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Estepe é novo alvo do crime no DF

De 15% a 20% dos assaltos a interior de veículo na capital resultam no roubo do pneu reserva. Segundo informações da Delegacia de Repressão a Furtos, a média em janeiro chegou a cinco ocorrências por dia

postado em 25/02/2009 07:52
A executiva de vendas Maria do Socorro Alencar, 45 anos, nem teve tempo de curtir o carro novo. Dois dias depois de comprar uma caminhonete S10, trocou a alegria pela revolta ao se deparar com o furto do estepe em um estacionamento público no Cruzeiro. Os ladrões atacaram o veículo zero quilômetro à noite. Arrebentaram a corrente protegida por cadeado e o suporte do pneu reserva e desapareceram com o equipamento. Socorro só descobriu no dia seguinte, ao sair para trabalhar. O crime sofrido por Socorro incomoda o brasiliense há dois anos, apesar de não estar detalhado nas estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. Levantamento da Delegacia de Repressão a Furtos (DRF) revela que, a cada 100 registros de furto em interior de veículos, entre 15% e 20% são de carros invadidos por bandidos em busca de estepes. ;Reparamos que o furto do estepe tem tomado o lugar dos toca-CDs, pois muitos desses últimos já vêm de fábrica. Os ladrões perceberam agora que é mais rentável vender os pneus;, afirmou o delegado Júlio Lopes Hott, titular da DRF. A especializada registrou, por exemplo, 802 arrombamentos de carros, motos, caminhonetes, ônibus e caminhões em janeiro deste ano ; 278 deles só no Plano Piloto. Seguindo os cálculos percentuais da DRF, houve cerca de 160 furtos de estepes na capital do país no primeiro mês do ano. A média é de cinco casos por dia. Mesmo com tal frequência, ainda não estão identificadas as quadrilhas especializadas no DF. O que a polícia sabe é que a receptação e a revenda ocorrem com facilidade e contam com a ajuda de borracheiros de fundo de quintal. Um dos motivos para atrair tantos criminosos é a valorização do material. Os preços de um pneu e de uma roda sem uso surpreendem. Dependendo do modelo do veículo, podem alcançar de R$ 150 a R$ 10 mil nas lojas especializadas ; há conjuntos que valem R$ 49 mil. O delegado-adjunto da DRF, Marco Antônio de Souza Silva, disse que é comum se montarem jogos para a revenda ilegal. ;Juntam quatro ou cinco pneus e têm um jogo completo. Também vendem só o aro ou só o pneu. Quase tudo para nas mãos de borracheiros;, contou Marco Antônio. No caso da executiva de vendas Maria do Socorro Alencar, o custo de um pneu novo de S10 a assusta. Não sai por menos de R$ 800. Ela preferiu, então, comprar um mais velho. Mesmo assim, não o deixa no local destinado para o estepe, logo abaixo da carroceria. O lugar escolhido para transportar o equipamento extra é a própria traseira da caminhonete, onde também fica acorrentado. Socorro comprará a trava só depois de adquirir o pneu reserva original. A segurança a mais custa pelo menos R$ 200 nas concessionárias da marca. Alicates As ocorrências desse novo tipo de furto também dão uma ideia de como agem os bandidos. A maioria aproveita a oportunidade e ataca quando encontra facilidade ou algo que chame a atenção dentro do veículo. Os arrombamentos são mais comuns em estacionamentos públicos, enquanto o dono está no trabalho, na faculdade ou em casa. Proximidades de locais de festas e de áreas de lazer também atraem os criminosos, que usam alicates capazes de arrebentar correntes e os suportes dos pneus reservas. O promotor de vendas Alexandre Almeida Cantanhede, 38, ficou sem o estepe no fim do ano passado ao parar em um dos estacionamentos do Parque da Cidade. Deixou o Celta comprado havia menos de um ano por volta das 8h30 e, ao voltar meia hora depois, o encontrou arrombado a partir de um furo na porta. O carro não tinha alarme ou qualquer outro equipamento de segurança para dificultar a ação do bandido. Após invadi-lo em pleno início de manhã, o ladrão esnobou o aparelho de som, mas fugiu com o pneu extra e uma jaqueta de marca. Alexandre fez questão de registrar ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia, na Asa Norte. Ao chegar, encontrou uma fila de vítimas do mesmo crime. ;Contei seis pessoas que tiveram o carro estragado por causa do estepe naquela mesma hora. Acho que agiram em sequência. Fiquei convencido de que esse crime se tornou comum;, afirmou. O promotor de vendas acumulou prejuízos após o ataque no Parque da Cidade. Gastou R$ 200 em um pneu original reserva e mais R$ 250 para consertar a porta. Não sobrou dinheiro para instalar alarme ou travas. A substituição do pneu não é só dispendiosa, mas também uma exigência do Código de Trânsito Brasileiro. O estepe é equipamento obrigatório. O condutor flagrado sem ele recebe cinco pontos na carteira de habilitação e multa de R$ 127. Se o problema não for resolvido na hora em que for diagnosticado (numa blitz, por exemplo), o carro pode ser conduzido ao depósito do Detran. Precauções # Estacione em locais iluminados e visíveis aos funcionários dos prédios. # Mantenha o veículo trancado e se certifique de que as portas estão chaveadas e os vidros levantados. # Dificulte o trabalho do bandido. Coloque travas, alarmes e equipamentos de segurança. # Não deixe objetos à vista. # Não confie a guarda ou a chave do veículo a estranhos. # Em caso de emergência, ligue para os números 190 e 197. # Não deixe de fazer ocorrências caso seja vítima de assaltantes. Atenção Confira os veículos mais visados: # Gol # Fox # Celta # Caminhonetes S10, Blazer, Frontier e Hi-Lux # Courier # Ka # Fiesta # Punto # Palio Adventure # Peugeot 207/307 # Sandero Comércio percebe efeitos do problema A procura por concessionárias e lojas especializadas em pneus e rodas confirma o aumento dos ataques de ladrões em busca de estepes. Em dois dias, o Correio visitou oito revendas das principais marcas de veículos e de acessórios no Plano Piloto. Chegou à média de três a seis registros de furtos por semana no DF. A maioria dos gerentes de vendas ou de oficina ainda deu detalhes do crime, como locais e horários mais comuns. Apenas em um dos estabelecimentos comerciais o funcionário não admitiu o crescimento do delito na capital do país. O gerente da HC Pneus (515 Sul), Francisco Cláudio Fernandes, disse que recebe pelo menos um cliente por dia reclamando da perda do equipamento extra. Segundo ele, não importa a marca ou se o pneu fica dentro ou fora do porta-malas. O prejuízo que mais aparece na loja é para os donos de carros novos, os quais têm mais chance de guardar um estepe jamais usado. ;No caso de uma cliente, dona de um Peugeot 307, eles nem deram bola para o som de R$ 1 mil recém-instalado. Levaram apenas o estepe;, contou. O consultor Wilton Alves Wagner, também responsável por um comércio especializado em pneus e rodas no fim da Asa Norte, atende de dois a três casos semanais. A maioria da clientela vítima dos furtos tem carros novos e populares ou modelos com o suporte do equipamento extra localizado do lado de fora. ;Pneu é caro, às vezes vale bem mais do que um toca-CD. Um comum, por exemplo, de aro 13, não sai por menos de R$ 189. Imagine o resto. Chama a atenção dos bandidos;, avaliou o empresário. Precaução Assim como a polícia, os responsáveis pelas concessionárias mais populares concordam que as caminhonetes e os modelos com os estepes fora do porta-malas são os mais visados pelos criminosos. Um gerente de oficina da Ford, por exemplo, admitiu que a marca tem pelo menos três veículos atacados com frequência: Courier, Ka e Fiesta. No caso da Volkswagen, o Gol e o Fox, pela facilidade na abertura do compartimento traseiro, aparecem no topo da lista. A Fiat tem o Palio Adventure. E a Chevrolet, a S10. O empresário e estudante Daniel Maia, 22 anos, também tem um modelo visado: Frontier ano 2008. O veículo saiu da fábrica sem proteção para o estepe, cujo suporte fica por fora. O equipamento conta com uma corrente, mas serve apenas para descer o pneu. A falta de segurança ; e a notícia de que aumentou a quantidade de furtos ; fará com que ele compre uma outra corrente ou uma trava. ;É melhor gastar com a trava, pois é bem mais barato;, afirmou o dono de um lava a jato. Cada pneu da Frontier custa cerca de R$ 3 mil.

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