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Zoológico: animais isolados para namorar em paz

Casais de araras, maracanãs e papagaios, raros e em risco de extinção, foram transferidos para um recinto especial. Eles estão afastados de outros animais na expectativa de que a maior tranquilidade ajude na reprodução

postado em 11/03/2009 08:10
O Jardim Zoológico de Brasília isolou em um novo recinto três espécies de aves ameaçadas de extinção, numa tentativa de conseguir que elas se reproduzam em cativeiro. Um casal de araras-de-testa-vermelha, dois casais de maracanãs verdadeiras e um casal de papagaios-anacãs ; todos alvos preferenciais de traficantes de animais ; foram transferidos para um viveiro próximo ao lago artificial do zoo, uma área mais tranquila e espaçosa do que o recinto central, onde costumavam ficar. Com a mudança, as aves, que podem ser as últimas de suas espécies em exposição na capital, ganham destaque e podem ser observadas com mais atenção. Entre as aves separadas pelo zoológico, o casal de araras-de -testa-vermelha é o mais raro. ;Eles estão na lista vermelha do IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza, na sigla em inglês);, conta Sergei Quintas Filho, da coordenação da Curadoria de Aves do Zoológico. De acordo com a classificação da IUCN, a espécie exótica (inexistente no Brasil) está ;em perigo; ; a segunda pior possível. Isso significa que, nos últimos 10 anos ou três gerações (o que for mais longo), a população dessas araras sofreu uma redução de 50% a 80%. Estima-se que existam apenas de 1 mil a 4 mil espécimes em todo o mundo. ;Nosso foco, neste ano, é a reprodução desses espécimes;, diz Sergei. Para o biólogo, uma postura (fase em que a ave põe o ovo) já seria bastante celebrada, porque a reprodução entre animais em exposição é difícil de acontecer. ;Eles precisam de silêncio total para se reproduzir. Numa área de visitação, isso é complicado. Mas aqui, no novo viveiro, eles têm mais espaço, mais umidade (por estarem perto do lago artificial) e mais tranquilidade do que junto das outras aves;, explica Sergei. O zoológico planeja um estudo de campo para analisar o comportamento das aves e auxiliar a reprodução no que for necessário. No mesmo recinto das araras, mas separados por redes (para evitar competição e brigas), estão o casal de papagaios-anacãs e os dois casais de maracanãs- verdadeiras. Dois dos quatro maracanãs chegaram ao zoológico em 2007 e 2008, depois de serem apreendidos durante operações do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na Bahia. A plumagem colorida é um dos principais atrativos dessas aves para os traficantes de animais silvestres. No mercado legalizado, um papagaio pode chegar a R$ 13 mil, e o preço tende a subir em proporção inversa à quantidade de espécimes existentes. Dos 50 mil animais silvestres apreendidos anualmente pelo Ibama, 95% são aves. O número de apreensões no Brasil se mantém o mesmo há alguns anos, mas isso não significa que o tráfico esteja estável. ;Ele tem aumentado, mas a coibição e a fiscalização também cresceram. Por questão da cultura dos cidadãos, também tem crescido a quantidade de denúncias;, diz o analista ambiental Anderson do Valle, do Ibama. Segundo ele, 40% das denúncias recebidas estão ligadas ao tráfico de animais (a Linha Verde do Ibama, utilizada para denúncias, é o telefone 0800-61-8080). Extinção Como as aves foram transferidas para o novo recinto na última sexta-feira, elas ainda passam por um processo de adaptação. As araras e os papagaios vêm sendo alimentados com uma mistura de frutas e sementes, mas isso deve mudar nos próximos meses. ;A intenção é alimentá-los com ração, porque as frutas fermentam ao longo do dia e podem prejudicá-los;, diz Sergei. A Curadoria de Aves do Zoológico estuda utilizar um segundo recinto atualmente desocupado para repetir o expediente com outras aves ameaçadas de extinção. ;Temos um casal de ararajuba, cuja espécie o Ibama menciona na lista de animais ameaçados;, diz Sergei. Uma fêmea de arara-canindé-verdadeira e dois casais e uma fêmea de araras-azuis, também em risco, podem se mudar para o recinto desocupado, mas o zoológico depende de verbas que ainda não existem.

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