanço do sinal vermelho com 16.985 casos. Entre as empresas mais flagradas estão justamente as que têm a frota mais antiga: a Lotaxi e a Condor, cuja idade média dos coletivos é de 15 e 12 anos, respectivamente. No total, os 2,7 mil ônibus do DF cometeram 57.982 infrações.
A frota velha e a imprudência dos motoristas em alguns casos resultam na morte ou invalidez de pessoas inocentes (leia Memória). Um dos últimos casos de repercussão ocorreu em 5 de fevereiro. Um ônibus da Viação Planeta tombou no viaduto próximo ao Balão do Aeroporto. No acidente, 53 pessoas ficaram feridas e a doméstica Fátima Ferreira Ramalho, 50 anos, morreu na hora. O motorista do veículo, Gilson Mariano de Oliveira, 46, morreu quatro dias depois. O inquérito continua em apuração e, segundo a delegada cartorária Marilisa Gomes da Silva, as causas ainda não estão esclarecidas. ;Aguardamos o resultado da perícia do local do acidente;, resumiu. A suspeita é de que o condutor estava em alta velocidade.
No ano passado, dos 387 acidentes de trânsito com morte ; dados preliminares de janeiro a novembro ;, os ônibus estiveram envolvidos em 47, ou 12% do total de casos. Os veículos de transporte coletivo protagonizaram ainda 604 ocorrências com feridos. A maior parte ; 429 delas ; foi colisão, seguida de queda de passageiro, com 92 (veja Arte).
Uma rotina bem conhecida por aqueles que dependem exclusivamente do transporte público para se locomover. A diarista Angela Maria Pereira, 45 anos, conta que já caiu pelo menos cinco vezes no trajeto de casa, em Taguatinga, para o Plano Piloto, onde trabalha. ;Os motoristas fream de uma vez ou fazem curvas fechadas. Como os ônibus estão sempre lotados, você não tem muito o que fazer. Vai um caindo por cima do outro;, disse. O excesso de velocidade também é uma queixa bastante comum entre os usuários. ;A gente reclama, xinga, mas eles (motoristas) não estão nem aí. Uns xingam de volta. Outros fazem de conta que não ouvem e continuam correndo e freando de forma brusca;, afirma Odília de Jesus Pereira Souza, 37.
Apesar de Brasília ser referência nacional de respeito à faixa de pedestres, esse também é outro artigo do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) frequentemente ignorado pelos motoristas de ônibus. No ano passado, eles foram flagrados 914 vezes sobre a faixa de pedestre na mudança de sinal.
Insatisfação
O secretário de Transportes, Alberto Fraga, afirmou estar insatisfeito com o serviço prestado pelas empresas e admitiu que é difícil fazer o sistema funcionar como precisa. ;Eles (empresários) dominaram o sistema durante muitos anos. Quando o governador José Roberto Arruda tomou posse assumiu o controle. Muita coisa já melhorou. Colocamos mil ônibus novos nas ruas;, avaliou.
Sobre as infrações mais cometidas pelos condutores dos coletivos, Fraga disse ser necessário fazer um mea-culpa nos casos de avanço de sinal. Segundo ele, muitos dos flagrantes por esse motivo são aplicados de maneira injusta e citou o caso do equipamento eletrônico instalado no cruzamento do Eixo Monumental com a Estrada Parque Indústrias Gráficas (Epig). ;Se tem um ônibus parado na baia em frente ao Ministério Público e chega outro, por conta do comprimento do veículo, o de trás acaba multado quando o sinal fecha;, exemplificou. Para evitar situações como essa, Fraga disse ter determinado ao Departamento de Trânsito (Detran) que faça um levantamento para definir as alterações necessárias.
Mas quando se trata de excesso de velocidade, Fraga dispara: ;Os nossos motoristas são mal-educados. O material humano precisa ser reciclado. O problema é que, qualquer coisa que se faça contra os rodoviários, o sindicato para o terminal. Aí a população fica sem transporte;.
O Correio tentou ouvir o presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus do DF, Wagner Canhedo, dono de duas das empresas que mais têm ônibus flagrados cometendo infrações de trânsito. A assessoria de imprensa do órgão ; e que também assessora as empresas citadas nesta reportagem ; informou que os empresários têm colocado os seus motoristas para fazer curso de reciclagem e aperfeiçoamento. E que o decreto da Secretaria de Transportes vai facilitar a demissão de motorista que acumular mais de 20 pontos na CNH. O decreto foi publicado logo depois do acidente com o ônibus da Planeta no viaduto próximo ao Balão do Aeroporto.
Renovação
Em uma reunião na última quarta-feira entre os empresários do transporte público e o governador, ficou acertado um novo cronograma de renovação da frota. A Viplan terá de entregar no mínimo 200 veículos novos. A Planeta, a Rápido Brasília e a São José, 100 cada uma, a Riacho Grande, 50 ônibus novos. ;O governo está fazendo a parte dele. Mas parece que as pessoas se esquecem. Já mandei fazer o projeto básico de licitação de outros 200 ônibus da Viplan. Eles já perderam 160 porque não cumpriram o prazo de renovação da frota;, destacou Arruda. O prazo dado pelo governo para que as empresas comprem os 550 ônibus novos é de seis meses.
Memória
Acidentes em coletivos
5 de fevereiro 2009
Um ônibus da Viação Planeta tombou no viaduto próximo ao Balão do Aeroporto. No acidente, a doméstica Fátima Ferreira Ramalho, 50 anos, morreu na hora e 53 pessoas ficaram feridas. O motorista do veículo Gilson Mariano de Oliveira, 46, morreu quatro dias depois. As causas continuam em apuração.
20 de janeiro 2009
A dona-de-casa Maria Margarida Pereira Silva, 72 anos, foi atingida por um ônibus na Estrada Parque Indústrias Gráficas (Epig). O motorista deu ré sem ver a vítima.
1º de fevereiro 2009
A colisão entre a moto JHK 9524/DF e um coletivo da Viplan que fazia a linha Taguatinga/Samambaia deixou cinco feridos. O veículo transportava 15 passageiros e capotou depois da batida.
27 de janeiro 2009
Um ônibus da Viação Pioneira que vinha de Santa Maria bateu em cheio na Chevrolet Zafira de Aparecida Martins dos Santos, 41 anos. O automóvel foi atingido em um cruzamento na altura da 506 Sul. A condutora teve três paradas cardiorrespiratórias e morreu nove horas após o acidente.
26 de novembro 2008
Um ônibus semiestadual com destino a Planaltina (GO) atingiu um caminhão que havia deslizado na pista. O veículo caiu em uma ribanceira de mais de 15m, na BR-020. Entre os 30 passageiros, uma mulher morreu e outras 22 pessoas ficaram feridas. No mesmo mês, o Balão do Aeroporto foi palco de outra colisão. Uma kombi e um ônibus da Rápido Brasília se chocaram. Duas pessoas foram hospitalizadas. O motorista do carro bateu na parte dianteira do ônibus enquanto ia para o Lago Sul.
15 de abril 2008
Foram registradas quatro batidas envolvendo coletivos. Pelo menos 26 pessoas precisaram de socorro médico. Um dos veículos seguia em direção a um ponto de ônibus, subiu em um canteiro e parou perto de uma vala. No mês anterior, um ônibus da Viação Santo Antônio caiu em uma ribanceira quando seguia do Plano Piloto para Águas Lindas (GO). A colisão deixou dois passageiros mortos e 51 feridos.