Cidades

Exame acessível e simples ajuda a identificar cedo o câncer de mama

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postado em 27/02/2009 08:00
Brasília está em falta na prevenção do câncer que mais mata mulheres no Brasil, o de mama. Contando com 10 mamógrafos, a rede pública consegue atender a demanda de pacientes que querem fazer o exame. Ainda assim, pelo menos um terço das mulheres a quem o exame é indicado não fazem a mamografia. Novos equipamentos e um caminhão estão sendo comprados para ajudar a prevenir a doença, que é diagnosticada em 50 mil mulheres todos os anos no país. A maioria dos diagnósticos ocorre já em fase avançada, quando há poucas chances de cura. Um exame relativamente simples, no entanto, pode identificar a doença antes que qualquer caroço seja perceptível ao toque e com possibilidades de recuperação que superam 90%. Uma lei federal que obriga o sistema público de saúde a realizar a mamografia anualmente em todas as mulheres com mais de 40 anos pode ajudar a salvar muitas vidas. Nos últimos dois anos, 69% das brasilienses com idade entre 50 e 69 anos fizeram a mamografia, de acordo com uma pesquisa do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Porcentagem bem inferior à das capitais que chegaram na frente no levantamento: Florianópolis (SC), com 85%; Vitória (ES), 84%; e Porto Alegre (RS), 81%. Para melhorar os números, o subsecretário de Saúde, Fernando Antunes, afirma que é necessário investimento. ;Mas não estamos parados. Há um processo de renovação dos equipamentos do Hospital de Base, que é referência, e vamos apresentar agora em março, mês do Dia da Mulher, um caminhão que vai levar os exames de mamografia e papanicolau para as áreas periféricas, funcionando até as 22h;, revela. ;As máquinas que temos hoje dão conta da demanda, mas não são novas. Por isso, outras estão sendo compradas e instaladas;, completa. O objetivo do governo é superar os 90% de atendimentos para as mulheres acima de 40 anos. ;O ideal seria 100%, mas vamos trabalhar com uma faixa mais realista;, conclui ele. Com a mamografia o médico consegue identificar o início do câncer, antes que ele se espalhe pelo seio. ;Antes que a doença possa ser diagnosticada pelo exame de toque. E um diagnóstico precoce leva as chances de cura para 95% e sem sequelas físicas como a perda da mama;, explica a doutora em radiologia Janice Lamas, especialista nesse tipo de câncer. ;Até o custo para o Estado diminui se as mulheres fizerem mamografia. Numa fase tardia, há um longo e caro tratamento, além dos problemas psicológicos causados na mulher pelas lesões permanentes;, avalia ainda a médica. No Brasil, foram realizados quase três milhões de exames em 2007. Número bem menor do que os 7,7 milhões de mamografias que o SUS informa ter capacidade de realizar anualmente com os atuais 1.139 mamógrafos existentes no sistema público. Do total de aparelhos, 78 estão no Centro-Oeste ; 10 no DF. Graças ao exame preventivo, Sebastiana descobriu cistos na mama há dois anos, a tempo de se recuperarO exame preventivo foi muito importante para a dona-de-casa Sebastiana Glória, 46, que, há dois anos, descobriu cistos (que podem levar ao câncer) na mama em uma mamografia. ;Tratei e agora faço o exame a cada seis meses;, conta ela, que mora em Unaí (MG), mas prefere fazer o acompanhamento no Hospital de Base. ;Nunca tivemos dificuldades em marcar, mas fazemos isso com um mês de antecedência;, conta a filha de Sebastiana, a vendedora ambulante Alessandra de Jesus, 27. A secretária Rosana Pacheco, 49, também faz o possível para realizar o exame pelo menos a cada dois anos, mas lembra que passou por um susto. ;Minha irmã, três anos mais velha do que eu, fez a mamografia no ano passado e foi diagnosticada com um câncer já grande;, conta ela. ;Mas a médica não sentia o caroço. Fizeram uma ressonância e viram que era uma mancha no exame, não um câncer. A família já estava toda em pânico;, lembra. Erros no diagnóstico existem, segundo o coordenador da pós-graduação em detecção precoce do câncer de mama da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Hilton Augusto Koch. ;Os diagnósticos correm perigo porque ou as máquinas não estão bem reguladas ou a pessoa não consegue interpretar o resultado;, aponta ele, que também é diretor do serviço de radiologia da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, unidade modelo no combate ao câncer. De acordo com Koch, menos de 10% dos cerca de 3,6 mil mamógrafos existentes no país, nas redes pública e particular, são certificados pelo Colégio Brasileiro de Radiologia. ;Não é uma certificação obrigatória, mas ela garante que as chapas não estejam muito claras ou escuras e que sejam bem interpretadas;, explica.
Para saber mais Terror feminino O câncer de mama é provavelmente o mais temido pelas mulheres, devido à sua alta frequência e aos efeitos psicológicos, que afetam a percepção da sexualidade e a própria imagem. É relativamente raro antes dos 35 anos, mas acima disso a incidência cresce rapidamente. As estatísticas indicam o aumento da frequência tantos nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde, nas décadas de 1960 e 1970 registrou-se um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade. No Brasil, o câncer de mama é o que mais causa mortes entre as mulheres. Os sintomas são o nódulo ou tumor no seio, acompanhado ou não de dor mamária. Podem surgir alterações na pele que recobre a mama, como abaulamentos, retrações ou um aspecto semelhante a casca de uma laranja. Podem também surgir nódulos palpáveis na axila.
O que diz a lei A Lei Federal 11.695/2008 institui o dia 5 de fevereiro como dia nacional da prevenção ao câncer de mama. A lei diz ainda que o Sistema Único de Saúde precisa garantir a todas as mulheres com mais de 40 anos o direito de fazer uma mamografia anual. Para os especialistas ouvidos nesta reportagem, a fixação de uma data é importante para divulgar a necessidade do exame, mas a parte prática da lei é a que mais chama a atenção. Já que longe dos grandes centros nem sempre é possível achar um mamógrafo. O texto ainda precisa ser regulamentado, o que está sendo feito pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), que vai realizar um congresso internacional este ano para discutir o tema.

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