postado em 28/02/2009 08:10
Alunos e professores do Centro de Ensino Médio 1 do Gama (CG) comemoram uma proeza alcançada no início deste ano: 17 estudantes do colégio foram aprovados no Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB) e começam a frequentar o ensino superior neste semestre. O número (engordado pela estudante Bruna Cabral, aprovada no meio de 2008 para o curso de farmácia no câmpus de Ceilândia) é recorde para a unidade de ensino. O segredo inclui um trabalho de autoestima intenso para fazer os alunos entenderem que a universidade não é um sonho impossível, uma sala de informática utilizada com criatividade, uma rádio interna e o acompanhamento minucioso dos estudantes por professores, muitos deles à frente das turmas durante os três anos do ensino médio.
;Nossa média de aprovações é de oito a 10 por semestre;, compara o professor Fernando Menezes, diretor em exercício do colégio. ;Ao contrário dos colégios particulares, nós não preparamos o aluno apenas para esses exames;, destaca. O centro de ensino segue o currículo da Secretaria de Educação e não pode direcionar as aulas para as provas da UnB. As aulas, contudo, são puxadas e tendem a selecionar os melhores alunos, segundo Menezes. ;No primeiro ano, exigimos mais ; tanto que a quantidade de reprovações é maior nesse nível ;, e os alunos chegam com base ao 3º ano;, avalia.
Entre os fatores que ajudam a explicar o sucesso da turma está o trabalho realizado pela coordenadora educacional Marcela Vietes. Funcionária da Secretaria de Educação há 12 anos, a psicopedagoga é a maior entusiasta do projeto universitário na escola do Gama. ;Eu realizo um trabalho para melhorar a autoestima dos meninos, porque muitos deixam de se inscrever no vestibular por enxergar a universidade como sonho distante;, explica. A pedagoga costuma contar aos estudantes que, segundo as estatísticas, são os alunos de escolas públicas que têm o melhor desempenho no ensino superior. ;O que fazemos é valorizar o ensino público;, resume Vietes, que faz de tudo para convencer os estudantes a prestar os exames.
;Nós entramos nas salas, espalhamos banners pelo colégio, realizamos reuniões e anunciamos na Rádio Escola o prazo para inscrição;, conta. Além de motivar os alunos, a coordenadora educacional do colégio acompanha todos eles durante o processo de inscrição no vestibular e no PAS. Tudo acontece dentro da sala de informática do CG, que é outro ponto forte do colégio. ;Alguns dos alunos que foram aprovados não teriam nem se inscrito para prestar o exame se não fosse essa sala;, garante Vietes. Os 40 computadores do laboratório estão disponíveis para pesquisa e costumam ser utilizados pelo professores para diversificar as aulas. ;Nós devemos muito à escola, porque eles nos deram todo o apoio de que precisávamos;, elogia Marlon Santana, 18 anos, que passou para o curso de letras-espanhol.
Estrutura
O centro educacional conta com um auditório equipado com caixas de som e microfones e uma sala para teleclasse, além do laboratório de informática. As instalações são tão boas que o CG conseguiu abrigar oito turmas de colégios de Santa Maria que suspenderam as atividades. ;A estrutura faz diferença;, comenta o professor de geografia Afonso Batista, militante no CG há seis anos.
Outra vantagem da turma de aprovados, segundo o professor de matemática Hassan Bassis, é que eles foram acompanhados ao longo de todo o ensino médio pelos mesmos professores. ;Várias disciplinas foram ministradas pelo mesmo docente no 1º, no 2º e no 3º anos. Nós não precisávamos perguntar que assuntos eles tinham estudado nos anos anteriores;, lembra.
;A gratuidade da inscrição de alunos de escolas públicas nos vestibulares da UnB e a abertura dos câmpus de Ceilândia, Planaltina e Gama também contribuíram muito para esse resultado;, comenta o diretor Fernando Menezes, que considera difícil repetir o feito no próximo ano. ;Em 2009 nós temos uma turma a menos;, justifica. O diretor acredita que se 15 alunos foram aprovados, já será bom demais.
Futuro
Aprovado para o curso de engenharia do câmpus do Gama, o estudante Douglas Henrique de Oliveira Paiva, 17 anos, se diz tranquilo em relação ao futuro. ;Eu já estava me preparando para fazer cursinho quando soube que havia saído o resultado do PAS. Nunca imaginei que fosse passar;, conta. ;Com certeza, o colégio foi o que mais influenciou no meu sucesso;, emenda Davi Rodrigues, 15 anos, aprovado para o curso de Letras-Inglês no câmpus Darcy Ribeiro, na Asa Norte.
A opinião de Davi é reforçada pela mãe, Maria da Paz, mas a dona de casa acha que é preciso mais do que bons professores para assegurar o sucesso de um vestibulando. ;Pais, alunos e professores têm que estar envolvidos nesse processo. Se a família não participar, não dá certo;, analisa a mãe, que já tinha celebrado a aprovação do filho Adriel Rodrigues no curso de letras-espanhol, em 2006. Hoje, Adriel, que estudou no Centro de Ensino Médio 2 do Gama e faz parte do Centro Acadêmico de Letras, dá dicas aos calouros. ;A UnB se destaca entre as universidades que conheço, e olha que conheço várias;, diz o estudante.
Setor Oeste, a referência Outra escola pública que costuma se destacar no Distrito Federal é o Centro de Ensino Setor Oeste (CESO). Na 3ª etapa do Programa de Avaliação Seriada deste ano, por exemplo, 21 estudantes da unidade de ensino, na 912/913 Sul, passaram nos exames da Universidade de Brasília. ;O Setor Oeste sempre teve o trabalho voltado para a construção da cidadania, mas, para tanto, é preciso dar condições para que o aluno mude de vida;, argumenta o professor Carlos da Costa Neves Filho, supervisor pedagógico do CESO. Criado na década de 1980, o colégio se tornou famoso pela qualidade. A escola foi concebida para formar estudantes tão preparados quanto os alunos de instituições privadas. É esse diagnóstico que transforma a aprovação de 17 alunos do Centro de Ensino Médio 1 do Gama em algo tão significativo, como reforçam os mestres de lá. ;Quem faz a diferença são os estudantes. Eles são dedicados e esforçados. Têm uma capacidade de abstração impressionante;, resume Hassan Bassis, professor de matemática.
Histórias de sucesso Ana Terra Rebouças, 17 anos, aprovada para engenharia no câmpus do Gama Eu não estava confiante. Tinha ido mal na primeira e na segunda etapas do PAS e resolvi dar mais atenção para a minha banda, a Bad Apples. Mas acabei seguindo o conselho de minha mãe e larguei a guitarra para estudar. Enchemos o meu quarto com cartazes de estudantes que foram aprovados, entrei num cursinho pré-vestibular e segui a minha rotina de estudos. No CG há muitos professores bons. Eles me incentivavam a estudar por conta própria, a ser autodidata. Foi por causa deles que busquei livros diferentes e passei a pesquisar sobre as matérias na internet. Luiz Antônio L. Júnior, 17 anos, aprovado para ciências naturais no câmpus de Planaltina Eu já estava me preparando para prestar o vestibular quando recebi de uma amiga a notícia de que tinha sido aprovado no PAS. Bati nas paredes do cursinho de tanta felicidade. Durante o colégio, participei de um grupo de estudo montado por professores do CG. O grupo se chamava Projeto Sala de Aula e 12 professores davam reforço de graça aos sábados. Sou apaixonado pela natureza e escolhi o curso de ciências naturais porque une todas as ciências exatas. Pretendo investir no ramo de biodiversidade brasileira. Bruna Cabral Reis, 16 anos, aprovada para farmácia no câmpus de Ceilândia Eu estudava numa escola particular, mas os alunos de lá não tinham as mesmas prioridades que eu. Ninguém queria nem se esforçava para passar na universidade. Optei pelo CG porque ele detinha o primeiro lugar do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na região. Considero o ensino daqui melhor porque as avaliações das escolas particulares são feitas apenas por meio de provas. Na universidade, nós acabamos tendo que organizar seminários e fazer resumos. Isso eu aprendi a fazer no CG.
Katlen Dayane Alves Idade: 17 anos Curso: Ciências Contábeis, no campus Darcy Ribeiro Onde mora: Gama Como passar no PAS: "É preciso persistência. Eu fiz o vestibular no meio do ano e não passei. O PAS é umas das melhores chances de passar. Para ter sucesso, o aluno tem que se dedicar. Não adianta confiar apenas na escola, mas as coisas ficam mais fáceis quando nós temos o apoio dela. Nossa escola separou uma lista dos melhores professores no ano passado e eles ajudaram em tudo que a gente precisava. Se quiser entrar na UnB, o aluno tem que tentar várias vezes." Marlon Santana Idade: 18 anos Curso: Letras-Espanhol, no campus Darcy Ribeiro Onde mora: Gama Como passou no PAS: "O estudante tem que ser determinado. Perde noites de sono com o estudo, deixa de ir em festas e shows, é preciso abrir mão de coisas legais, mas a recompensa de passar no vestibular vale tudo por que você passou." Davi Rodrigues Idade: 15 anos Curso: Letras-Inglês, no campus Darcy Ribeiro Onde mora: Santa Maria Como passar no PAS: "Com certeza o colégio foi o que mais influenciou o meu sucesso. Eu não estudava em casa, não tinha esse costume. Tudo o que eu sei me foi ensinado pelos professores, foram eles que garantiram a minha aprovação." Tatiane Aguiar Idade: 17 anos Curso: Enfermagem, no campus da Ceilândia Onde mora: Gama Como passar no PAS: "Eu fiz um cursinho pré-PAS, mas ele não ajudou muito. Tanto que no terceiro ano eu estudei por conta própria, baseada nas aulas do colégio. Deu certo."