postado em 05/03/2009 08:05
A PolÃcia Federal (PF) reúne indÃcios de que a máfia dos concursos jamais parou de agir no Distrito Federal, apesar da série de prisões e do enfraquecimento do esquema em 2005. Nova investigação reforça a suspeita sobre a volta à ilegalidade do homem acusado de liderar o grupo acusado de interferir em concursos públicos no Brasil, principalmente na capital do paÃs. O ex-técnico judiciário Hélio Garcia Ortiz tem agora o nome envolvido na tentativa de fraude em um processo seletivo realizado no mês passado. Ele é considerado foragido pela PF.
Os agentes federais estão à procura de Ortiz para esclarecer a suspeita de que ele atuou como intermediário para fraudar o último concurso do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). As provas objetivas foram aplicadas em 15 de fevereiro e terminaram com as prisões de um professor de matemática e de um comerciante de Taguatinga. O mestre usou uma carteira de habilitação falsa para se passar pelo candidato e preencher as questões. O documento levava a foto dele, mas os dados eram do concorrente. O fiscal não identificou a falsificação, mas uma denúncia do departamento de inteligência do Depen alertou a polÃcia.
A detenção do professor ocorreu na saÃda do concurso, quando ele confessou o crime. O nome de Ortiz surgiu ao longo dos depoimentos na delegacia. O ex-técnico judiciário, que perdeu o emprego em novembro de 2006 por decisão unânime dos desembargadores do Tribunal de Justiça do DF, teria sido o responsável por oferecer os serviços do mestre ao aspirante à vaga no Depen. ;Os indÃcios apontam que ele foi o intermediário da fraude;, afirmou o superintendente da PF, Disney Rosseti. Segundo ele, o candidato pagou R$ 10 mil adiantado e, se passasse na seleção, pagaria 10 vezes o valor do salário. O valor a ser pago ao matemático seria negociado após a aprovação.
A tentativa de fraude na seleção para agente penitenciário mostrou como funciona um dos tentáculos da máfia dos concursos. Para a PF, Hélio Ortiz trabalhava como articulador de profissionais escolhidos para fazer as provas no lugar dos concorrentes a cargos públicos. ;Ele devia estar arregimentando pessoas com conhecimento maior para oferecer aos candidatos. Mas é um caso pontual, não há indÃcio de que era uma fraude generalizada;, avaliou Rosetti. Segundo ele, o concurso organizado pela Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e Assistência (Funrio) não está comprometido.
Em busca de provas
Diante das informações, a PF foi à casa de Ortiz, no Guará. Queriam prendê-lo, mas não o encontram. O mandado de prisão acusa-o de estelionato, falsificação de documento público e uso de documento falso. Após mais de três horas na residência onde ele mora com a famÃlia, na QE 15, apreenderam uma vasta papelada. A polÃcia vai analisar os documentos em busca de comprovantes de inscrição de outros candidatos e provas que liguem o acusado ao crime. Não foi encontrado material para falsificação de documentos.
Os agentes federais ainda procuraram Ortiz em uma chácara no Setor de Mansões do Park Way, onde também não o localizaram. O chefe da Delegacia de Repressão de Crimes Fazendários, Júlio César Fernandes, responsável pela operação da manhã, acredita que não há envolvimento de outras pessoas na fraude. Mas a análise dos documento ajudará a PF na busca de evidências que revelem a participação de mais envolvidos na compra e venda de provas. ;A princÃpio, não tem indÃcio de quadrilha ou de um grupo trabalhando junto;, disse Fernandes.
O comerciante de Taguatinga preso em fevereiro está em liberdade provisória. O professor de matemática continua detido na PF. O processo seletivo do Depen abriu 656 vagas de agente penitenciário federal, função que exige nÃvel médio e tem remuneração de R$ 4 mil. Quem tiver informações sobre Ortiz ou tiver sido lesado por ele pode entrar em contato com a PolÃcia Federal. O telefone é 3799-9503. A PF desconfia que Ortiz tenha fugido logo após a prisão dos fraudadores do concurso do Depen.
Entenda o caso Denúncia em 2005 O ex-técnico judiciário Hélio Garcia Ortiz e outras 29 pessoas foram denunciados à Justiça Federal por estelionato, falsidade ideológica e fraude em licitações. A quadrilha, que se especializou em fraudar concursos públicos, começou a ser desarticulada em 22 de maio de 2005, na Operação Galileu, da PolÃcia Civil. A ação prendeu 103 pessoas durante a aplicação da prova para agente penitenciário do Ministério da Justiça. As investigações do caso revelaram que um dos concursos que sofreu a ação da quadrilha foi o realizado pelo Tribunal de Justiça do DF, aplicado em 2003 pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe) da Universidade de BrasÃlia (UnB). O processo continua em tramitação. Os acusados começaram a prestar depoimento em 2005 e a previsão era de que o processo fosse encerrado em 2006. Apesar da demora, a presidência do Tribunal de Justiça afastou os 16 funcionários sob suspeita de participação na fraude, inclusive Hélio Ortiz, apontado como o lÃder do grupo.
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