postado em 26/02/2009 08:01
Nada mais surpreende quando o assunto é o Miss DF 2009. Só neste mês, a Miss Itapoã desistiu do posto por ciúmes do namorado e a Miss Estrutural foi denunciada porque estaria vivendo em situação de união estável, o que pelas regras do concurso é proibido ; ela acabou sendo destituída. Ambas foram substituídas pelas vices-campeãs. Agora, é a vez da tecnologia entrar no concurso e causar discórdia entre as candidatas. Um fato inédito ocorreu na escolha da mais bela de Brasília, que engloba candidatas da Vila Planalto, Vila Telebrasília e Granja do Torto. A vaga foi disputada pela internet. Sem desfile, sem apresentações, sem discurso. Uma foto de rosto, algumas linhas descrevendo a candidata em uma página da web e pronto.
A vitoriosa, como não poderia deixar de ser, foi a que angariou mais votos, na raça. Ana Claudia de Almeida Ramos, de 19 anos, convocou familiares, amigos e amigos de amigos para votarem nela no site da Administração Regional de Brasília. De tanto insistir, a operadora de telemarketing e estudante de publicidade foi eleita ontem a Miss Brasília 2009 com 14.921 dos 35 mil votos. Linda, singela ; nas atitudes e nas roupas. Maquiagem e produção podem até lhe realçar, mas Ana segura a própria beleza da forma mais difícil, de cara limpa.
E ela não desmereceu a nova forma de avaliação. ;É inovação e a maioria das pessoas tem acesso à internet. No evento tradicional, é claro que se tem um maior grau de análise. Mas quem vota pelo site sabe do potencial de cada uma;, defende a vencedora. Entre as outras candidatas, a votação via internet causou insatisfação, quase revolta. Umas recriminaram enfaticamente a escolha pelo site. Outras, amenizaram, aceitaram, não rejeitaram de todo a ideia.
;É justo o concurso pela internet porque todos podem votar. Mas não dá para avaliar a candidata direito com uma foto apenas;, opinou a estudante de direito Denise Fernandes da Silva, 20, a vice-campeã, com 12.492 votos. ;Os votos não foram dados pela minha beleza e minha competência e sim pela torcida que arranjei;, reclama a coordenadora de projetos sociais Taynah Reis, 21, que conquistou o terceiro lugar, com 5.552 votos.
Divergências à parte, o fato é que Ana, a morena vencedora, moradora da Asa Sul, de 1,76m, 62kg, colocou a boca no mundo. E se a determinação fosse um dos requisitos ela seria bicampeã. Ana ligou para a lista de amigos e implorou que eles espalhassem a notícia. A mãe tratou de falar com os parentes de Formosa (GO). A rádio da cidade não demorou a anunciar que a jovem concorria ao posto de mulher mais bela de Brasília.
Determinação
E isso durou todo o feriado de carnaval. ;Não viajei. Fiquei em casa, com meus pais votando, e ligando para meus colegas. Ouvia o som de festa no fundo, mas pedia para eles acharem tempo e votar;, contou. A pressa era porque a administração convocou as interessadas em 16 de fevereiro. E os votos seriam computados do dia 18 até a tarde de ontem. ;Pedi ajuda para parentes e amigos de São Paulo, Montes Claros, Curitiba e Goiânia. Com a internet isso foi possível;, disse Ana.
Essa é a justificativa para escolha da internet. ;Brasília é atípica. Praticamente toda a população, até os mais humildes, tem acesso à internet. Em casa, no trabalho ou em lan houses. Avaliamos que esse era o meio mais democrático;, explicou a administradora de Brasília, Ivelise Longhi. Ela diz que também não houve tempo hábil para realizar um evento para a escolha da mais bela.
O Correio tentou ouvir as cinco inscritas no concurso, além da vencedora. Duas não retornaram as ligações. Taynah é enfática: ;Beleza e talento, critérios básicos para se tornar miss, ficaram em segundo plano. O que contou para a eleição foi a capacidade de mobilização de parentes e amigos em pleno carnaval para votar insistentemente. Haja disposição para passar madrugadas em frente ao computador, mas não apenas essa capacidade tem que ser avaliada;, indignou-se.
Para ela, a internet limitou as avaliações. ;Os principais pré-requisitos como beleza, talento e desenvoltura, não podem ser julgados por meio de uma enquete;, completou Taynah. ;É um concurso que deveria ter sido feito ao vivo. Porque por foto as meninas podem usar photoshop ou um fotógrafo profissional;, reclamou a voluntária de uma ONG Carolina Biachini Seki, 18, que também concorreu ao posto.
Para Denise, a internet não é de toda vilã nesta história. ;Acho legal votar pelo site. Mas acho que deveria haver desfiles também;, acredita a jovem, que espalhou fotos pela comunidade da Granja do Torto para angariar votos. A administradora cogita unir as duas formas de avaliação no próximo ano.
O fato é que a miss eleita está toda toda, ansiosa pelo 8 de março, quando disputará com as belas de todas as regionais o título de Miss DF 2009. Antes, Ana receberá a faixa no próximo dia 3. ;É muito orgulho poder representar Brasília, cidade que sempre fui apaixonada. Amo os pontos turísticos, principalmente a Catedral;, disse a miss, que é natural de São Paulo e mora na capital federal há três anos.
Sem discussão
Enquanto a polêmica segue por aqui e por ali, no Varjão a paz reina. A miss da cidade já está escolhida e sem discussão. Ela foi a segunda colocada do evento em 2008 e foi coroada este ano por indicação direta da comunidade, já que não houve concurso. Comissária de bordo, Gabriela Aleixo dos Santos, 19 anos, 66kg e 1,75m, se exercita, faz dieta, massagem, ensaia, ensaia e ensaia para o grande dia. (Colaborou Marcelo Abreu)
Para saber mais Escolhas no país e no mundo Os primeiros registros de concursos de beleza no mundo datam do fim do século 19, mas é na metade do século 20 que começam a surgir instituições comprometidas com a escolha da mulher mais bonita. Criado pelo multimilionário britânico Eric Mosley em 1951, o Miss Mundo começou como um festival de biquíni. No ano seguinte, em 1952, a empresa Pacific Mills criava o Miss Universo, na Califórnia (EUA), para divulgar sua nova coleção de trajes de banho. As brasileiras só entraram no concurso em 1954, quando a baiana Martha Rocha, primeira Miss Brasil, conquistou o segundo lugar. No Brasil, a primeira mulher a receber o título de mais bonita do país foi Violeta Lima Castro, em 1900. Seguiram-se a elas, ainda sem o status de ;miss;, a paulista Zezé Leone, em 1922, a carioca Olga Bergamin de Sá, em 1929, a gaúcha Iolanda Pereira, em 1930, e a carioca Ieda Telles de Menezes, em 1932. O concurso seguinte só aconteceria em 1939 e foi vencido pela carioca Vânia Pinto. Dez anos depois, a goiana Jussara Márquez foi eleita a mulher mais bonita do Brasil. Atualmente, a vencedora do Miss Brasil se classifica para o concurso de Miss Universo. A segunda colocada representa o país no Miss Mundo, um evento mais prestigiado na Europa e na Ásia. O Brasil já teve vencedoras nas duas competições. Lúcia Tavares Petterle levou o Miss Mundo em 1971. No Miss Universo, a coroa ficou com Ieda Maria Vargas, em 1963, e com Martha Vasconcellos, em 1968.