postado em 06/03/2009 08:00
Maria Antônia do Nascimento tem 84 anos e sofre de diabetes crônica. Ao longo dos últimos 10 anos, ela perdeu a visão, parte da audição e a capacidade de andar sozinha. Maria Antônia mora em Planaltina com a filha, a dona de casa Maria do Nascimento Albuquerque, 66, que sempre tomou conta da mãe. Em todos os surtos da doença, era a filha quem pedia ajuda aos vizinhos para levar Maria Antônia ao hospital. A situação causava desgaste tanto para a paciente quanto para os familiares dela, mas foi superada com a criação, no Hospital Regional de Planaltina, do Núcleo Regional de Atenção Domiciliar, em 2003. Assim como Maria Antônia, atualmente, 1.046 pacientes recebem tratamento em casa no DF.
Desde que uma equipe médica passou a visitar periodicamente a casa de Maria Antônia, os problemas da paciente diminuÃram. Ela não precisou mais ser internada ou visitar o hospital, o que deixou a filha aliviada. ;As visitas do médico melhoraram muito a minha vida. Ainda enfrento dificuldades para cuidar da minha mãe, que precisa de atenção constante. Vivo para cuidar dela. Gostaria de ter ajuda de alguém;, disse Maria do Nascimento, que aproveita as consultas dos médicos para checar a própria saúde. ;Gosto deles. Os doutores acompanham minha famÃlia desde que meu pai, que morreu no ano passado, ficou ruim por conta de um problema no pulmão. Eu sou a próxima de quem eles devem cuidar;, brincou a dona de casa.
O serviço de atendimento domiciliar em Planaltina existe desde a década de 1990, quando foi criado em Sobradinho. Mais conhecido pelos pacientes como Samed (Serviço de Atendimento Multiprofissional em DomicÃlio), por meio dele, as equipes médicas vão até as casas dos doentes com problemas crônicos de saúde ou que tenham dificuldades extremas para se locomover. Os médicos checam a saúde dos enfermos e fornecem todo o material necessário para o tratamento da doença, inclusive camas hospitalares e aparelhos de respiração. ;Podemos até montar uma miniunidade de terapia intensiva, se for o caso;, detalhou o médico MaurÃcio Neiva Crispim, coordenador do Núcleo Regional de Atenção Domiciliar de Planaltina.
Doentes crônicos
No começo, as equipes médicas eram formadas por profissionais voluntários e, aos poucos, o programa ganhou corpo. ;Lembro que, na época, tinha mais de 50 leitos ocupados por doentes crônicos que poderiam muito bem ser tratados em suas casas;, ressaltou Crispim. Hoje, o serviço pode ser encontrado nos hospitais públicos de Sobradinho, Planaltina, Asa Norte, Gama, São Sebastião e Guará. Em Taguatinga, Ceilândia e Paranoá, o programa está em fase de implantação. A intenção da Secretaria de Saúde é de que todos os 15 centros hospitalares do Distrito Federal ofereçam o serviço até o fim do ano.
Só o Hospital de Planaltina atende atualmente 306 doentes divididos em duas categorias: os que necessitam de atenção domiciliar e os que precisam de internação domiciliar. ;Atendemos muitos pacientes em estágios terminais, principalmente de câncer, e que precisam de uma assistência mais direta. Todo tratamento, até a morte do enfermo, é feito dentro de casa, junto da famÃlia e dos amigos. Como ocorria no passado;, revelou o médico.
;O atendimento em casa também humaniza o serviço. O doente deixa de ser mais uma ficha, número ou prontuário a ser checado no hospital e passa a ser uma pessoa. A relação do médico com o paciente é facilitada e os enfermos, em seus ambientes familiares, podem se recuperar mais rapidamente;, argumentou Crispim. Uma pesquisa interna feita no hospital demonstrou uma resposta positiva ao atendimento domiciliar. Mas o médico ressalta que o serviço não seria bem-sucedido sem o auxÃlio dos cuidadores, parentes ou amigos dos pacientes, que se encarregam de levar adiante o tratamento estabelecido pela equipe médica.
Derrames
A maioria dos pacientes que recebem assistência domiciliar sofre com doenças cerebrovasculares, resultantes de derrames. Outros casos comuns são de enfermos com câncer em estágios terminais, paralisia e doenças crônicas das vias aéreas, como a bronquite e enfisema pulmonar. De acordo com o tratamento, os pacientes também têm direito a receber semanalmente um kit de curativos ou de sondas. Os doentes com estado de saúde mais grave ainda podem receber em casa aparelhos respiratórios ; como no caso de Maria do Socorro Câmara, de 62 anos, que é diabética e sofre de bronquite crônica e enfisema pulmonar.
Maria do Socorro, que também mora em Planaltina, passa o dia ligada a um aparelho respiratório. A filha da aposentada, a dona de casa Márcia Câmara da Costa, 31 anos, precisa ficar constantemente de olho na mãe para garantir que ela não passe mal. Na avaliação dos médicos, trata-se de uma paciente que está melhor em casa do que estaria em um leito de hospital. ;Devido ao quadro dela, percebemos que se trata de uma pessoa muito suscetÃvel a infecções hospitalares. O atendimento domiciliar, nesse caso, chega a dar uma sobrevida para a paciente;, concluiu Crispim.
Fique atento Requisitos para o paciente ser aceito no programa de internação domiciliar » Pedir inclusão no programa na Regional de Saúde da sua cidade » Ter condição clÃnica comprometida e crônica » Apresentar dependência para realização de atividades rotineiras ou dificuldades de locomoção » Contar com um responsável que exerça a função de cuidador » Morar em local com condições adequadas de higiene, saneamento e segurança para a equipe médica Documentos necessários » Original da Identidade e do CPF do paciente e do cuidador » Comprovante de endereço » Relatório médico com diagnóstico recente » Cópia de receitas de medicamentos em uso » Cópia de biopsia (em caso de pacientes com câncer) » Cartão do Sistema Único de Saúde (SUS) Hospitais regionais que oferecem o serviço » Planaltina » Sobradinho » Gama » Asa Norte » São Sebastião » Guará
» Ãudio: ouça entrevista com o coordenador do Núcleo Regional de Atenção Domiciliar de Planaltina, MaurÃcio Neiva Crispim