postado em 28/02/2009 08:29
A hansenÃase, doença que ataca a pele e os nervos, tem cura. O tratamento é simples, gratuito, sem dor, e, quanto antes ela for detectada, maiores as chances de eliminá-la. Apesar disso, a falta de informação e o preconceito ainda são obstáculos para diminuir a incidência do mal de Hansen no Distrito Federal. Dados da Secretaria de Saúde revelam que em determinadas regiões administrativas o número de casos chega a ser cinco vezes maior que o limite estipulado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo o órgão, quando há mais de um caso para cada grupo de 10 mil habitantes, a doença torna-se um problema de saúde pública. No Varjão, foram 5,5 notificações por 10 mil pessoas no ano passado, o maior Ãndice do DF. Mutirão hoje pela manhã tenta reverter esse quadro na cidade.
Uma simples mancha na pele pode ser o sinal da doença transmitida pelo bacilo de Hansen (veja arte), ainda conhecida como lepra em alguns lugares. O tratamento e os medicamentos são oferecidos gratuitamente pela rede pública de saúde. No caso de suspeita, recomenda-se um exame o mais rapidamente possÃvel para aumentar a probabilidade da cura total. A hansenÃase não mata. Mas, se não tratada, pode deixar sequelas irreversÃveis, como membros atrofiados e úlceras na pele. ;A doença ainda é muito estigmatizada. As pessoas precisam entender que é 100% curável e que não é preciso isolar uma pessoa em tratamento;, explicou a chefe do Núcleo de Dermatologia Sanitária da Secretaria de Saúde e coordenadora de Controle da HansenÃase no DF, Roseane Pereira. A hansenÃase não se transmite por aperto de mão, abraço ou por dividir talheres, por exemplo. E, uma vez iniciado ao tratamento, não há possibilidade de contágio.
Em 2008, a secretaria registrou 258 casos de hansenÃase no DF, um a menos que no ano anterior. Um Ãndice de 0,97 caso por grupo de 10 mil habitantes, quase no limite para se tornar preocupante. A média esconde a realidade em determinadas regiões. As áreas mais carentes concentram o maior número de casos em relação ao número de habitantes. O Varjão aparece em primeiro lugar, com 5, 52 registros a cada 10 mil moradores. Em seguida, vêm a Estrutural (2,8), São Sebastião (2,2) e Brazlândia (2,1). ;As áreas rurais e de baixa renda ainda concentram os casos pela falta de informação entre a população. O pouco conhecimento gera o preconceito e fecha um cÃrculo vicioso em torno da enfermidade;, disse Roseane.
Hoje, das 8h ao meio-dia, equipes da Secretaria de Saúde realizarão atendimentos gratuitos para diagnosticar a hansenÃase no Centro de Saúde do Varjão. No ano passado, houve quatro casos registrados na população de 7,2 mil habitantes. ;Convocamos quem tenha manchas na pele ou partes do corpo dormente ou doloridas. O exame é simples e pode evitar problemas graves no futuro;, afirmou Roseane. Segundo a coordenadora, apesar do tratamento gratuito, ainda é preciso ampliar a rede de atendimento na capital do paÃs (leia ao lado), principalmente nas áreas mais pobres. Quatro regiões não tiveram registros de hansenÃase no ano passado: Candangolândia, Lago Sul, Setor de Indústria e Abastecimento e Jardim Botânico.
Superação
Em 1997, o auxiliar de serviços gerais João Alves, 42 anos, descobriu que tinha hansenÃase. Hoje, o morador de Ceilândia está curado. No corpo sadio não há marcas das manchas adquiridas há mais de uma década. Mas ficaram rastros do preconceito que ele sentiu na pele. Até a famÃlia e a companheira o isolaram do convÃvio social. ;Nunca tinha ouvido falar da doença, mas assim que soube que tinha cura parei de me preocupar para me dedicar ao tratamento. O mais difÃcil para mim foi quebrar o preconceito;, contou João. Hoje, casado e feliz, ele dá um conselho para as pessoas que enfrentam o mal que ele superou: ;Não importa o que os outros pensam. A hansenÃase é muito menos do que dizem por aÃ, mas deve ser tratada. Pense na sua saúde e tudo dará certo;.
João era o caseiro da chácara de um tio, em Gurupi dos Capixabas (PA), quando sentiu pela primeira vez um formigamento na mão. Logo apareceram manchas pelo corpo. ;Comentei com o meu tio que estava sem forças na mão. Ele me chamou de leproso, me deu R$ 400 e me mandou embora;, lembrou. Sozinho, João buscou tratamento em BrasÃlia. A confirmação da doença significou o abandono da mulher e dos familiares. Nada disso tirou a força de vontade do auxiliar administrativo. ;Cheguei a usar camisas compridas para esconder as manchas. Cumpri à risca as orientações médicas. Em dois anos, estava curado;, contou Alves, que hoje trabalha em um hospital do Plano Piloto. ;O pior é quando o preconceito vem do próprio doente.;
CUIDE-SE
Ação de combate à hansenÃase no Varjão