Cidades

Brasilienses aproveitam os dias de folia para ganhar dinheiro





postado em 23/02/2009 08:39
O dinheiro que movimenta a folia no Distrito Federal corre de mão em mão ao ritmo de samba, frevo e axé. Até chegar ao bolso do vendedor ambulante ou cair na conta do fornecedor da matéria-prima, o caminho é longo. No rastro dos trios elétricos, dos blocos independentes, por trás de toda a agitação dos clubes, das festas e dos shows o conceito de oferta e procura se reinventa nesses dias. Os trabalhadores ganham a vida como podem. E o consumidor que não viajou vira o principal motor da ciranda que a cada ano ganha novos elos e cifras. A aposentada Anízia Xavier da Silva, 60 anos, entende pouco de economia, mas muito de carnaval. ;Tenho pelo menos uns 40 nas costas, meu filho;, gaba-se. No carrinho de feira que arrasta pelo Eixão Sul enquanto o Galinho de Brasília passa, a vendedora não traz confete nem serpentina ; segundo ela, ;coisas do passado;. As últimas novidades são sprays coloridos para cabelo e espumas artificiais ; os preferidos pela criançada ; oferecidos a R$ 10 e R$ 5. Organizada, Anízia formou o estoque com antecedência, brigou e conseguiu desconto. No total, gastou R$ 3,8 mil em mercadorias. ;Comprei tudo de um amigo que segura meus cheques até o dia 25. Corro atrás do prejuízo o tempo inteiro porque não sou de faltar com as pessoas;, diz. Como toda boa comerciante, carrega uma calculadora virtual na cabeça. Somando tudo o que desembolsou de início, e subtraindo os custos, projeta os lucros. ;Tem coisas que dá para tirar mais de 100%. O importante é o dinheiro entrar e sair do bolso. Quando isso acontece, digo que as vendas são boas;, resume. Muito do que salta do carrinho de ambulantes como Anízia veio dos galpões de atacadistas populares de Ceilândia, de Taguatinga, do Conic e de Samambaia. Em fevereiro, as lojas que atuam no primeiro estágio do carnaval costumam contratar pessoal extra e fazer plantões especiais de atendimento. Vitor Pacheco, Yuri Lasmar e Rave Oliveira, foliões-mirins com alguma experiência, testaram e aprovaram os produtos. Sob olhares atentos das mães, descarregaram as latinhas de tinta e neve. ;Se deixar, eles sempre vão querer mais e mais. Aí não tem jeito;, diz Renata Sawerbronn de Souza, 26 anos, bióloga e moradora da Asa Norte. Os foliões Bráulio da Mota e Damião Alves foram alvos fáceis dos sprays. Fãs da folia brasiliense, os dois encomendaram fantasias personalizadas para brincar na capital. As roupas custaram R$ 350 e vieram do Rio de Janeiro. Combustível O consumo de tubos de spray, refrigerante, cerveja e lanches, além de aluguéis, contratações temporárias e confecções turbinam uma complexa corrente de comércio. O investimento público, claro, é o carro-chefe de toda a produção de riquezas e serviços associados à festa. O GDF calcula ter destinado cerca de R$ 9,5 milhões ao Ceilambódromo, ao Gran Folia, às 137 bandas locais e às atrações nacionais. ;Com o investimento, queremos que o carnaval do DF seja um polo agregador, gere empregos e funcione como combustível para outras atividades durante todo o restante do ano;, afirma Rôney Nemer, presidente da Brasiliatur. O gasto oficial funciona como multiplicador ; é assim no DF e em outras praças. Em São Paulo, por exemplo, o PIB movimentado no carnaval deverá bater a casa dos R$ 45 milhões ; metade disso brota dos cofres públicos. Franklin Torres, diretor-executivo do Galinho de Brasília, diz que custa caro botar o bloco na rua. Sem revelar valores, ele conta que a capacidade de receita é reduzida e está espremida entre os custos cada vez mais salgados com estrutura, mão-de-obra, alegorias e todo o restante. ;Tem boneco de R$ 4 mil. Vendemos camisetas e temos patrocinadores, mas no próximo ano estamos pensando em soluções melhores para não ficarmos no sufoco;, completa. Nos planos do Galinho e de outros blocos está o desejo de depender menos de verbas oficiais e mais de parceiros privados. Reformulação Mudar também é uma das prioridades das escolas de samba locais. Razão de ser de boa parte dos gastos e serviços que ganham fôlego de leão com os festejos carnavalescos, elas lutam para abocanhar uma parte da riqueza que atualmente passa à margem dos barracões. Algumas advertem que o dinheiro anda tão curto, que até poderia virar samba-enredo de desfile nota 10. ;Boa parte do material é cotado em dólar. Foi um ano de difícil preparação para todo mundo;, revela um presidente de escola. Com o apoio financeiro do GDF (R$ 220 mil para cada uma do grupo de elite), completa o carnavalesco, é possível fazer uma festa ;justa;, mas não ousada. Uma escola de ponta no Distrito Federal chega a gastar cerca de R$ 300 mil para fazer bonito na avenida. Lucro Garantido Sem saber o significado da palavra crise, artistas nacionais escolhem o DF para passar o carnaval. Neste ano, bandas como É o Tchan e Cheiro de Amor, além de cantores como Moraes Moreira e Luiz Caldas ; todos velhos conhecidos do público ; desembarcaram na Esplanada dos Ministérios para animar a multidão. Nenhuma das atrações nacionais revela o cachê, mas a preferência pelo Centro-Oeste não é à toa. Esses e outros artistas são atraídos por uma indústria organizada e extremamente profissional que se movimenta em função dos festejos que acontecem neste período na capital do país. Nas ruas ou nos clubes, ainda que a agenda esteja apertada, vale a pena fazer uma parada em Brasília para se apresentar. Cantar aqui pode render bons lucros, mais notoriedade e contratos futuros. Muitas atividades paralelas se beneficiam dessa face, aparentemente, mais profissional do carnaval do DF. Marco Antônio Nista, gerente-operacional dos Trios Laser, se queixa, porém, que o faturamento não é o mesmo de antes porque a concorrência, a crise e os custos andam dificultando a sobrevivência do seu e de tantos outros negócios que dependem da folia. ;Quase não está mais valendo a pena. Se dependesse só dessa época do ano para sobreviver, a gente morreria de fome;, adverte o representante da empresa que aluga carros de som. (LP) Programação de hoje PLANO PILOTO # Galinho de Brasília (das 15h às 24h)Saindo do Eixão Sul, 102/202, rumo ao Gran Folia # Gran Folia Baratinha (16h) Pacotão (18h) Menino da Ceilândia (19h) Morais Moreira (24h) CEILÂNDIA # Ceilambódromo (QNN 17, Área Especial)Mitiiê do Brasil (19h)Grupo de Acesso 1 (20h): Unidos do Riacho Fundo, Capela Imperial de Taguatinga, Dragões de Samambaia, Candangos do Bandeirante Olodum (1h) TAGUATINGA # Bloco Mamãe Taguá Saindo da CNB 14 rumo à Praça do Relógio, em Taguatinga (das 14h às 24h) # Bloco Asé Dudu Praça do Relógio, em Taguatinga (das 15h às 24h) # Banda Imagem, Mitiiê do Brasil, Dj Joãozinho Chapéu de Couro, João Augusto e Christiano. Estacionamento do Serejão (das 14h às 1h) BRAZLÂNDIA # Banda Rebeldes Cover, Rouger Cover, Asas E létrico, Safira e Mitiiê do Brasil. Orla do Lago do Espelho D;água (das 17h à 0h30) CRUZEIRO # Aruc Samba Show e Jeito Maroto. Barracão da Aruc, na AE 8 (das 15h às 21h) GAMA # Forró com site, MC Jenny, Thaís Moreira, Funk Society Show e DJ Joãozinho Chapéu de Couro. Praça 4, Setor Sul (das 18h30 às 4h) PARANOÁ # Os Criolos, Banda Pileke, Sem Kao, Banda Sensação, DJ Júnior, Bond do Tezão. Praça Central (das 18h às 2h) SANTA MARIA # Thaís Moreira & Boneca Pintada, Araras, Forrozão Enchendo e Derramando, DJ Dyda MacFly, Pankadão Luxo, Sweet Memories, Bonde dos Danados, Sintonia do Forró, Bonde Kebrabarraco, A Concha. CL 216/217, Avenida Alagados (das 15h às 2h) SÃO SEBASTIÃO # Olodum Mirim, Rikaei dos teclados, Banda Santa Cecília. Avenida Central (das 13h às 20h) # CarnaForró. Parque de Exposições (das 22h às 2h) BAILE z Iate Clube de Brasília Baile da Folia (22h) ; Dhy Ribeiro e Escola de Samba Bola Preta. Ingressos: Sócio (lugar mesa R$10) / Não-sócio (individual R$ 30/lugar em mesa R$ 35)

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