postado em 22/02/2009 08:35
Transformar um pouco de tecido, plumas e paetês em luxuosas fantasias é habilidade própria dos carnavalescos. Fazer tudo isso com dinheiro e tempo reduzidos, no entanto, exige muita criatividade das escolas de samba. As sete agremiações do grupo de acesso 2 do Distrito Federal trabalharam dia e noite nos barracões para concluir as alegorias que estão dando cor ao carnaval do Ceilambódromo neste fim de semana. Três delas desfilaram ontem e hoje é o dia das outras quatro. Até a tarde de sexta-feira, ainda havia muita fantasia para costurar e carros para construir.
O Grêmio Recreativo e Cultural Projeto Colibri, de São Sebastião, promete entrar na avenida com 320 integrantes. Eles trabalharam com cerca de R$ 39 mil para comprar matéria-prima das roupas e carros ; as escolas do grupo 2 recebem R$ 74 mil do governo, mas desembolsam taxa de R$ 28 mil para participar do carnaval, além dos impostos e pagamento de funcionários. As mais de 300 fantasias são feitas principalmente com materiais novos, mas alguns itens são reaproveitados para fazer economia.
Pedaços de papelão dão suporte a plumas e o papel-alumínio é amassado e coberto com pedraria nos adereços. Nada se joga fora no barracão. Sacos de retalhos de tecido e pedaços de arame estão organizados para suprir alguma falta de última hora. Ainda assim, quase tudo precisa ser comprado em São Paulo. ;Quando fazemos as fantasias, já pensamos em como economizar. Qualquer R$ 1 mil faz diferença para nós. Mas temos prazer em fazer isso;, explicou o carnavalesco José Vieira, mais conhecido por Zequinha. A escola escolheu o tema Cidades submersas do Rio Amazonas.
Doze pessoas fazem os desenhos das fantasias virarem realidade no barracão emprestado. O Projeto Colibri não tem sede própria e ocupa o Centro de Múltiplas Funções da cidade, na época do carnaval. Até as estrelas do desfile entram no mutirão de trabalho. A porta-bandeira Rosana da Silva Barbosa, 33 anos, passou a manhã de sexta-feira finalizando as roupas que serão usadas por colegas da escola. A bandeira e o modelo com que ela desfilará na noite de hoje estão prontos. ;Faço de tudo aqui. Em meia hora você pega o jeito da fantasia, não é difícil;, comentou. Rosana entra na avenida pelo Colibri há três anos. No fim de 2008, ela se mudou para Vitória (ES), mas não desistiu de ir ao Ceilambódromo este ano e fez as malas para Brasília. ;Tem que ter carisma, simpatia, tudo. Você está segurando o marco da bandeira, tem que se exibir. Estou confiante e ansiosa;, revelou a porta-bandeira.
Ajuda da comunidade
Sem barracão e com verba reduzida, as escolas contam com a ajuda da comunidade para preparar o desfile. A sala da casa do presidente da Unidos da Vila Paranoá, David Santos, virou abrigo para as fantasias que serão usadas na noite de hoje. Sofás e mesas deram lugar a centenas de adereços, saias de baiana e outras roupas. Tudo é fabricado na residência por integrantes da escola. Em uma tenda montada no meio da rua onde vive o presidente, são feitos os últimos retoques dos carros alegóricos e tripés. A agremiação entrará na avenida com cerca de 400 componentes, divididos entre 13 alas e três carros alegóricos.
Os ensaios da escola acontecem desde outubro na Praça Central do Paranoá ou nas ruas de Itapoã. As alas começaram a ser preenchidas em setembro, mas até o fim da semana novos integrantes ainda eram aceitos para participar da festa. Eles contarão a história do circo, tema do enredo da agremiação. As fantasias remetem aos antigos espetáculos do Coliseu, em Roma, a vida dos mágicos, palhaços e malabaristas. As roupas levaram pouco mais de duas semanas para serem confeccionadas.
Os carnavalescos tiveram que se virar com o orçamento de R$ 46 mil para montar os carros e fantasias. Para economizar, eles reaproveitam tecidos, madeira e ferragens. ;Quando você define um enredo, faz algo grandioso e luxuoso. Depois o adapta às necessidades. Nessa reta final, não tem mais dinheiro;, disse David. Com criatividade, materiais simples se transformam em peças surpreendentes. O brilho prateado das roupas da ala futurista, por exemplo, vem de CDs velhos colados aos penachos. A rotina de quem costura e cola as fantasias começa às 8h e pode entrar pela madrugada. Em 17 dias de trabalho, eles gastaram 78kg de cola quente e 25 mil metros de galão ; tipo de fita brilhante presente em quase todos os itens do desfile.
A maioria das escolas prefere comprar a matéria-prima das fantasias no Rio de Janeiro ou em São Paulo. Além da maior variedade, a diferença de preços rende uma bela economia. A direção da Acadêmicos de Santa Maria enfrentou horas de ônibus para pechinchar nas ruas de São Paulo. Com aproximadamente R$ 36 mil destinados à compra dos apetrechos, eles se esforçaram para não extrapolar o orçamento. ;Compramos mais barato, mas é tudo novo. Só deu para aproveitar algumas plumas e galões que sobraram do ano passado, mas foi pouco;, comentou a diretora da escola, Suely Dias. Os 320 integrantes de Santa Maria entram hoje no Ceilambódromo, por volta das 21h40, mostrando símbolos da Amazônia. O Projeto Colibri, a Unidos da Vila Paranoá e a Unidos de Planaltina desfilam também neste domingo no Ceilambódromo, a partir das 20h. No mesmo local, acontece o show do grupo É o Tchan, à 1h.