postado em 22/02/2009 08:39
Eles andam em uma corda bamba a 6m de altura da água, sem nenhum apoio. Só de pensar, a ideia pode dar calafrios aos menos aventureiros. No entanto, atravessar a corda armada ao ar livre, em meio à natureza, é sinônimo de liberdade para um grupo de praticantes de slackline, ou funambulismo. Eles andam em cordas resistentes ou fitas de escalada presas a dois pontos. O esporte lembra a tradicional atração circense e está ganhando espaço em Brasília.
Um dos precursores do funambulismo na capital, o agente de turismo Maurício Martins, 31 anos, explica que a prática surgiu na Califórnia (Estados Unidos) e chegou a Brasília há cerca de 10 anos. Por aqui, ele encontrou um cenário perfeito: o Poço Azul, uma cachoeira aberta ao público próxima ao Lago Oeste. ;A corda bamba é uma forma de se integrar à natureza;, contou Maurício. O grupo usa equipamentos de escalada para preparar a travessia. Uma fita apropriada é presa de um lado a outro do poço com a ajuda de mosquetões e roldanas. A fita pode ficar mais firme ou mais frouxa, dependendo da habilidade da equipe.
Os praticantes não ficam presos a itens de segurança, eles caminham livremente pela corda. Antes de andar nas alturas, o agente de turismo confere se não há galhos no fundo da água ou algo que possa oferecer perigo em caso de queda no poço.
Apesar de os atletas usarem a água como uma espécie de colchão, o capitão Bruno Tempesta, sub-comandante do Centro de Treinamento Operacional do Corpo de Bombeiros, alerta para a importância de alguns equipamentos de segurança, sobretudo para os iniciantes. ;O ideal é que haja um segundo cabo, de segurança, onde ficaria presa uma corda amarrada à cintura da pessoa;, explicou. ;Essa corda deve ficar acima da cabeça do praticante do esporte, para que, em caso de perda do controle, a queda seja evitada. A água absorve o impacto, mas quem cai da mau jeito pode ter vários tipos de trauma;, complementa, dando o exemplo de que quem bate com o rosto na água de olhos abertos corre o risco de sofrer um descolamento de retina.
Treinamento
Caminhar no ar apenas com o apoio da corda parece tarefa impossível. Maurício explica que o segredo é treinar até ganhar confiança e se soltar. ;O primordial é vencer o medo.; O agente leva a mochila com a fita de escalada para todo lugar e costuma montá-la em praias, perto de rios e até na comercial onde trabalha, na Asa Norte. Maurício tem 15 anos de prática em escalada, espeleologia (exploração de cavernas) e canionismo (exploração de cânions). Segundo ele, o funambulismo melhora a concentração e o equilíbrio.
A corda bamba costuma atrair quem faz escalada e atividades de circo. O publicitário Gabriel Mello, 24 anos, aprendeu a arte circense durante um ano em uma academia, depois partiu para os treinos com amigos, muitas vezes em locais próximos à natureza. Ele descobriu a corda no circo e hoje faz slackline em qualquer lugar, desde que haja dois pontos firmes. Podem ser duas árvores, blocos de pedras, pilastras etc. A primeira vez que tentou, não foi fácil, mas ele conseguiu atravessar. ;Você perde o medo quando cai uma vez e vê que não acontece nada. O medo é um peso muito grande. Quando você o deixa de lado, as coisas acontecem com mais clareza.;
Além de buscar instrutores especializados, a dica de Gabriel para interessados em praticar a corda bamba é tentar não pensar em nada e se concentrar na fita. ;Tem que ter consciência corporal, saber lidar com o equilíbrio do corpo. É um desafio;, afirmou. Crianças a partir dos 6 anos já podem fazer aulas de slackline.Elas começam em cordas presas a 1m do chão.
Controle
O estudante de educação física Rodrigo Aguiar, 23 anos, conheceu a escalada há seis anos e logo foi apresentado à corda bamba. Quando tentou pela primeira vez a travessia do Poço Azul, não completou o percurso. Depois de algum treino, já chegou a andar por uma corda presa a 10m de altura entre dois prédios. ;O que me estimula a andar na corda é o controle das minhas emoções. Eu uso esse controle para a vida;, disse.
O funambulismo pode ser praticado em qualquer época do ano, menos nos dias de chuva. É preciso ter um mínimo de preparo físico. Quem gosta do esporte explica que ele trabalha vários músculos do corpo e cansa. No entanto, não é preciso ter experiência com outras atividades para tentar o slackline, desde que a pessoa não se aventure sozinha. Mais informações sobre as aulas do esporte pelo telefone 3202-1027 ou no site www.itakama.com.br.